Conjunto de imagens captadas pelo agente disfarçado: quando policiais civis roubaram 280 quilos de cocaína da quadrilha no Complexo da Maré, um deles reclamou: “Bando de ladrão fdp” CRÉDITO: FOTOMONTAGEM COM REPRODUÇÕES DA INVESTIGAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL BRASILEIRA
Agente infiltrado levou à prisão 25 traficantes
Policial federal atuou com falsa identidade por três anos para desbaratar duas quadrilhas internacionais
Allan de Abreu | 07 fev 2024_05h39
Durante esses três anos, um policial esteve no centro de uma operação de vida ou morte. Infiltrado em duas organizações criminosas com o nome de Edmilson Lincoln Jardim Filho (pseudônimo criado pela polícia) ajudou na apreensão de 10,8 toneladas da droga no Brasil e na Europa e colocou a Polícia Federal no encalço de 33 traficantes internacionais de cocaína. Destes, 25 estão atrás das grades e oito estão foragidos. Sempre munido de microcâmeras ou microgravadores, Jardim Filho – que os traficantes apelidaram de Xuxa, por ser louro – esteve a um milímetro de ser descoberto, conta Allan de Abreu na edição deste mês da piauí, que teve acesso ao material gravado pelo agente.
Em meados de 2019, em conversa com despachantes aduaneiros no Rio de Janeiro, agentes da Polícia Federal e da Administração de Repressão às Drogas (a polícia americana de combate ao narcotráfico internacional) souberam que traficantes ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) procuravam um meio de driblar o scanner dos contêineres no Porto do Rio. Os traficantes estavam tendo dificuldades com o rigor da fiscalização no Porto de Santos, no litoral paulista.
Os agentes trataram então de espalhar a informação de que um despachante aduaneiro – Jardim Filho – tinha um esquema para burlar o scanner. A informação chegou ao traficante Maycon Igor Scoralick, o Russo, que na época ocupava um cargo comissionado na Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ligada ao governo estadual. Os dois se encontraram, e Jardim Filho explicou seu esquema para Scoralick: ele conseguia retirar de dentro do pátio contêineres com cargas legalizadas sem o conhecimento do dono, levá-lo para um galpão da quadrilha nas proximidades, inserir as bolsas com cocaína e reingressar os contêineres no porto, pronto para o embarque à Europa. Tudo isso sem passar pelo scanner.
Quatro meses depois desse contato inicial, a 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, informada da operação, aprovou a infiltração do policial na quadrilha de Scoralick. Com autorização judicial, Jardim Filho ganhou carteira de identidade e passaporte, documentos necessários, caso os criminosos decidissem checar seus registros.
A lei nº 12850 de combate ao crime organizado, sancionada pela presidente Dilma, prevê a infiltração policial mediante aval da Justiça, por até seis meses, renováveis por igual período. A PF criou um setor na Diretoria de Inteligência Policial (DIP) apenas para cuidar de infiltração, seja virtual (comum em investigação contra hackers e pedófilos), seja real. A piauí apurou que as operações virtuais são comuns, mas as reais são raras, devido ao alto risco corrido pelo infiltrado.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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