Anônimo para a maioria dos brasileiros até o dia 8 de abril, quando foi nomeado ministro da Educação, o economista Abraham Weintraub tanto fez que se tornou conhecido, pelo menos no Twitter. Em menos de dois meses no cargo, Weintraub disse que havia balbúrdia nas universidades federais, chamou Franz Kafka, o escritor, de “kafta”, e, com um guarda-chuva na mão, ao som de Cantando na Chuva, reclamou de “fake news”. Resultado: no primeiro mês de ministério, foi o terceiro bolsonarista mais citado nessa mídia social e, ao final de maio, já era o segundo, atrás apenas do ministro da Justiça, Sergio Moro.
Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora os personagens do governo mais citados no Twitter desde 1º de janeiro. O ministro da Educação, que em março teve apenas 396 citações ao seu nome na rede social, em abril foi mencionado 564 mil vezes. Em maio, esse número mais que duplicou: 1,3 milhão.
O ministro da Justiça, Sergio Moro, mantém o primeiro lugar em número de menções no Twitter entre os personagens do governo Bolsonaro desde abril, quando foi citado 1,1 milhão de vezes. Em maio, o ex-juiz dobrou esse número, com 2,2 milhões de citações. No último mês, Moro foi muito lembrado por causa da briga pelo Coaf entre a Justiça e a Economia e o massacre de presidiários em Manaus.
As menções a Weintraub são o resultado da sequência de ataques do ministro às universidades e da reação que se seguiu. No primeiro dia à frente do ministério, Weintraub, ouvido pelo Globo, pediu o fim de “vazamentos” e “sabotagens” no órgão. Na última semana de abril, sugeriu o corte das verbas para cursos de filosofia e afirmou que universidades com “balbúrdia”, citando três instituições, teriam verba reduzida. Mais tarde corrigiu: não só as universidades com “balbúrdia” passariam por cortes, mas todas as instituições federais de ensino, inclusive as de educação primária, apontada pelo governo como prioridade.
No dia 3 de maio, Weintraub publicou em sua conta no Twitter um vídeo para explicar o desempenho ruim no primeiro período da faculdade, no qual quase chora. No dia 7, virou meme na internet quando confundiu o nome do escritor Franz Kafka com o prato “kafta”, uma espécie de almôndega feita com carne de carneiro ou de boi, muito comum na culinária árabe. Na mesma semana, usou bombons para explicar, durante uma live presidencial, o contingenciamento de verbas para as universidades federais. O presidente Jair Bolsonaro comeu os bombons que o ministro deveria guardar. Novo meme.
No dia 15 de maio, pouco mais de um mês à frente da pasta, milhares de pessoas saíram às ruas em todos os estados do Brasil para protestar contra os cortes na educação. Manifestações desse porte não foram registradas em nenhum outro início de governo. No final daquele mês, no dia do segundo grande ato nacional contra os cortes, Weintraub publicou outro vídeo de grande repercussão em sua conta no Twitter: com um guarda-chuva na mão, reclamou de supostas “fake news” sobre contingenciamento de verbas para o Museu Nacional. No mesmo dia, o ministério da Educação publicou uma nota desautorizando quem estimula a participação de estudantes em protestos. Por conta da repercussão negativa, a nota foi atualizada pelo ministério com esclarecimentos.
Em maio, outro personagem do governo que cresceu em menções no Twitter foi Olavo de Carvalho, guru bolsonarista. Na virada de abril para maio, Olavo travou uma batalha digital contra o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. No dia 29 de maio, publicou um tuíte indicando não duvidar de que a Terra fosse plana e reacendeu as discussões a seu respeito. Só na primeira semana de maio, o escritor foi citado 361 mil vezes, mais do que em qualquer mês anterior. Até o dia 31, acumulou 1,2 milhão de menções, ficando atrás apenas de Weintraub e Sergio Moro entre os bolsonaristas mais citados.
As menções ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que haviam crescido em abril, diminuíram em maio. Em abril, quando foi chamado de “tchutchuca” dentro do plenário da Câmara, Guedes foi citado no Twitter mais de 1 milhão de vezes. Naquele mês, foi o segundo personagem do governo mais mencionado na rede social. Em maio, foi lembrado somente 764 mil vezes, o oitavo no ranking dos mais citados.
Os esforços do economista estão voltados para a aprovação no Congresso de uma reforma da Previdência, que divide opiniões tanto entre a população quanto entre políticos. No final de março, o presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia, travou uma batalha contra a falta de articulação política do governo para a aprovação da emenda.
Um dos sinais da tímida articulação do governo no Congresso é a popularidade de Onyx Lorenzoni no Twitter. O ministro-chefe da Casa Civil, responsável pelo diálogo do Executivo com o Legislativo, teve apenas 115 mil citações no mês de maio, um número muito pequeno para membros do primeiro escalão do governo. Entre nomes do entorno do presidente da República, ficou atrás até da deputada federal Bia Kicis, citada 137 mil vezes. Em abril Lorenzoni foi mencionado ainda menos, 93 mil vezes. O melhor mês do chefe da Casa Civil no Twitter foi janeiro, quando foi nomeado. Ele tem 365,3 mil seguidores na rede social.