Henrique Meirelles é um fenômeno. Foi o primeiro brasileiro a ser presidente mundial de um banco – BankBoston, nos anos 90 –; o mais longevo presidente do Banco Central, nos anos 2000; e pode-se dizer que é um dos quase candidatos à Presidência da República mais antigos do país, considerando-se que ele teve a primeira conversa sobre o assunto com um partido (o então PFL, hoje DEM) em 2001, quando começou a planejar a volta ao Brasil depois de encerrar a carreira nos Estados Unidos.
O ministro da Fazenda tem também uma opinião elevada sobre si próprio e gosta de controlar todas as variáveis que lhe dizem respeito, a começar pela imagem pública, como mostra o perfil que escrevi para esta edição da piauí. No entanto, nenhum desses “atributos” lhe trará a sonhada candidatura presidencial. Pelo contrário. Como se acha um especialista no jogo político, Meirelles vem tomando iniciativas que mais parecem autossabotagem do que autopromoção.
A primeira iniciativa com cara de campanha foi a tentativa de se aproximar dos evangélicos, a partir de junho, quando parecia que a renúncia de Michel Temer era apenas questão de tempo. Meirelles tornou-se presença frequente nos eventos da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, um ramo importante da denominação – e passou a pregar sobre economia em situações variadas, de aniversário de pastor a confraternizações e cultos. No processo, deu espaço para lideranças pouco relevantes falarem em seu nome, criando ruído com membros de outras igrejas. Chegou a gravar um vídeo dirigido a pastores, pedindo orações pela economia, cujo amadorismo repercutiu mal no mercado financeiro – o único público que, até agora, tem sido fiel a ele. O passo em falso fez Meirelles recuar e se afastar dos evangélicos.
O cálculo por trás do movimento era até simples: evangélicos têm força eleitoral e podem, em tese, votar em bloco neste ou naquele candidato, independentemente do partido. Meirelles tem partido, mas não parece. É filiado ao PSD de Gilberto Kassab, de quem se diz próximo. Mas o líder-mor do partido não foi ao almoço que a bancada organizou para o ministro da Fazenda em setembro. Enquanto os deputados pessedistas levantavam a bola de Meirelles para uma eventual candidatura, Kassab comparecia a um evento em São Paulo. Na ocasião, disse que achava cedo discutir o tema.
Para as câmeras e gravadores, Kassab afirma que Meirelles é um grande candidato, e que se o Brasil crescer os 3% prometidos ele fará um estrago nas urnas. Mas seus próprios correligionários têm dúvidas sobre se o interesse de Kassab na candidatura Meirelles é real, ou se ele está apenas se cacifando politicamente para as negociações de aliança em 2018. O ministro deixou as especulações em torno de seu nome rolarem. Mas, quando o líder do PSD, Marcos Montes, propôs que ele começasse a viajar pelo país para se tornar mais conhecido, deu para trás novamente.
Depois, disse que achava interessante ser candidato a vice. Por fim, no último dia 1º, afirmou à revista Veja que é, sim, presidenciável. A entrevista foi dada às vésperas de um feriado.
O pessoal da Bolsa, então, começou a se perguntar se o ministro não estava querendo demais essa candidatura, a ponto de sacrificar o empenho pelas reformas e perder o foco na gestão da economia. Num governo que o tem como avalista, esse tipo de desconfiança não é pouca coisa. Ao constatar a má repercussão, Meirelles recuou de novo e tentou desdizer o que havia dito, mesmo divulgando uma nota que, no final das contas, confirma o que está na entrevista.
Enquanto o ministro tergiversa em público, o jogo que realmente importa está se formando nos bastidores entre políticos de diversos matizes – conversas em torno de alianças, pactos de não agressão, recuos estratégicos e avanços nevrálgicos que só se revelarão em 2018. Desse jogo, não há indício de que Meirelles esteja participando. Ele já percebeu que sua única chance é obter um resultado expressivo na economia. Apesar disso, não consegue – ou acha que não pode – esperar até lá.
Então, faz o que sabe: dá entrevistas de manhã, de tarde e de noite, buscando criar (ou reforçar) a imagem de bom gestor. Espera que, com o tempo, sua candidatura se torne um fato para além das picuinhas partidárias. Mas fala tanto, e cada vez mais sobre política e menos sobre economia, que já tem gente se perguntando se ele sabe mesmo o que está fazendo. Irritado com as idas e vindas do ministro, o deputado Marcos Montes, maior apoiador de Meirelles no PSD, agora diz que vai dar um tempo. A continuar nesse ritmo, ele vai acabar matando a própria candidatura. E a culpa não será da imprensa.