ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2014
Inventor de subcelebridades
Chama o TV Fama!
Carol Pires | Edição 92, Maio 2014
O assessor de imprensa Cacau Oliver dormia em seu apartamento, em Moema, na Zona Sul de São Paulo, quando recebeu a chamada de uma cliente. Como podia ser uma questão de saúde, um caso de urgência, ele decidiu atender. O palpite não estava de todo errado. “Alô? Cacau? Estou na UTI”, sussurrou a voz do outro lado da linha. “Chama o Fama!”
Oliver é uma espécie de João Santana das subcelebridades. Mas enquanto o marqueteiro baiano cria reputações políticas e já elegeu seis presidentes, incluindo Lula, Dilma e Hugo Chávez, Cacau constrói carreiras públicas para mulheres que sonham em figurar em sites como Ego e O Fuxico. São invenções dele a vice-Miss Bumbum Andressa Urach, a vencedora de A Fazenda 4 Joana Machado, a DJ e modelo Sabrina Boing Boing, a “Peladona do Bush” e outras moças que prezam indumentárias igualmente reduzidas.
Oliver nasceu no Maranhão, começou a estudar contabilidade em São Luís e turismo em Brasília, mas acabou se formando jornalista em São Paulo. Seu primeiro emprego na capital paulista foi como produtor de uma empresa que agenciava eventos com a “Banheira do Gugu”. Nesse quadro, exibido nos anos 90 no Domingo Legal, do SBT, subcelebridades de biquíni como as dançarinas do É o Tchan caçavam sabonetes numa banheira enquanto eram contidas por figuras do quilate de Latino. “Lembro até hoje, ganhava 400 reais por mês”, disse Oliver, fazendo cara de desgosto. “Que ódio!”
Aos 35 anos, com olhos cor de mel, cabelos escuros bem curtos e bocão tipo Cauã Reymond, o fabricante de subcelebridades faz o estilo metrossexual. Depois de trocar o nome Ivo por Cacau e reduzir o sobrenome Oliveira para Oliver, passou a cobrar de cada aspirante ao sucesso 10 mil reais por três meses de trabalho. Antes de mais nada, ele procura saber em qual modelo de famosa elas se espelham. O ponto mais alto da carreira é ser apresentadora de tevê. Para alcançar a meta, querem invariavelmente participar de reality shows e ser capa de revistas masculinas. “Mas outro dia atendi uma que só queria vender merchandising no Faustão”, disse, com ar incrédulo. A falta de ambição não o convence – nem lhe convém. Quando elas começam a ganhar projeção e assinar contratos, ele fica com 30% dos lucros.
Em 2007, Oliver foi contratado pela dançarina Janaina Bueno. Na época, os jornais estavam às voltas com a visita ao Brasil do então presidente George W. Bush. O assessor teve a ideia de mandar sua cliente para a porta do hotel dele, praticamente nua, envolta numa bandeira do Brasil. No local em que ia passar o mandatário americano, Janaina surgiu lépida em meio ao batalhão de repórteres – loira e siliconada, de calcinha verde, touca do Brasil e a frase “Fora Bush” escrita na barriga negativa.
A notícia da prisão da dançarina saiu em todos os jornais. “Só foi levada para a delegacia e liberaram na mesma hora”, contou Oliver. Três meses depois, estava na capa da Sexy, apresentada como “a Peladona do Bush”. Não foi um fato isolado. O produtor estima ser o profissional do ramo que mais emplacou capas de revista masculina no Brasil – pelas suas contas, foram 116 clientes com destaque na Sexy (mas nenhuma na Playboy). No final daquele ano, Janaina Bueno ainda dava ibope. “Pelada do Bush quer experimentar vibradores em São Paulo”, noticiou um portal cinco meses após o falso protesto.
Em 2008, Oliver estava de férias em Paris quando uma ex-integrante do grupo Rebelde venceu um concurso mundial para eleger le plus beau derrière. Na hora teve o estalo de organizar um evento similar que apontasse o mais formoso traseiro do Brasil. Não hesitou em tirar da poupança o dinheiro que guardava para comprar um apartamento e organizou o Miss Bumbum Brasil, ao custo de 500 mil reais. O concurso teve 27 concorrentes – um par de nádegas para cada unidade da federação – e taxa de inscrição de 10 mil reais. O evento está na quarta edição e já ganhou versões nos Estados Unidos e Japão. No mesmo filão, Oliver criou também os concursos Cheerleaders Brasil, Gata do Interior, Gata do Paulistão e Gata da Copa. Não foram motivados por amor ao esporte. “Odeio futebol, eu gosto é de dinheiro.”
Numa tarde recente, Oliver recebeu uma mensagem que esperava há anos: Andressa Urach, sua principal cliente, assinaria um contrato com a Rede TV!. Além de vice-Miss Bumbum, a moça foi dançarina do Latino, duas vezes capa da Sexy e teve um caso com o jogador português Cristiano Ronaldo (o assessor a desaconselhou a confirmar a história para os tabloides ingleses). Previsivelmente, seu grande sonho é ser apresentadora – ela não se acanha em prever que será a próxima Hebe Camargo. Oliver citou um precedente para justificar por que acredita na moça. “A Eliana era do Banana Split”, disse, referindo-se à banda pop feminina que a apresentadora infantil integrou antes da fama. “Tem coisa mais trash?”
Assessorando Andressa, Oliver acabou ele próprio saindo na imprensa. No último Carnaval, levou um murro no pescoço quando foi se queixar que a loira não havia recebido o devido destaque num carro alegórico da escola de samba paulistana Tom Maior. A cliente não saiu na avenida, mas os dois saíram na capa dos sites de fofoca – ela chorando, e ele, de colar cervical. Mas Oliver odiaria ser famoso. “Como diz o Chaplin, as pessoas passam metade da vida buscando a fama e a outra metade fugindo dela.”
Comendo uma salada, o empresário contou que, para manter a sanidade mental trabalhando com meninas loucas pelos refletores, lê livros do Dalai Lama, faz ioga e corre todas as manhãs. Para aplacar as mais ansiosas, costuma dizer: “Você é linda, loira, vai dar tudo certo.” Mas não se constrange em afirmar o contrário às pretendentes nem tão bem apanhadas. “Recebo mensagem dizendo que querem me ver morto debaixo de um carro, que vão mandar fazer macumba para mim e para as outras meninas.” Oliver vê nas ameaças uma oportunidade de negócio. “Eu digo: pode fazer. Mas me passa o telefone da macumbeira, que eu já junto as duas, tiro foto e cobro a comissão.”