Bastidores da notícia
Uma boa pedida para quem gosta de textos saborosos sobre ciência e tem facilidade para ler em inglês é o site The Open Notebook [Caderno Aberto], que completou um ano na semana passada. A publicação reúne uma série de entrevistas em que jornalistas de ciência contam detalhes sobre como foram feitas algumas de suas melhores reportagens e revelam detalhes dos bastidores da apuração.
Uma boa pedida para quem gosta de textos saborosos sobre ciência e tem facilidade para ler em inglês é o site [Caderno Aberto], que completou um ano na semana passada. A publicação reúne uma série de entrevistas em que jornalistas de ciência contam detalhes sobre como foram feitas algumas de suas melhores reportagens e revelam detalhes dos bastidores da apuração.
Um exemplo recente é uma conversa com Adam Rogers, editor da Wired, na qual ele conta detalhes da fascinante reportagem em que tenta desvendar o mistério dos fungos responsáveis por grandes manchas pretas nos prédios de uma cidadezinha canadense nas imediações de uma destilaria de uísque. Rogers escreveu uma peça envolvente de jornalismo investigativo, construída como uma história de suspense que revela passo a passo os procedimentos do micologista James Scott – “o Sherlock Holmes dos fungos” – na busca para elucidar a identidade dos microrganismos responsáveis pelas manchas.
Em entrevista ao jornalista de ciência Ed Yong, Rogers conta como surgiu a ideia para a reportagem e revela que não estava muito convencido de que tinha uma boa história em mãos até conversar com Rogers e com seus editores. Ele dá detalhes sobre a estrutura narrativa escolhida para o texto e descreve o desafio de construir uma matéria com ar de suspense a partir dos dois cadernos de notas que ele encheu ao longo de três dias inteiros que passou ao lado de Scott no Canadá.
O destaque fica por conta das reflexões de Adam Rogers sobre a conclusão um tanto anticlimática do texto: embora James Scott tenha conseguido identificar o fungo responsável pelas manchas (pertencente a um gênero desconhecido pela ciência até então), ele não conseguiu descrever o mecanismo responsável pelas manchas. Rogers conta que a ausência de uma solução definitiva perturbou seus editores, que decidiram publicar a reportagem apesar disso:
A reportagem tem um personagem adorável fazendo pesquisa interessante. O fato que ele não tenha caracterizado biologicamente o fungo que é sua obsessão é na verdade uma conclusão atormentadora. Isso significa que ele precisa fazer mais. Ele nunca vai chegar ao fim. Nunca vai parar de trabalhar nisso, e é isso que a ciência tem de mais interessante no fim das contas. E faz algum tempo que temos tentado mostrar na Wired que as partes mais interessantes da ciência são aquelas que as pessoas ignoram. Quando você resolve algo, aquilo vira algo feito e morto. A ação está nas fronteiras da ciência, e Scott estava bem na fronteira. Havia ainda uma tragédia poética no fato de que ele provavelmente nunca vai descobrir o que procura, porque a forma como ele trabalha não é mais aquela que se adota hoje em seu campo de pesquisa.
A reportagem de Rogers – e seu making of – oferecem um belo exemplo dos fracassos e sucessos de que é feita a atividade científica rotineira. Mais exemplos podem ser encontrados no Open Notebook, que é tocado pelas jornalistas Jeanne Erdmann e Siri Carpenter e financiado em parte pela Associação Nacional dos Jornalistas de Ciência dos Estados Unidos.
O site oferece ainda uma série de recursos que podem ser muito úteis tanto a jornalistas quanto aos interessados pelos bastidores da notícia, com destaque para um banco de pautas em que repórteres consagrados compartilham as sugestões de matéria aceitas por publicações como Nature, Scientific American, New Scientist e The Economist, entre muitas outras.
(foto: Mario Alberto Magallanes Trejo)
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí