A partir do ano que vem, o número de representantes militares ou de forças policiais na Câmara dos Deputados vai ser mais que o dobro do que é nesta legislatura. Foram eleitos 28 candidatos com algum vínculo policial ou militar, seja no nome na urna ou na declaração de profissão ao Tribunal Superior Eleitoral. Na eleição anterior, foram doze os deputados eleitos seguindo o mesmo critério. A chance de uma patente ser eleita à Câmara este ano dobrou: em 2014, 5% dos candidatos com esse tipo de vínculo se elegeram; este ano, a taxa de sucesso subiu para 10%.
Dos 28 candidatos eleitos vinculados à área militar e policial, 18 são filiados ao PSL, partido de Jair Bolsonaro, cuja principal bandeira é a segurança pública. Com essa pauta prioritária e de carona na popularidade do presidenciável, o PSL elegeu 52 deputados. Em 2014, sem Bolsonaro, o partido tinha apenas um. Os outros partidos que elegeram candidatos vinculados a essas áreas foram o PR, com três deputados, e PP, PRB, PDT, PSD, Avante, Pros e Patriotas com um deputado cada.
Um exemplo da popularidade dessa bandeira foi a eleição de Helio Fernando Barbosa Lopes, que se declara subtenente do Exército, deputado com o maior número de votos pelo Rio de Janeiro. Ele fez campanha ao lado de Jair Bolsonaro e, sem parentesco com o candidato, adotou o seu sobrenome. Como “Helio Bolsonaro”, recebeu 345 mil votos. Em 2016, o militar candidatou-se a vereador em Nova Iguaçu, usando o nome “Hélio Negão” – teve apenas 480 votos. Além disso, o número de urna do candidato era o mesmo de Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, em São Paulo, também do PSL – o deputado mais votado na história, com 1,8 milhão de votos. Na Bahia, o Pastor Sargento Isidório, do Avante, cujo nome na urna sintetiza ao mesmo tempo a tendência militarizante e religiosa, foi o candidato a deputado federal mais votado, com 323 mil votos.
Entre os 28 parlamentares eleitos pegando carona na bandeira pela segurança, metade declarou que tinha outra profissão ao Tribunal Superior Eleitoral, e usava a patente só no nome. É o caso do Capitão Augusto, eleito deputado federal pelo PR de São Paulo. Ao TSE, ele declarou ser “deputado” por profissão. Outros 14 candidatos a deputado eleitos não usam o vínculo policial ou militar como nome de urna, mas declararam profissão nessas áreas – e baseiam suas campanhas no apelo por mais segurança, como a de Daniel Silveira, PM eleito deputado pelo PSL no Rio de Janeiro. Uma de suas principais propostas é a liberação do porte de armas. Ele foi um dos candidatos que quebrou a placa em homenagem a Marielle Franco, vereadora do PSOL executada no Rio em março.
No Senado, cinco candidatos com vínculos militares ou com forças policiais se elegeram. O PSL, porém, não foi protagonista, e sim a Rede. De cinco senadores que o partido elegeu, três são da polícia: o policial civil Fabiano Contarato, eleito pela Rede do Espírito Santo; Capitão Styvenson, que se declara policial militar, pelo Rio Grande do Norte; e o Delegado Alessandro Vieira, do Sergipe. Contarato foi um dos dois senadores que tiraram a cadeira de Magno Malta, do PSL, um dos favoritos para o cargo no Espírito Santo. O candidato da Rede já foi delegado de trânsito e sua candidatura girou em torno do tema. Diferentemente dos candidatos do PSL, ele não defende o porte de armas. Em São Paulo, o PSL elegeu Major Olímpio como senador. Na Bahia, Ângelo Coronel, que não é militar, mas usa o apelido desde a infância, foi eleito senador pelo PSD.