A curiosidade dos brasileiros pelo termo “Fascismo” nunca foi tão grande. As buscas pela palavra no Google começaram a aumentar na semana de 28 de setembro e atingiram seu pico em 7 de outubro, primeiro turno da eleição. Nesse dia, o volume de buscas bateu recorde e foi dez vezes superior à média de pesquisas pela palavra desde 2004, quando o Google começou a medir o histórico de consultas. Desde o fim de setembro, a procura pela palavra é superior a “Comunismo”, “Democracia”, “Nazismo” e “Socialismo”, de acordo com a ferramenta Google Trends.
Entre esses regimes e sistemas políticos – estudados no Brasil a partir do oitavo ano do ensino fundamental – aqueles que, historicamente, despertam mais interesse no Google são “Democracia” e “Socialismo”. Até o pico verificado em 7 de outubro, “Fascismo” não costumava provocar curiosidade. De 2004 para cá, era o que tinha menor volume de buscas, na comparação com os termos citados acima. No dia do primeiro turno, junto com o recorde de buscas pelo termo, o nome do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, se tornou uma das principais pesquisas relacionadas ao regime autoritário. Outras associações ao fascismo mais feitas no Google nesse período são “ditadura militar no Brasil” e “antifascismo”.
Um dos motivos da curiosidade recorde a respeito do termo é o aumento do uso da palavra na mídia e nas redes sociais. Candidato de extrema direita e autor de declarações de incitação à violência em campanha e ao longo de sua trajetória, Bolsonaro tem sido tratado como “fascista” por opositores, e estudiosos identificam em suas ações táticas do regime autoritário – como o filósofo Jason Stanley, professor da Universidade Yale e autor do recém-lançado How Fascism Works: the Politics of Us and Them. Em entrevista à Folha de S.Paulo, que obteve 6,8 mil interações no Facebook, ele enumerou características de Bolsonaro identificadas com o fascismo. Outros discordam do uso da palavra para caracterizar o presidenciável, como o professor Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo. A discussão se reflete no Google, onde “Bolsonaro é fascista?” se tornou uma das pesquisas relacionadas ao regime feitas com maior frequência.
No Facebook, as publicações em que o termo aparece também dispararam. Nos últimos trinta dias, por exemplo, dados obtidos por meio da ferramenta CrowdTangle mostram que a palavra “Fascismo” está em mais de 10 mil posts em páginas abertas na rede social, volume cinco vezes superior aos trinta dias anteriores. A publicação mais popular foi o vídeo postado pela página “Quebrando o Tabu” de um trecho da novela Malhação da Rede Globo, no qual uma professora interpretada pela atriz Camila Morgado dá uma aula sobre o regime. O vídeo foi visto mais de 3,5 milhões de vezes. A segunda publicação com maior número de interações sobre o tema também tem função didática. Trata-se de um trecho do filme A Onda, no qual se demonstra o funcionamento do regime autoritário. O vídeo foi assistido mais de 2 milhões de vezes.
Uma das buscas no Google relacionadas ao fascismo que surgiram na última semana é “sua tia não é fascista”, parte de um texto publicado no site Carta Maior que viralizou. O título completo é “Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada”. O artigo defende uma postura menos combativa de opositores contra o avanço de Bolsonaro. O link para o texto foi publicado mais de 500 vezes no Facebook. Outra pesquisa relacionada é “Barbie fascista”, um meme que também se tornou viral nos últimos dias por parte de perfis opositores. Há também a busca por “neofascismo”. Desde 2004, as buscas mais feitas sobre o tema no Google são perguntas sobre o funcionamento do regime, como, por exemplo, “O que é fascismo?”
No ranking das buscas nos últimos noventa dias no Brasil, “Fascismo” foi procurado mais que o dobro de vezes que “Comunismo”, a segunda ideologia mais buscada nesse mesmo período. Na última semana, essa diferença aumentou para três vezes. O comunismo também está em evidência durante o debate eleitoral deste ano no Brasil. Uma das pesquisas relacionadas ao termo feitas com maior frequência nos últimos dias foi “Roger Waters Comunista”, depois que o músico do Pink Floyd fez um show no qual chamou Bolsonaro de neofascista e projetou no telão a hashtag da campanha #EleNão. Outra pesquisa relacionada é a busca em combinação com o nome do candidato do PT, Fernando Haddad, rival de Bolsonaro. A busca pelo ensaio “O esquerdismo é a doença infantil do comunismo”, de Lênin, também está em evidência. O interesse foi impulsionado por vídeo que passou a circular nas últimas semanas, em que Ciro Gomes, candidato do PDT no primeiro turno, cita a frase.
A curiosidade do brasileiro é diferente do interesse de internautas de outros países pelo tema. As buscas pelas equivalências dos termos em inglês são historicamente mais feitas a respeito de “Democracia” – que, desde 2004, mantém uma média de busca três vezes superior à de “Socialismo”, a segunda ideologia mais procurada nos últimos catorze anos. Nos Estados Unidos, “Fascismo” atingiu o segundo lugar de termo mais buscado em novembro de 2016, quando se deu a disputa que levou Donald Trump à Presidência. Depois de ter se tornado líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro foi comparado a Trump, por causa das posturas autoritárias, nacionalistas e contrárias a pautas identitárias do atual presidente americano. “Democracia”, nos Estados Unidos, só deixou de ser o regime mais buscado em fevereiro de 2016, quando “Socialismo” atingiu um pico, por causa da relação do termo com o então candidato às primárias do Partido Democrata, Bernie Sanders, que perdeu a vaga para Hillary Clinton. Sanders se considera “socialista democrático” e tinha propostas como tornar gratuito o acesso à saúde e às universidades públicas.
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Atualização: Em dezembro de 2018, a plataforma Google Trends liberou um levantamento das pesquisas mais feitas durante o ano no Brasil. “O que é fascismo?” foi a questão mais levada ao buscador em sua categoria.