A fera de Fellini

Federico Fellini é considerado por muitos o maior cineasta europeu da segunda metade do século XX, mas é menos sabido que começou sua carreira profissional aos 20 anos como cartunista, e que continuou a desenhar para seu próprio prazer por toda sua vida.

Seus cadernos ricamente ilustrados evocando sonhos foram muitas vezes eróticos publicados há dez anos em edição fac-similar, e renderam um livro fascinante com inúmeras aquarelas vigorosas de cores fortes.

Foram também realizadas nos últimos vinte anos diversas exposições de seus desenhos em todo mundo e vários outros livros foram publicados com parte de sua obra gráfica.

Fellini era muito generoso com seus trabalhos e frequentemente os presenteava a amigos, e é geralmente de coleções privadas que provém a maior parte dos desenhos publicados nos últimos anos.

Fellini manteve por décadas uma grande amizade com uma dubladora italiana chamada Solveig d’Assunta, que trabalhou com ele nas vozes de vários filmes, de “Amarcord” a “Casanova”. Fez para ela vários desenhos, muitas vezes francamente pornográficos, assim como alguns outros, mais publicáveis, como o que está reproduzido nesta página. Trata-se de um autorretrato do famoso diretor tentando domar uma imensa criatura eminentemente felliniana, que parece ameaçá-lo como um animal selvagem: uma loura de peitos enormes debruçada sobre um pobre pequeno Fellini, que tenta defender-se, como se fosse um domador de feras, com uma cadeira e um chicote. “Attenta” diz ele. “Stai attenta” (cuidado, toma cuidado).

Solveig decidiu deixar Roma pela Espanha há cerca de dez anos e vendeu os desenhos recebidos de Fellini num leilão na Itália, quando estes foram dispersados entre várias instituições e coleções privadas.