A paixão de criança de Hemingway

Em  maio de 1912, Ernest Hemingway tinha doze anos e cultivava paixões comuns aos pré-adolescentes americanos, entre as quais destacava-se o beisebol. A carta reproduzida nesta página, dirigida a seu pai, foi escrita de uma das cabines de um trem, então chamados vagões Pullman.

O jovem Ernie, como era chamado na intimidade, mantinha com o pai um pouco da cerimônia que caracterizava as relações pai-filho na maior parte das famílias naquela época.

Numa letra ainda um pouco infantil (mas que já deixa antever o formato arredondado de sua letra de adulto), o jovem Hemingway escreve:

“Caro papai, sinto-me muito melhor agora que todo o meu dever de casa está feito e minha consciência está tranquila. Eu verifiquei no calendário do beisebol que os New York Giants jogam contra os Chicago Cubs para o campeonato no sábado, 11 de maio.

É já o próximo sábado. Haverá uns treinos pela manhã e de tarde vai estar muito cheio.

O jogo começa às três. Vamos ver se podemos ir juntos, vai ser um grande jogo, o ultimo da série.

Amorosamente, seu Ernie”.

Em seguida, Hemingway desenha uma série de círculos com pontos no meio, talvez reminiscentes de biscoitos de que gostava chamados toosies. E acrescenta (antes de um desenho maior de olho-de-boi):

“Toosies. Boa noite. Que Deus o abençoe, Papai”.

No dia 11 de maio de 1912 os New York Giants derrotaram os Chicago Cubs por 10 a 3, e venceram o Campeonato da Liga Nacional.

Esta carta algo comovente é talvez a mais antiga do jovem Hemingway a ter sido oferecida no mercado de manuscritos. Fez parte da famosa coleção de literatura americana formada por Maurice Neville, dispersada em 2004. Existem outros escritos com data anterior entre os papéis do grande escritor, mas estão hoje conservados em universidades americanas. Por sua raridade, esta carta fez sucessivamente parte de várias das mais prestigiosas coleções literárias americanas. Foi novamente leiloada em 2009, quando foi adquirida pelo atual detentor.