Campo de jogo
Campo de jogo – combinação letal
Geração, Juventude, Arsenal, Real Madrid, Lisboa, Ágora, União do Lins, Ladeira, Veteranos do Sampaio. Exceto os dois times que repetem nomes famosos, os dos demais escapam da banalidade. Apesar disso, Campo de jogo, dirigido por Eryk Rocha, não demonstra maior interesse por essa pequena manifestação de criatividade.
Geração, Juventude, Arsenal, Real Madrid, Lisboa, Ágora, União do Lins, Ladeira, Veteranos do Sampaio. Exceto os dois times que repetem nomes famosos, os dos demais escapam da banalidade. Apesar disso, , dirigido por Eryk Rocha, não demonstra maior interesse por essa pequena manifestação de criatividade. O espectador precisa esperar os créditos finais para tomar conhecimento desses nomes, apresentados junto com os dos atletas amadores que disputam lances com mais entusiasmo do que habilidade, em campo de terra batida próximo ao Maracanã, no campeonato de futebol da zona norte do Rio.
relega a segundo plano a maioria desses times de nomes tão expressivos, preferindo se concentrar apenas nos que disputam a final do campeonato – Geração e Juventude – , e usando as cenas gravadas dos demais apenas para pontuar a narrativa. Além disso, o documentário demonstra também pouco interesse pelo futebol.
A câmera de privilegia planos próximos e, em vários momentos, o ponto de vista de quem está participando do jogo, não o de quem assiste. Mais do que o futebol em si, o que atrai o olhar de Rocha e seus câmeras são os corpos e a fisionomia de torcedoras e torcedores, em sua imensa maioria mulatos e negros.
Esse fascínio turístico pela paisagem humana em torno do campo evoca os closes da torcida em Garrincha, alegria do povo (1963), feitos com teleobjetiva, na época um recurso inovador, mas hoje procedimento bem desgastado. O atração pelos corpos, por sua vez, remete à celebração da beleza física feita por Leni Riefensthal, em Olympia (1938), que também já se banalizou.
A tendência a estetizar o registro visual e sonoro, acentuado em através do uso da camera lenta, conjuga-se com a ausência de personagens individualizados e de qualquer busca de interação entre quem observa e quem é observado. O resultado é um documentário que se mantém à distância e exalta a cinestesia, sem revelar nenhum vínculo com as pessoas e o mundo que retrata.
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Na primeira sessão do dia de estreia de , quinta-feira passada (23/7/2015), ao receber o ingresso o bilheteiro avisa ao espectador que ele não precisa se preocupar em saber a fila e o número da sua cadeira por que não há mais ninguém na sala. Informação errada, como foi possível constatar instantes depois – já havia uma pessoa sentada na plateia. Outras três ainda chegariam antes do filme começar. Cinco espectadores, quatro com mais de 50 anos e um jovem, na primeira sessão do dia da estreia, dá o que pensar.
Além da parte de responsabilidade que cabe ao próprio filme, há sem dúvida outros fatores conhecidos, tão ou mais importantes, que contribuem para essa situação lamentável. Os termos desiguais da competição com o cinema estrangeiro no mercado interno, voltado para o entretenimento de massa, condenam por antecipação a maioria dos filmes brasileiros ao fracasso, independente das seus deficiências ou qualidades. Manifestações recorrentes de complacência crítica, por sua vez, como algumas que acolheram , são também uma combinação letal decisiva.
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