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    Guerra perto de um dos primeiros prédios residenciais de Brasília, por volta de 1960: “Alguns acham que isto aqui vai melhorar. O capital paulis­ta entrará de rijo, buscando novos mercados” CRÉDITO: PETER SCHEIER_C. 1960_ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES

anais da micro-história

Cartas documentam a vida na recém-inaugurada Brasília

Correspondência de 1960 registra as expectativas e dificuldades na nova capital federal

José Augusto Guerra (1926-82) | 29 ago 2024_12h02
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“Não há leite de vaca em Brasília. Uma carrocinha passava sempre às 7 horas, mas a polícia sanitária deu em cima e acabou. Tinha água(…) Carne. Começa a tornar-se um problema sério(…) Não existe feira. A feira do candango é uma improvisação muito sem jeito”, escreve o jornalista alagoano José Augusto Guerra, em julho de 1960. Recém-chegado à capital federal como funcionário da Câmara dos Deputados, ele se dirige à sua mulher, Rildacy, a quem escreveu uma série de cartas descrevendo a mudança do Rio para Brasília. Na edição deste mês, a piauí publica uma seleção dessa correspondência, que documenta as dificuldades cotidianas de adaptação e as expectativas de um morador pioneiro da cidade recém-construída e inaugurada havia poucos meses, em 21 de abril de 1960.

Nascido em 1926, Guerra se mudou para Brasília com centenas de funcionários públicos federais, vindo do Rio, numa realocação coletiva apelidada de “operação mudança”, organizada pelo deputado maranhense Neiva Moreira. Sua mulher foi temporariamente para Recife com os filhos. Guerra passou a ocupar um apartamento no segundo andar do Bloco K, na superquadra 106, da Asa Sul, cuja vista para a capital ele assim descreve para Rildacy: “Daqui você vê a paisagem: o Palácio do Congresso bem longe, parte do lago, a avenida principal da cidade. Está bom para você: não tem montanhas e a vista se perde longe. Uma beleza.”

Em outubro de 1960, Jânio Quadros ganhou as eleições presidenciais. Guerra comenta: “Alguns observadores acham que isto aqui vai melhorar. O capital paulista vai entrar de rijo. Também confio nessa opinião. Não pelo que Jânio tenha dito: ‘Juscelino construiu Brasília; eu vou torná-la habitável.’ Mas pela sequência natural dos acontecimentos, a busca de novos mercados, a interiorização do país. E Brasília é um ponto-chave, o centro das decisões governamentais.” O jornalista arremata: “Está faltando um bom prefeito.”

Assinantes da revista podem ler a correspondência neste link.

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