minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

questões manuscritas

Um tapa na cara de Hitler

Adolf Hitler esperava dos Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim, uma oportunidade extraordinária de mostrar ao mundo o progresso que afirmava ter trazido para a Alemanha nos quatro anos iniciais de seu governo.

A organização foi grandiosa e os atletas alemães foram intensamente preparados para conquistar, como ocorreu, o maior número de medalhas de ouro.

| 31 jul 2012_15h09
A+ A- A

Adolf Hitler esperava dos Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim, uma oportunidade extraordinária de mostrar ao mundo o progresso que afirmava ter trazido para a Alemanha nos quatro anos iniciais de seu governo.

A organização foi grandiosa e os atletas alemães foram intensamente preparados para conquistar, como ocorreu, o maior número de medalhas de ouro.

Para Hitler era também a ocasião de demonstrar a superioridade da raça ariana, tese constantemente martelada sobre a população alemã e divulgada inicialmente em 1925 por seu livro infame (Minha Luta), a chamada “Bíblia Nazista”.

Tudo parecia correr muito bem, até que um atleta americano acabou varrendo o mito da hegemonia da raça ariana, com suas proezas nas provas mais prestigiosas do atletismo.

A fotografia assinada reproduzida nesta página retrata o responsável por esse feito, o afro-americano Jesse Owens, então com vinte e quatro anos e natural do Alabama, o estado mais racista dos Estados Unidos.

Jesse Owens ganhou nada menos que quatro medalhas de ouro: na prova mais famosa do atletismo, os 100 metros livres; nos 200 metros; no salto a distância; e no revezamento 4 x 100 metros com a equipe americana.

Foi o mais bem sucedido dos atletas na Olimpíada de 1936, o que soou como uma verdadeira afronta à Hitler, que recusou-se a cumprimentá-lo.

Apesar de já causar naquela época enorme resistência e antipatia no resto do mundo civilizado, Hitler não se havia ainda revelado o monstro que se deu plenamente a conhecer durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Era visto, naturalmente, como um ditador, mas muita gente acreditava que a Alemanha precisava mesmo de um regime autoritário para alcançar o nível de desenvolvimento aparente que então ostentava, progresso que o líder auto-intitulado “Fuhrer” tanto queria exibir ao mundo na Olímpiada.

Ainda que Hitler não provocasse nem de longe o horror geral que causou mais tarde, foi motivo de grande satisfação nos meios liberais do mundo inteiro ver um afro-descendente jogar por terra a propalada tese da superioridade indiscutível da raça ariana.

Jesse Owens tornou-se assim para o resto da vida uma celebridade mundial e foi dos primeiros atletas a tentar capitalizar sobre seu sucesso nas Olímpiadas e entrar em atividades mais lucrativas que representava então o esporte amador. Mas os cartolas americanos não gostaram, e retiram-lhe o status de amador, impedindo-o de continuar a competir no atletismo.

Owens reinventou-se como dono de uma lavanderia a seco e de um posto de gasolina. É dessa forma que assina modestamente esta fotografia tomada nas Olimpíadas de 1936, mas que deve ter assinado na década seguinte: “Saudações de Jesse Owens, da Lavanderia a Seco Jesse Owens”.

Sabendo seu próprio nome famosíssimo em todo os Estados Unidos, devia ser com uma ponta de ironia que Owens explicava por escrito pertencer à firma “Lavanderia a Seco Jesse Owens”…

Fumante inverterado por quase quatro décadas, Owens morreu de câncer de pulmão, aos sessenta e oito anos, em 1980. Permanece como um dos ícones máximos do esporte americano, e é lembrado com carinho no mundo inteiro por ter estragado o pretendido triunfo de Hitler.

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí