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O Brasil dos turistas ilustres

Foi somente a partir da chegada de D. João VI e da Família Real em 1808 que o Brasil pôde acolher legalmente, pela primeira vez, visitantes estrangeiros. Mas o “turismo” tal como entendemos hoje só se intensificou no início do século XX. Naquele momento, o Rio de Janeiro se modernizava com as extensas reformas do prefeito Pereira Passos e o país organizava em sua capital as prestigiosas exposições internacionais de 1908 e 1922, esta última para comemorar o centenário da independência.

| 25 out 2011_17h48
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Foi somente a partir da chegada de D. João VI e da Família Real em 1808 que o Brasil pôde acolher legalmente, pela primeira vez, visitantes estrangeiros. Mas o “turismo” tal como entendemos hoje só se intensificou no início do século XX. Naquele momento, o Rio de Janeiro se modernizava com as extensas reformas do prefeito Pereira Passos e o país organizava em sua capital as prestigiosas exposições internacionais de 1908 e 1922, esta última para comemorar o centenário da independência.

Foi nessas primeiras décadas que a Baía da Guanabara consolidou sua fama de mais bela do mundo e o Rio de Janeiro passou a fazer parte dos roteiros dos turistas europeus e americanos, então muito mais endinheirados que os atuais, em média. Esses viajantes passavam várias semanas em navios luxuosos (ou pelo menos confortáveis) para chegar ao Brasil e à Argentina, países que eram quase sempre visitados por ocasião de uma mesma jornada. Também nas primeiras décadas do século XX, o Teatro Colón de Buenos Aires e os teatros municipais do Rio e de São Paulo tornaram-se paradas frequentes nas excursões internacionais das grandes companhias líricas ou teatrais de maior prestígio da Europa. Com isso, produziram-se no Brasil as mais famosas atrizes da época, como Sarah Bernhardt ou Eleonora Duse, os cantores mais populares, como Enrico Caruso ou Fédor Chaliapin, e dançarinos lendários, como Ana Pavlova ou Nijinski, talvez as seis maiores estrelas dos palcos da época. Ainda que alguns visitantes – como Sarah Bernhardt – detestassem o Brasil, a grande maioria voltava ao país de origem sinceramente encantada com o espetáculo da natureza e com a gentileza dos brasileiros.

Esse período coincidiu com a progressão do cartão-postal, verdadeira mania internacional desde o começo do século. Assim, aos visitantes internacionais se pedia com frequência que registrassem suas impressões do Brasil em cartões-postais fotográficos que ilustravam vários aspectos do país.

Todos os estrangeiros célebres de passagem também tinham de atender durante sua estada a inúmeras solicitações por autógrafos, geralmente deixados em álbuns de moças ou senhoras, ou ainda nos tais cartões-postais ilustrados. Quase sempre respondiam ao pedido com uma simples assinatura, mas às vezes deixavam pensamentos ou, mais raramente, depoimentos a respeito do país que visitavam. A declaração de Albert Einstein, que veio ao Brasil em 1925, é particularmente sutil: “O Brasil distingue-se pelo brilho de sua natureza e a tolerância de seus habitantes”, como escreve no cartão intitulado “Entrada da barra do Rio de Janeiro”, que mostra o Pão de Açúcar ao fundo com duas crianças sentadas numa balaustrada.

Luigi Pirandello, já conhecido como o maior dramaturgo da Itália, e que seria agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura sete anos mais tarde, visita São Paulo em 1927. A cidade – muito próspera havia décadas – era então talvez a aglomeração mais italiana das Américas, o que deve ter impressionado Pirandello, que parece ter visitado inclusive o Instituto Butantã, pois deixa sua declaração sobre um cartão-postal que ilustra o perigoso fosso das cobras: “Me é grato o Brasil como todo país onde a vida já não nasce esmagada pelo peso dos mortos”.

Nas primeiras décadas do século, são frequentes as declarações de amor ao Rio de Janeiro de personalidades mais ou menos famosas, que ficaram registradas nos álbuns da época. Mas esses dois cartões fazem parte de uma mesma grande coleção de centenas de peças formada por Heitor Pereira Pinto, dos anos 1910 a 1940, e que talvez seja, de todos os conjuntos reunidos no período, aquele que contém o maior número de depoimentos acerca de nosso país, de personalidades tão variadas como as já citadas, além pensadores e escritores do calibre de Jacques Maritain, Georges Bernanos ou Rudyard Kipling. A coleção foi adquirida há mais de 20 anos por seu atual possuidor, que a manteve na íntegra.

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