Estudos Históricos
Glorificar ou compreender
Em artigo publicado na revista Estudos Históricos, Fernando Seliprandy Fernandes analisa duas dimensões de documentários brasileiros recentes que nomeia como, de um lado, “amplitude monumental” e, de outro, “foco íntimo”. Os dois filmes aos quais faz referência são Hércules 56 (2006), de Sílvio Da-Rin, e Diário de uma busca (2010), de Flavia Castro.
Em artigo publicado na revista Estudos Históricos, Fernando Seliprandy Fernandes analisa duas dimensões de documentários brasileiros recentes que nomeia como, de um lado, “amplitude monumental” e, de outro, “foco íntimo”. Os dois filmes aos quais faz referência são Hércules 56 (2006), de Sílvio Da-Rin, e Diário de uma busca (2010), de Flavia Castro.
Sem propor uma tipologia, Fernandes não deixa de indicar que nenhum dos dois filmes é um caso isolado, sendo possível relacioná-los a outros títulos, brasileiros e latinoamericanos, facilmente agrupáveis em celebrações do passado ou, nos seus termos, “amplitude monumental", e reconstituições da intimidade que indicam uma “permanência da lacuna”.
A análise de Fernandes abre um horizonte de reflexão fértil sobre o cinema brasileiro e poderia ser desenvolvida. Fica aqui um apelo para que ele cumpra essa tarefa que iluminará um dos percursos dos filmes das últimas décadas e poderá clarear alternativas que se apresentam para o futuro.
A tendência a glorificar o passado, equivalente ao que Fernandes chama de “amplitude monumental”, não é, porém, fenômeno exclusivo do cinema brasileiro, podendo ser identificado, por exemplo, em Libertem Angela (2012), de Shola Lynch, exibido recentemente no Festival do Rio.
Entre a cabeleira black-power do início da década de 1970 e as marcas do tempo visíveis no rosto atual de Angela Davis, é nítida a preferência de Lynch pela glorificação do passado, em detrimento da tentativa de entender quem é a mulher cuja expressão sofrida vemos quarenta anos depois apenas em intervenções fugazes. Libertem Angela não passa de mais um filme de tribunal, gênero americano rotineiro e consagrado, em que tudo se resume à expectativa do veredito.
Em contexto diverso, é possível lembrar de A imagem que falta (2013), reflexão íntima de Rithy Panh também exibida no Festival do Rio. Nada mais distante da glorificação do passado do que os filmes de Panh que procura compreender o que ocorreu, sabendo, como o título indica, haver uma lacuna que não conseguirá completar. Referindo-se a um de seus filmes anteriores – S21, a máquina de morte do Khmer Vermelho (2002) – Panh disse que “tenta entender” quem é o carrasco, não lhe cabendo julgá-lo por “não ser o procurador geral”.
Integrando o campo do “foco íntimo” entre nós, Laura (2011), de Fellipe Gamarano Barbosa, chega agora à tela grande do circuito comercial, depois de uma marcha triunfal por festivais mundo afora. Primeiro, a partir do dia 18, no Instituto Moreira Salles – RJ. Depois, no Circuito Espaço, também em outras cidades além do Rio, a partir do dia 1º de novembro.
Laura é um filme excepcional, como Diário de uma busca e Elena, todos três “focos íntimos”, mas cada qual com características próprias que os diferenciam um do outro. O traço que os une não tolhe suas respectivas originalidades, sendo que no caso de Laura a misteriosa personagem principal é retratada em ação, no presente, enquanto os filmes de Flávia Castro e Petra Costa são voltados para o passado.
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