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O último amor de Kafka

| 01 set 2014_18h57
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Nos últimos meses de sua vida, Franz Kafka apaixonou-se por Dora Diamant, uma moça polonesa de 25 anos com quem viveu curtos períodos em Berlim, Praga e no sanatório onde morreu. Kafka sofria de tuberculose na laringe e morreu nos braços de Dora em junho de 1924.

A carta reproduzida nesta página comove por sua proximidade com a morte do grande escritor. Enviada em 1º de fevereiro de1924, faz parte da última dezena de cartas conhecidas escritas por Kafka no período final de sua vida. Internado em abril do mesmo ano, morreria em junho, com a deglutição de tal forma prejudicada que não podia ingerir qualquer alimento, nem sólido, nem líquido e morreu praticamente de fome e inanição (hoje, uma alimentação parenteral o teria salvado).

O amor de Kafka e Dora Diamant foi intenso e o relato da dedicação da moça a seu amante, quinze anos mais velho, é tocante. Dez anos após a morte do escritor, Dora, fichada pela Gestapo como comunista, perdeu as cartas e os manuscritos de Kafka que conservara, numa invasão de sua casa em 1933, quando foram confiscados todos seus papéis. Os estudiosos não perdem a esperança de reencontrar estes manuscritos, que podem estar na Polônia, fazendo parte de arquivos envolvidos numa complexa negociação com a Alemanha desde a queda da Cortina de Ferro.

A carta é dirigida ao declamador Ludwig Hardt, então muito popular em Berlim por suas leituras públicas de textos literários. Kafka recebera um telegrama de Hardt convidando para um desses espetáculos, mas diz que se mudou naquele mesmo dia e lamenta não poder comparecer (“tanta pena, tanta pena de não poder ir”), pois sente-se “doente e febril”, sem ter podido sair à noite em qualquer dia “desses quatro meses em que estou em Berlim”. Manda Dora em seu lugar, levando um convite para que Hardt o venha visitar em sua nova casa: “Uma certa senhorita Dora Diamant irá assisti-lo amanhã à noite e combinar sua visita”.

A carta foi conservada pelos descendentes da companheira de Hardt até o ano 2000, quando contataram a biógrafa de Dora, pois o texto a mencionava. A especialista quis adquirir a carta para um arquivo universitário alemão, mas a família preferiu vendê-la em leilão, quando foi comprada pelo atual detentor.

Colecionadores tendem a gostar mais de cartas assinadas com o nome completo, e não apenas com o primeiro nome ou as iniciais. Só talvez neste caso, a assinatura “K” seja até mesmo preferível, por remeter à famosa criatura do seu criador.

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