João Gomes na entrega do Grammy Latino, em Sevilha, na Espanha: “Faço arte para me expressar, para sobreviver. Porque a arte é a única coisa que sobrevive e é maior que a vida” CRÉDITO: JUAN NAHARRO GIMENEZ_GETTY IMAGES_2023
João Gomes coloca o piseiro no mapa musical
Cantor pernambucano cria elo entre a tradição do forró e a música eletrônica
No palco, João Gomes parece feliz e animado. Quando sai de lá, fica introspectivo. “Faço arte para me expressar, para sobreviver. Porque a arte é a única coisa que sobrevive e é maior que a vida. Também faço para transformar a vida das pessoas”, diz o cantor pernambucano.
Aos 22 anos, Gomes está promovendo uma renovação na música brasileira, ao unir a música sertaneja tradicional com ritmos contemporâneos. Ele seria como um elo entre Luiz Gonzaga e Mano Brown, escreve Tiago Coelho, que faz o perfil do cantor na edição deste mês da piauí. A peça-chave nessa reinvenção da música sertaneja é o piseiro. Daniel Mendes, diretor artístico dos discos de João Gomes, explica: “O forró é a música-mãe do piseiro, que é uma vertente contemporânea, caracterizada essencialmente pela ausência de uma bateria física e pelo uso de uma bateria eletrônica de programação, que é acoplada ao teclado.”
O piseiro surgiu em festas populares das periferias, atualizando o forró com a batida eletrônica que caracteriza a produção musical do funk e do tecnobrega. Embora João Gomes se apresente na Missa do Vaqueiro, um dos eventos mais tradicionais do sertão e cujo patrono é Luiz Gonzaga, o cantor é alvo constante de questionamentos sobre sua real ligação com a tradição do forró, porque gosta de incorporar ritmos eletrônicos em suas músicas.
Há também uma barreira de preconceito em torno do piseiro. “O piseiro e o funk são músicas de origem negra e periférica. No caso do João Gomes, vai levar um tempo para entendermos como ele fura certos bloqueios. Talvez pela presença magnética dele, mas também pela qualidade”, diz o pesquisador musical GG Albuquerque. O cantor enfrenta com humor e certo desdém os ataques ao piseiro. “É um ritmo que a galera gosta, acelerado. O piseiro pode ser eletrônico, mas é uma coisa muito boa. O pessoal que critica, Ave Maria!, é uma galera muito da chata”, diz João Gomes.
Leitor de Machado de Assis e admirador de Belchior, ele revela que tem um lado triste, “sempre aflito, sempre ansioso”, define, rindo. “Se eu não tivesse a música na minha vida, eu não ia aguentar, sabia? É minha respiração, meu trabalho, mas é também onde encontro a direção das coisas.”
Filho de um barbeiro e de uma empregada doméstica, João Gomes nasceu em Serrita e cresceu em Petrolina, no interior de Pernambuco. Seu primeiro álbum, lançado em 2021, obteve um sucesso imediato, transformando de súbito a vida do jovem de 19 anos. “Eu era um adolescente tendo que ser adulto quando tudo aconteceu”, conta ele. “Na minha escola, ninguém tinha muita perspectiva de futuro. Me dediquei muito, e veio o resultado. Queria, mesmo que de longe, fazer com que os garotos de onde cresci se orgulhassem de mim e pudessem acreditar que, mesmo sendo difícil, com dedicação e trabalho a gente consegue.”
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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