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O século de Lévi-Strauss

Claude Lévi-Strauss, geralmente considerado o maior antropólogo e um dos maiores intelectuais franceses do século XX, foi também uma figura importante para o Brasil. Aos 27 anos, em 1935, fez parte de um grupo de jovens professores franceses enviados à Universidade de São Paulo, e passou quase quatro anos na capital paulista. Logo se deixou fascinar pelo modo de vida dos indígenas do Mato Grosso e passou também longas temporadas estudando e convivendo com os Bororo e os Nhambiquara em suas aldeias. Seu trabalho no Brasil serviu de base para seu livro mais famoso, o hoje clássico Tristes Trópicos, publicado em 1955.

| 23 out 2012_13h02
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Claude Lévi-Strauss, geralmente considerado o maior antropólogo e um dos maiores intelectuais franceses do século XX, foi também uma figura importante para o Brasil. Aos 27 anos, em 1935, fez parte de um grupo de jovens professores franceses enviados à Universidade de São Paulo, e passou quase quatro anos na capital paulista. Logo se deixou fascinar pelo modo de vida dos indígenas do Mato Grosso e passou também longas temporadas estudando e convivendo com os Bororo e os Nhambiquara em suas aldeias. Seu trabalho no Brasil serviu de base para seu livro mais famoso, o hoje clássico , publicado em 1955.

Após sua partida, em 1939, Lévi-Strauss nunca mais quis voltar ao país. Perguntado a respeito, 34 anos mais tarde, em 1973, escreveu a um brasileiro: “Não, nunca voltei ao Brasil, e me dizem que São Paulo está irreconhecível. Uma estrada atravessa agora as regiões do Mato Grosso Ocidental que percorri a pé, a cavalo e de canoa. Talvez por essa razão eu hesite hoje em confrontar antigas e caras lembranças”. Doze anos mais tarde, em 1985, por ocasião da visita oficial do Presidente François Mitterrand ao Brasil, Lévi-Strauss aceitou fazer parte da comitiva, mas passou apenas poucas horas na cidade onde vivera e na qual sua velha casa já havia sido demolida.

Discreto, cordial, mas intimamente inatingível, Lévi-Strauss continuou uma carreira brilhante de professor e pensador, que não poderia deixar de ser coroada por sua eleição para a Academia Francesa, em 1973, honra maior para a Academia que para Lévi-Strauss.

A mensagem curta e pungente aqui reproduzida data do último ano de sua vida e foi escrita numa letra já muito tremida por alguém que escreveu com pulso firme até meados de sua nona década. A uma pessoa que lhe pedia sua opinião sobre um evento corrente, Lévi-Strauss, que já não respondia a quase nenhuma carta, escreve em 26 de setembro de 2008, dois meses antes de seu centésimo aniversário:

“Prezado senhor,

Com minha saúde gravemente prejudicada, estou hoje retirado do mundo, e este nada mais pode perguntar nem esperar de mim.

Lamento,

Claude Lévi-Strauss”

Um homem lúcido, à espera de uma morte que sabe próxima, após uma vida excepcionalmente plena, dificilmente poderia expressar melhor seu estado de espírito último.

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