Com vandalismo
Jornada, catracas e vandalismo – um ano depois (II)
A vinheta de abertura de Com vandalismo é impactante. Realizado pelo coletivo Nigéria Audiovisual e disponível no YouTube, o documentário começacom “2 Izzqueiros” escrito em maiúsculas pretas sobre fundo branco. A essa legenda segue-se música e um lagarto comendo uma minhoca até surgir em fade “Nigéria FILMES” superposto à imagem, também em caixa alta, a primeira palavra em letras verdes, a segunda em vermelho. Isso, em 22 segundos.
Depois um instante de tela preta, o volume da música aumenta, surge a imagem fixa de um carro em chamas e começa a narração em off sem eloquência:
“Junho de 2013. O Brasil entrou em um dos momentos mais enigmáticos de sua história. Assim como os eventos no Egito e na Turquia, o País reuniu milhões de pessoas nas ruas.”
A vinheta de abertura de Com vandalismo é impactante. Realizado pelo coletivo Nigéria Audiovisual e disponível no YouTube, o documentário começacom “2 Izzqueiros” escrito em maiúsculas pretas sobre fundo branco. A essa legenda segue-se música e um lagarto comendo uma minhoca até surgir em fade “Nigéria FILMES” superposto à imagem, também em caixa alta, a primeira palavra em letras verdes, a segunda em vermelho. Isso, em 22 segundos.
Depois um instante de tela preta, o volume da música aumenta, surge a imagem fixa de um carro em chamas e começa a narração em off sem eloquência:
“Junho de 2013. O Brasil entrou em um dos momentos mais enigmáticos de sua história. Assim como os eventos no Egito e na Turquia, o País reuniu milhões de pessoas nas ruas.”
Durante esse texto, aos poucos é revelado mais da imagem do carro pegando fogo.
“As manifestações tiveram diferentes motivos e resultados. O ponto em comum, a separação dos manifestantes entre pacíficos e vândalos. Divisão propagada pela imprensa e governantes depois de várias manifestações resultarem em confronto com a polícia.”
De outro ângulo, vemos um mascarado de punho erguido diante do mesmo carro.
A cor dessas imagens e da sequência seguinte ora é saturada, ora toda em preto e branco e câmera lenta, ora contém áreas colorida.
Caído na calçada, de tênis e jogging, uma pessoa encoberta por fumaça, parece ter acabado de ser atingida por uma bomba de gás.
“Vândalos, segundo a grande imprensa brasileira, são pessoas sem motivações políticas. Que depredam patrimônio público, carros de veículos de comunicação e atacam a polícia com o simples objetivo de estabelecer o caos.”
Um ônibus é atacado por um grupo de umas quinze pessoas. Uma placa enorme anunciando uma obra é derrubada. O carro em chamas é visto de longe, com uma nuvem de fumaça negra se erguendo. Um homem solta um morteiro numa rua vazia. Mascarados jogam pedras. Seguem-se imagens de manifestantes correndo. Ao longe vê-se a polícia perfilada.
“Vândalos, seriam uma minoria infiltrada, baderneiros, bandidos.”
Um pequeno botijão de gás soltando fumaça. Um rapaz joga uma pedra em policiais a cavalo ao longe.
Por causa disso, não merecem ser escutados. Seriam esses manifestantes sem propósito?”
Várias bombas de fumaça. Manifestantes correm. Imagem tremida.
“Qual a motivação para a desobediência civil? Resolvemos acompanhar de perto os conflitos e os chamados ‘vândalos’”.
Esse prólogo dura 1 min 43 seg e é seguido do título COM VANDALISMO, em maiúsculas brancas sobre fundo preto, vazadas sobre imagem em forma de nuvem de fumaça, passando-se a ouvir junto com a música manifestantes gritando “Sem vandalismo! Sem vandalismo! Sem vandalismo!…” e, em seguida, “Amanhã vai ser maior! Amanhã vai ser maior! Amanhã vai ser maior!…”.
Até esse momento, passaram-se apenas 2 minutos do filme. É uma bela, eficaz e sintética abertura que deixa claro qual o propósito de Com vandalismo. Ao contrário do que o título pode sugerir, não pretende exaltar, nem condenar, manifestantes que recorrem à violência, partindo do pressuposto que, ao contrário da opinião dominante, merecem “ser escutados” e que eles “têm propósitos”. Essa é a oportunidade que o documentário lhes oferece, com notável equilíbrio, sem qualquer sectarismo ou medo de fazer perguntas incômodas.
A partir da abertura, Com vandalismo alterna depoimentos de manifestantes de correntes variadas – uns pacifistas, outros adeptos da violência, alguns deles com o rosto encoberto, todos denunciando a violência da polícia – e narração em off, acompanhando imagens das quatro manifestações, ocorridas entre 19 e 27 de junho, nos arredores da Arena Castelão, em Fortaleza, Copa das Confederações. No primeiro dia, torcedores do Brasil e do México, a caminho do estádio, são obrigados a passar por um estreito corredor formado entre um muro e manifestantes.
A seguir, o batalhão de choque bloqueia a multidão com seus escudos. Ouvem-se bombas de gás explodindo e tiros de bala de borracha. Colhidos no calor da hora, alguns em off, os depoimentos fogem do padrão usual dos testemunhos formais de especialistas e autoridades, colhidos a posteriori na tranquilidade e conforto de interiores isolados do mundo. O aumento da violência policial fica patente, incluindo um tiro de bala de borracha no rosto de um integrante da equipe de gravação.
No dia seguinte, uma manifestação estudantil, segundo uma menina participante é feita “contra o vandalismo e a violência dos policiais. Por que ontem foi um absurdo. Pessoas ajoelhadas e sentadas levando gás lacrimogênio na cara”. À pergunta, feita em off, se o vandalismo é dos manifestantes ou dos policiais, a mesma menina responde: “O vandalismo vem das duas partes, mas os pacifistas são maioria.” A palavra de ordem entoada nesse dia é “Sem vandalismo! Sem vandalismo!”
Para outra menina, “vândalo é o Estado que deixa a gente esperando na fila do SUS, deixa a gente sem escola, entendeu? Vândalo é [sic] eles.”
Um rapaz grita: “Vândalo não nos representa! Vândalo não nos representa!
Para outro, usando máscara contra gás, carregando um escudo e vestindo um casaco com capuz, depois de contar que na véspera haviam derrubarado “a primeira barreira da PM indo pro Choque só que o movimento não tinha força suficiente pra fazer o Choque recuar até o Castelão.”
Seguindo em direção ao Palácio do Governo, os manifestantes chegam até uma barreira policial e se veem diante de duas alternativas: formar uma comissão para falar com o governador ou ocupar o Palácio.
Com vandalismo, mais do que outros documentários sobre as jornadas de junho de 2013, deixa claro os impasses que tornaram frágeis os manifestantes de Fortaleza – principalmente a falta de liderança e de unidade. A divergência frontal entre os que são a favor ou contra o chamado “vandalismo” fica clara.
Alguns manifestantes chegam a dominar e entregar à polícia um menino adepto da violência, protestando, em seguida, pelo fato dele ter sido espancado pelos policiais. “Tem que prender, não ficar espancando”, alegam.
Mais de 60 pessoas foram detidas nesse dia, entre elas 13 adolescentes, informa a narração. As imagens mostram os detidos caminhando na calçada, levados em fila pela polícia, com os mãos na cabeça. (cont.)
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