Quanto vale um Oscar no Brasil?

1-8-2-15-3-20.

Esse é o preço pelo qual há semanas já era possível comprar os principais concorrentes ao Oscar em cópias de boa qualidade, legendadas em português. A origem de algumas, inclusive, é fácil comprovar. São duplicatas dos DVDs enviados aos membros da Academia para assistirem e darem seu voto. De nada adiantou a advertência, feita através de uma legenda antes do filme começar, de que “você é pessoalmente responsável por este disco e seu conteúdo. Esta cópia tem uma marca d’água digital para identificá-la. Não empreste, alugue, venda, dê ou repasse para outra pessoa por qualquer razão.”

As barracas dos camelôs se multiplicam pelas calçadas, em frente a cinemas nos quais um ingresso custa em torno de 28 reais. Por esse preço era possível comprar três finalistas ao Oscar e ainda economizar 8 reais.

Por mais que a magia da sala escura persista, não há como competir com a pirataria. Para o cinéfilo, assistir a filmes inéditos, aos quais a imprensa dedica páginas inteiras há meses, por um terço do preço é irresistível.

1-8-2-15-3-20.

Os números são ditos sem pausa, em cadência regular e tom monocórdio. Para não iniciados, num primeiro momento, é difícil entender do que se trata. Parecem mais um estranho número de telefone ou uma senha. O camelô tem pressa, poupa energia e quer vender a maior quantidade de DVDs possível.

É um por oito, dois por quinze, três por vinte transforma-se em 1-8-2-15-3-20.

O Oscar está valendo pouco no Brasil. À luz do dia, os ambulantes trabalham livremente e pedem para não serem fotografados. Publicidade é mau negócio para eles, explicam. Chama atenção e pode suscitar a ação da polícia.

1-8-2-15-3-20 é quanto vale um Oscar na rua movimentada da metrópole.

*

No post de 10 de novembro passado, a respeito de escrevi que “a Academia costuma ser sensível a sucessos nessa escala, ainda mais quando dotados de certo verniz intelectual. Oscars parecem mesmo estar no horizonte.” Na época, tendo sido produzido por 4 milhões de dólares, o filme já rendera 43 milhões. Hoje, sua renda subiu para 44 milhões e é um dos dois favoritos, junto com Birdman, para receber o Oscar de melhor filme.

Se o resultado comercial for mesmo um critério, American Sniper deveria aparecer entre os favoritos, o que não é o caso. Poderá ser o azarão da noite? Produzido por 58.8 milhões de dólares, já rendeu 406.2 milhões em pouco mais de 2 meses. A controvérsia sobre o filme, com críticas duras ao suposto belicismo, pesarão contra suas possibilidades de ser premiado? Saberemos daqui a pouco.

Sobre Ida, escrevemos em janeiro (5 de janeiro de 2015) que “ainda mais do que a consagração crítica tem peso decisivo no favoritismo ao Oscar o fato [do filme] ser, nos últimos 25 anos, o maior sucesso de bilheteria nos Estados Unidos de um filme polonês inteiramente filmado na Polônia. Produzido por $1800 mil dólares (cerca de R$ 4.800.000), já rendeu só no mercado norte-americano $3.700.000 dólares (cerca de R$ 9.800.000). Hoje, Ida divide seu favoritismo ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira com Leviatã (19 de janeiro de 2015) que, se vencer, terá se beneficiado de seu forte antissovietismo.

*

Domingo, 22 de fevereiro de 2015. 23h15min

Ida acaba de ser anunciado como vencedor do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, confirmando seu favoristismo e a previsão feita neste blog.

Às 2h10min da madrugada, depois de três horas e quarenta minutos, Birdman confirmou seu favoritismo, fazendo de o preterido da noite e ficando com Grande Hotel Budapeste o posto de segundo filme mais premiado da noite.

Citizenfour, de Laura Poitras, ainda não lançado no Brasil, também confirmou seu favoritismo ao receber o Oscar de documentário de longa-metragem.