O dilema dos prêmios
Alguns grandes nomes das ciências naturais estão reunidos esta semana em Oslo para a entrega da terceira edição do prêmio Kavli, que celebra contribuições fundamentais em astrofísica, nanociência e neurociência. Como seu primo mais velho e prestigioso, o Nobel, o Kavli enfrenta um desafio: como a escolha de poucos pesquisadores pode refletir uma ciência cada vez mais coletiva?
Alguns grandes nomes das ciências naturais estão reunidos esta semana em Oslo, na Noruega, para a entrega do prêmio Kavli, que celebra contribuições fundamentais em três áreas de fronteira da pesquisa: astrofísica, nanociência e neurociência. Essa é a terceira edição da láurea, entregue a cada dois anos.
O prêmio foi batizado com o nome de Fred Kavli, filantropo americano de origem norueguesa que teve a iniciativa de criá-lo. No coquetel que ofereceu aos laureados no domingo, ele foi questionado por um colega sobre o motivo de escolha das três áreas contempladas pelo prêmio. Explicou que “são áreas que estudam as maiores, as menores e as mais complexas estruturas que conhecemos”.
Quando se fala no Kavli, é inevitável a comparação com o Nobel, o mais tradicional prêmio de ciência, que também é entregue na Escandinávia e oferece uma soma de vulto aos laureados – nas ciências naturais, ele é oferecido nas categorias física, química e fisiologia ou medicina.
Robert Conn, presidente da Fundação Kavli, responsável pela entrega do prêmio, evita compará-lo ao Nobel. Quando lhe perguntei se ele não temia que o Kavli ficasse à sombra de seu primo mais prestigioso, ele disse ver os dois como complementares. “O Kavli permite contemplar com mais frequência campos que cobrem grandes desafios da ciência”, continuou Conn, evocando o slogan que é difícil não ler como uma provocação: “oferecemos um prêmio de ciência para o século 21”.
Diferentemente do Nobel, que estipula um máximo de três ganhadores em cada categoria, o Kavli não tem um limite estipulado, mas nunca contemplou mais de três cientistas numa mesma categoria. “É como a Inglaterra, que não tem uma Constituição, mas segue costumes”, comparou Conn. “Mas nada impede que isso mude no futuro”, completou, lembrando que a escolha dos ganhadores é delegada pela Fundação Kavli a comissões de especialistas em cada área contemplada.
Em ambos os casos, a escolha de um número limitado de premiados é incapaz de refletir o caráter cada vez mais coletivo da ciência. As contribuições fundamentais envolvem um número cada vez maior de pesquisadores – a detecção recente do bóson de Higgs, para citar o caso mais emblemático, foi feita por uma colaboração de milhares de cientistas. Questionado sobre se prêmios de ciência no molde do Kavli não seria pouco apropriada para refletir esse quadro, Conn abriu um sorriso e deu a entender que não gostaria de estar no lugar dos responsáveis pela escolha do Nobel de Física. “Eles têm um grande problema pela frente”, disse. “Felizmente não contemplamos física de partículas”, completou, sem entrar em detalhes dos campos contemplados pelo Kavli.
A entrega dos prêmios Kavli acontece nesta terça-feira, 4 de setembro. Na segunda, os premiados, anunciados no mês de junho, fizeram palestras sobre suas descobertas para o grande público – mas suas contribuições são tema para outro post.
Estou em Oslo como parte de um grupo de oito repórteres de cinco continentes selecionados pela Federação Mundial dos Jornalistas de Ciência para participar da semana de eventos do prêmio Kavli, com uma bolsa oferecida pelo Ministério da Educação e Pesquisa e pela Academia Norueguesa de Ciências e Letras – sim, é uma mesma instituição para os dois campos, um modelo a ser copiado.
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