Globo
Ancine – Agência disfuncional
A julgar pela entrevista dada ao Globo (15/5/2013), o diretor-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, não está atento à anomalia originária e à disfuncionalidade da organização que preside, muito menos à insatisfação generalizada no meio cinematográfico com a atuação da Ancine.
A julgar pela entrevista dada ao (15/5/2013), o diretor-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, não está atento à anomalia originária e à disfuncionalidade da organização que preside, muito menos à insatisfação generalizada no meio cinematográfico com a atuação da Ancine.
Considerando a desastrada intervenção promovida na Cinemateca Brasileira pela Secretaria do Audiovisual, ao indicar Manoel Rangel para um terceiro mandato de quatro anos, o governo da presidenta Dilma Rousseff confirma sua vocação para iniciativas erráticas – de um lado, demite sem necessidade, provocando crise prejudicial a uma instituição de excelência; de outro, mantém o mesmo diretor-presidente quando poderia substituí-lo e reformar a Agência, evitando a formação de feudos de poder e permitindo saudável e democrática renovação depois de oito anos. Em situações estratificadas como essa, sangue novo poderia ser uma alternativa para romper o imobilismo.
A Ancine tem marca de nascença que a tornou disfuncional – a de ser, ao mesmo tempo, reguladora e fomentadora da atividade audiovisual. Na prática, são funções incompatíveis, que comprometem a autoridade moral e política da Agência, incumbida de fomentar a atividade de produtores e empresas brasileiras e, ao mesmo tempo, regular o setor audiovisual como um todo, envolvendo os interesses muitas vezes antagônicos de distribuidores de filmes estrangeiros e emissoras de televisão.
Na entrevista ao , Manoel Rangel deixa claro uma das principais anomalias da sua gestão – a de ter procurado se moldar ao mercado, em vez de buscar formas de tornar equitativa a competição do filme brasileiro com o estrangeiro. “[…] desde o momento que cheguei à Ancine, nosso esforço foi procurar alinhar a agência” à grande transformação no mercado audiovisual em curso, declara Rangel. Propósito de adaptação que só não é desconcertante, vindo de um ex-dirigente estudantil secundarista, eleito, em 2009, para o comitê central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), por que corresponde ao movimento conservador – do sindicalismo e da esquerda armada para o reformismo social-democrata – feito pelo ex-presidente Lula e pela presidenta Dilma Rousseff.
Na parte final da entrevista, reservada para abordar os filmes brasileiros que vêm sendo produzidos, o ecletismo professado por Manoel Rangel omite a contradição entre, de um lado, uma Agência cada vez maior, com mais recursos e funcionários, e de outro um setor produtivo descapitalizado, fazendo filmes brasileiros subsidiados, em seu conjunto, pouco expressivos. O diretor-presidente revela, além disso, a debilidade e inoperância da Ancine diante das empresas que dominam, de fato, o mercado. Homem de ferro 3 não deve ter perdido um minuto de sono por que a Agência considera “um problema”, como afirma Rangel, ter ocupado, ao estrear, metade das salas do País.
Não há por que considerar o gigantismo da Ancine, sua disfuncionalidade, morosidade e a burocratização de sua atividade como sendo imprescindíveis, muito menos benéficas para o cinema brasileiro. E é um mau presságio que a entrevista inaugural do terceiro mandato de Manoel Rangel passe ao largo dessas questões.
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