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    ILUSTRAÇÃO DE PAULA CARDOSO SOBRE MONTAGEM EM CIMA DE FOTO DE TRIPÉ IMAGEM/FOLHAPRESS

questões de mídia e política

“Assado” por bolsonaristas, Maia dispara no Twitter

Presidente da Câmara teve 1,5 milhão de menções na rede social em fevereiro, ultrapassando os filhos do presidente e quase todos os ministros

Luiza Ferraz | 06 mar 2020_20h36
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Alvo principal da manifestação bolsonarista convocada para 15 de março, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), explodiu no Twitter. Em fevereiro, foi citado 1,5 milhão de vezes – mais do que qualquer membro do governo, com exceção do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Os dados mostram que, ao menos para Maia, a história se repete num curto período de tempo: a última vez em que o deputado teve tantas menções foi em maio de 2019, quando, mais uma vez, foi pintado como inimigo de Bolsonaro em atos convocados por apoiadores do presidente. Na época, o deputado virou boneco inflável e teve o mesmo 1,5 milhão de menções. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora desde o ano passado as citações a políticos ligados ao governo no Twitter.

As menções a Maia foram em sua maioria negativas, e mostram a capacidade de articulação das redes bolsonaristas. Entre janeiro e fevereiro, o presidente da Câmara dobrou seu número de menções. Ficou à frente de figuras que têm engajamento ativo e espontâneo no Twitter, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e os filhos de Bolsonaro. Em fevereiro, um Maia valeu por dois Carlos.

Além de sofrer com ataques da base bolsonarista, o presidente da Câmara se tornou um polo aglutinador da oposição, uma espécie de “moderador” das iniciativas que saem do Palácio do Planalto. É muito citado por seus detratores, mas também pela imprensa. Desde o início do governo Bolsonaro, Maia foi lembrado 11 milhões de vezes no Twitter. Foi mencionado mais vezes do que foram, nesse mesmo período governistas histriônicos, como Carlos Bolsonaro (10,7 milhões), Weintraub (9,8 milhões), Paulo Guedes (7,3 milhões) e Damares Alves (5 milhões).

 

O presidente da Câmara entrou em rota de colisão com o bolsonarismo no início do ano, em meio ao imbróglio do “orçamento impositivo”. O termo se refere à parte do Orçamento da União que é definida pelos parlamentares e não pode ser alterada pelo Executivo. Desde o ano passado, Planalto e Congresso vinham tentando fechar um acordo para definir quem vai controlar essa fatia do orçamento de 2020, e sob quais regras. A crise atingiu seu ápice em fevereiro, quando o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Heleno, foi gravado dizendo “foda-se” ao que considerava serem “chantagens” do Congresso.

O palavrão soou como uma senha para o núcleo radical do bolsonarismo, que usou o episódio como pretexto para convocar novas manifestações. Logo viralizaram hashtags como #Dia15PorBolsonaro. Com a repercussão do caso, Heleno mais que duplicou de tamanho no Twitter. Saltou de 274 mil citações, em janeiro, para 663 mil em fevereiro. Foi seu maior patamar desde que tomou posse como ministro.

O único membro do governo que superou Rodrigo Maia em número de menções no Twitter em fevereiro foi Sergio Moro, citado 1,6 milhão de vezes, contra 776 mil em janeiro. O ministro da Justiça é o bolsonarista de maior protagonismo das redes, e não depende de polêmicas para manter um patamar alto de menções. Em fevereiro, no entanto, as polêmicas o ajudaram. Ele foi posto em evidência pelo motim da Polícia Militar do Ceará, que foi remediado com apoio de sua pasta.

O que também serviu de escada para Moro foi o bate-boca provocado pelo deputado Glauber Braga (Psol-RJ), que, durante uma sessão na Câmara dos Deputados, chamou o ex-juiz de “capanga de milicianos”. O episódio, que quase resultou numa troca de socos entre deputados, repercutiu à esquerda e à direita.

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também viralizou em fevereiro. Teve 821 mil menções no Twitter – seu maior patamar desde abril do ano passado, quando foi chamado de “tchutchuca” por um deputado de oposição. Desta vez, Guedes surfou nas polêmicas criadas por ele mesmo. No início do mês, referiu-se a funcionários públicos como “parasitas”. Dias depois, ao tentar amenizar a repercussão de uma nova alta do dólar, disse que a mudança era natural e que nada seria como antes, quando “empregada doméstica ia para a Disneylândia, uma festa danada”.

O crescimento das menções a Guedes inverte a tendência dos últimos meses. Desde a segunda metade de 2019, o ministro vinha perdendo espaço à frente da pauta econômica, que em grande medida foi cooptada pelo Congresso. De novembro a janeiro, tanto ele quanto o ministro Tarcísio Gomes, da Infraestrutura, encolheram de tamanho. Enquanto isso, Rodrigo Maia protagonizava o calendário das reformas e subia em número de menções no Twitter.

 

Agora, a pauta econômica voltou, ao menos em parte, para as mãos do governo. O que não necessariamente é uma boa notícia para os bolsonaristas. Os indicadores econômicos ruins – como o aumento de 1,1% do PIB em 2019 (menos que a metade do que se esperava) e a desvalorização do real – colocaram Guedes em evidência. Assim como Weintraub, o ministro da Economia virou alvo fácil para ataques da oposição.

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