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<i>De humani corporis</i> show

    No alto, Pimenta e a PF. Acima, uma bolsa com espinha de criança e língua de jacaré, o designer Arnold Putra e um desfile em Berlim com escultura de homem e cavalo de Von Hagens CRÉDITO: FOTOMONTAGEM DE BETO NEJME_JENS KALAENE/DPA/ALAMY/FOTOARENA_REPRODUÇÕES DE INSTAGRAM E FACEBOOK_DIVULGAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL

questões cadavéricas

De humani corporis show

A história do estabanado professor de Manaus que caiu na espetaculosa indústria de corpos humanos transformados em esculturas

Angélica Santa Cruz | Edição 189, Junho 2022

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Não é fácil achar uma vaga para estacionar na frente da agência dos Correios do Le Bon Marché, uma pequena galeria comercial de Manaus. Na tarde de 21 de outubro de 2021, no entanto, o professor de anatomia Helder Bindá Pimenta deu sorte e encontrou um lugar bem diante da porta. Parou o seu Hyundai HB20 prateado e desceu carregando uma caixa de papelão sob o braço direito. Tinha a barba aparada, vestia uma camiseta preta e andava de modo casual, tranquilão. Foi direto para o guichê, declarou que o embrulho continha “material de silicone” e despachou pela remessa internacional. Saiu da agência, deu ré no carro e foi embora. Dois dias depois dessa cena banal, o pacote foi levado até um galpão a 4 km dali, onde fica o Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas dos Correios (CTCE) – um ponto de distribuição de todas as mercadorias que entram e saem de Manaus. Em uma triagem de rotina, no dia seguinte, a caixa de papelão passou pelo raio X. E foi aí que a sorte do professor Bindá Pimenta começou a virar. Na tela do monitor apareceram quatro figuras com áreas pintadas de laranja e verde, as cores que sinalizam material orgânico. Um dos materiais parecia uma mão humana e as formas dos dedos eram bem perceptíveis. Os outros três tinham contornos circulares e estavam ligados a cordões espessos. Lembravam placentas.

Por acaso, investigadores da Polícia Federal faziam naquele momento uma diligência de rotina no CTCE e foram avisados pelo operador do raio X que ali estava uma caixa com um conteúdo estranhíssimo. Como era domingo, os agentes federais pediram para o funcionário dos Correios tirar o material do fluxo regular de remessas internacionais e, no dia seguinte, levá-lo à sede da Polícia Federal. Assim foi feito. Por causa do sigilo de correspondência garantido por lei, os plantonistas da PF só poderiam abrir o pacote diante do remetente ou com autorização judicial. Então, telefonaram para o número de celular que Bindá Pimenta anotara no comprovante de envio postal. O professor atendeu à ligação. Garantiu que não tinha conhecimento de nenhuma encomenda enviada em seu nome e avisou que não poderia falar naquele momento, porque estava dando aula. Duas horas depois, os policiais ligaram de novo e, desta vez, intimaram o professor a ir até o prédio da polícia para prestar esclarecimentos. Bindá Pimenta confirmou que iria. “Hoje mesmo!”, disse. E não deu as caras – nem atendeu nenhum dos sete telefonemas da PF no dia seguinte.

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