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    Mudança de ares em Porto Alegre: Botelho diz que trocar o escritório pela Lancheria do Parque o ajudou nos momentos em que o andamento da tradução de A Tempestade estava travado CRÉDITO: ANDRÉ FELTES_2022

questões literárias

Shakespeare na fronteira

José Francisco Botelho, o tradutor que aprendeu seu ofício no Pampa

Jerônimo Teixeira | Edição 189, Junho 2022

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Começou não pelo livro tradicional, mas pela história em quadrinhos. José Francisco Botelho tinha 7 ou 8 anos quando teve seu primeiro contato com uma tragédia de William Shakespeare (1564-1616) e com o épico de Luís de Camões (C. 1524-80). Um parente ou amigo da família – Botelho não lembra mais quem foi – presenteou-o com adaptações de Hamlet e de Os Lusíadas em “banda desenhada” (é assim que a HQ é chamada em Portugal, de onde vinham as edições). O fascínio foi imediato e duradouro: “Até hoje, quando leio os versos de Hamlet, eu me lembro do desenho”, diz Botelho.

Não é incomum que a iniciação de um bom leitor se dê pelos quadrinhos. Mas outros detalhes nesse episódio da infância já insinuam a concepção de literatura que orienta Botelho na composição de seus contos (reunidos em dois livros, A Árvore que Falava Aramaico e Cavalos de Cronos, ambos pela editora Zouk) e que faz dele um dos melhores tradutores hoje em atividade no Brasil – sobretudo, um dos melhores tradutores de Shakespeare que o país já conheceu. O leitor pode atestar essas qualidades em sua versão de A Tempestade, lançada em abril (pela Penguin/Companhia das Letras), da qual emerge um Shakespeare “estranho e interessante”, como diz a bela canção de Ariel, o espírito do ar que encanta a ilha onde a peça se passa:

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