Onda da maconha respinga no Brasil
Defesa da legalização ainda é minoritária, mas cresce junto com movimento de liberação nos Estados Unidos
Desde o primeiro dia de 2018, os californianos podem dar suas baforadas recreativas legalmente. O mais populoso dos estados uniu-se a todos os seus vizinhos do litoral oeste norte-americano que já haviam legalizado ou descriminalizado o consumo da maconha, independentemente se para fins medicinais ou lazer.
É uma onda de opinião pública que passou por cima do trumpismo. Cada vez mais gringos apoiam a legalização: dois em cada três, segundo pesquisa Gallup de 2017. No Brasil, a maioria é contra a descriminalização, mas, a despeito da vaga conservadora nos costumes, os defensores da legalização da erva estão em alta: pularam de 20% para 32% da população desde 2012, segundo o Datafolha. Os dados sugerem influência norte-americana.
De 1995 a 2012, a proporção de quem defende que o consumo da maconha deixe de ser crime oscilou de 17% para 20% dos brasileiros. A variação de apenas três pontos percentuais em quase duas décadas não podia ser caracterizada como crescimento ou tendência. Estava dentro da margem de erro. Mas o salto de doze pontos nos últimos cinco anos é uma mudança significativa.
O impulso foi simultâneo ao início da legalização da maconha para fins recreativos nos Estados Unidos. Em 2012, Colorado e Washington se tornaram os dois primeiros estados a aprovarem leis legalizando a prática. Adultos com mais de 21 anos passaram a poder fumar – e tragar – sem se preocuparem com a polícia. Depois vieram Maryland (2014), Alasca, Oregon e Delaware (2015), Illinois (2016) e, mais recentemente, Nevada, Maine, Massachusetts e, finalmente, a Califórnia.
Pode ser coincidência que a mudança – ainda que minoritária – na opinião pública brasileira tenha começado no mesmo ano que a descriminalização da maconha ganhou força nos Estados Unidos. Mas parece improvável que seja mero acaso.
É também em 2012 que voltam a crescer as buscas pela palavra “maconha” no Google feitas a partir do Brasil. A curiosidade mais comum das pesquisas é sobre o ato de fumá-la, sobre a forma da folha e sobre os efeitos provocados. É sintomático que a busca no Google relacionada a maconha com crescimento mais expressivo nos últimos anos tenha sido sobre “marcha da maconha” – um movimento que advoga a descriminalização da cannabis.
As pesquisas de opinião pública sobre o tema no Brasil são muito mais rarefeitas do que nos Estados Unidos, o que torna mais difícil identificar se o movimento pela legalização está ganhando força ou desacelerando por aqui. Se sabemos o que os brasileiros pensavam sobre isso em 2012 e no fim de 2017, não há como saber o que aconteceu entre esses dois pontos no tempo.
Daí que fazer projeções no Brasil seja tão arriscado quanto frequentar uma boca de fumo. Mas não há como negar que há uma mão invisível movendo-se pela descriminalização. Os legisladores estaduais norte-americanos acompanham uma força de mercado. A indústria da maconha está bombando. Além do comércio em si e dos serviços associados, as economias dos locais que a legalizaram se beneficiam do turismo de quem vive onde a proibição ainda é a regra. Outra vitória do consumismo sobre o moralismo.
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