Napaul se queixava do ar de superioridade com que cidadãos brancos da Inglaterra, seu país de adoção, o tratavam. "Querem me vencer pelo desânimo; querem que eu saiba o meu lugar." FOTO: CHRIS STEELE-PERKINS_MAGNUM PHOTOS/LATINSTOCK
O exilado
O que V. S. Naipaul tem a ensinar aos escritores da periferia
Alejandro Chacoff | Edição 122, Novembro 2016
Em 2008, durante um festival literário na Jamaica, o célebre poeta caribenho Derek Walcott fez uma pausa antes de ler o último poema do dia. Com a voz já um pouco rouca e gasta, hesitante, ele disse à plateia que havia pensado muito se deveria declamar os versos que viriam a seguir. Era a primeira vez em que leria aquele texto em público. “Acho que vocês reconhecerão nele o senhor Naipaul”, revelou Walcott, arrancando alguns risinhos dos ouvintes. “Vou ser maldoso.”
O poema nunca foi publicado, mas arquivos de áudio circulam pela internet. Em sua voz hipnótica, Walcott, famoso por Omeros, um poema épico inspirado na Ilíada, presta-se a um objetivo bem menos edificante: o de destruir seu rival literário. “Eu fui mordido, devo ter cuidado e evitar a infecção, pois senão estarei tão morto quanto Naipaul e a sua ficção.” Esse verso de abertura é dos mais gentis. Nos quase cinco minutos de narração que se seguem, Walcott ataca Naipaul por todos os flancos.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
ASSINELeia Mais