O apelo patético de Anna a Euclydes da Cunha
A difícil relação entre Euclydes da Cunha e sua mulher Anna tornou-se de domínio publico quando o grande escritor foi baleado pelo amante de sua mulher Dilermando de Assis, após uma troca de tiros ocorrida em 15 de agosto de 1909 na casa do bairro da Piedade.
O episódio é certamente dos mais comentados de toda a história literária do país, pois resultou na morte daquele que muitos consideram o maior prosador brasileiro do começo do século XX. A tragédia expôs também sua mulher Anna à execração pública, como exemplo de esposa infiel – apesar de mãe dedicada dos vários filhos que teve com Euclydes.
Um documento singelo que permaneceu até hoje inédito e ignorado dos biógrafos de Euclydes ressurge hoje como testemunho pungente da falta de entendimento do casal, e da solidão que Anna passou a sentir ao longo dos anos diante da imensa dedicação ao trabalho de seu marido.
Trata-se do manuscrito de um poema intitulado , que Euclydes parece redescobrir em alguma gaveta e resolve retrabalhar. No topo da grande folha de papel, Euclydes anota: “Não achei o começo, que é uma descrição do mundo antigo”, mas resolve mesmo assim corrigir o resto do poema reescrevendo alguns versos, talvez vários anos após sua primeira redação.
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Podemos imaginá-lo tarde da noite, revendo talvez à luz de velas estes e outros escritos. Num momento em que o grande autor se ausenta, Anninha pega a grande folha de papel e escreve em lápis azul na metade em branco um patético bilhete a seu marido:
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“Euclydes,
Que quer dizer o Snr. com estes artigos versos? Diga lá.
Não seria melhor que o Snr. estivesse em casa junto de sua querida Anninha?
Anninha”
Este comovente apelo por uma maior presença física de Euclydes junto à sua mulher é fraseado no tom formal que ainda usavam muitos casais no final do século XIX, em que Anna dirige-se ao marido como “senhor”.
Ainda assim é uma mensagem amorosa embora Anna refira-se à intimidade do casal como devendo ocorrer “em casa” – a expressão mais próxima de seu quarto que uma esposa se atreveria a usar por escrito, mesmo com o marido.
Este manuscrito foi obtido pelo escritor Felix Pacheco, amigo de Euclydes, que o preservou, justamente, com outros papéis do grande escritor, por mais de vinte anos em seu arquivo, até sua morte, ocorrida em 1936. Seus descendentes, por sua vez preservaram o acervo de Pacheco intocado por mais de sessenta anos, até o inicio deste século. Com isso o documento permaneceu inédito e é revelado agora por seu atual detentor.
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