Ciccillo Matarazzo levanta fundos
Nesta carta-formulário assinada por Ciccillo em julho de 1955, num papel com cabeçalho do Museu de Arte Moderna, o mecenas evoca “as dificuldades por que passou e vem passando ainda o Museu de Arte Moderna”.
Menciona que o Museu “empreendeu uma campanha de ampliação do quadro social, cujos resultados foram sem dúvida brilhantes. Cabe agora, ao ser inaugurada a terceira Bienal, iniciar outra campanha tão importante quanto a primeira, a da recuperação dos sócios que por algum motivo se afastaram”.
Francisco Matarazzo Sobrinho, conhecido por todos como Ciccillo, era sobrinho daquele que foi talvez o maior capitalista brasileiro, Francisco Matarazzo, imigrante italiano que chegou ao Brasil nos anos 1880 e formou em São Paulo uma fortuna colossal.
As suas doações para hospitais e outras causas na Itália durante a Primeira Guerra Mundial foram de tal ordem que o rei Humberto I lhe concedeu o título hereditário de Conde.
Diz a lenda que, no começo do século, o orçamento das indústrias Matarazzo chegava a superar o da cidade de São Paulo.
Ciccillo já nasceu herdeiro de uma parte da fortuna familiar e foi, juntamente com Assis Chateaubriand, o maior mecenas da arte em São Paulo. Devemos a ele a criação da Bienal de São Paulo, certamente a instituição cultural brasileira que goza de maior prestígio internacional. Ciccillo foi também o fundador do Museu de Arte Moderna, que imaginou inicialmente intimamente ligado à Bienal.
Houve depois cisões que separaram as duas instituições, mas na época do documento reproduzido nesta página, a Bienal e o Museu estavam ainda ambos sob a liderança de seu grande benemérito.
Apesar das generosas doações e constantes aportes de caixa efetuados por Ciccillo, o Museu e a Bienal estavam sempre em busca de novas fontes de renda. Já na época, seguindo o modelo americano, acreditava-se que uma base sólida de sócios poderia contribuir decisivamente para o financiamento do museu.
Nesta carta-formulário assinada por Ciccillo em julho de 1955, num papel com cabeçalho do Museu de Arte Moderna, o mecenas evoca “as dificuldades por que passou e vem passando ainda o Museu de Arte Moderna”.
Menciona que o Museu “empreendeu uma campanha de ampliação do quadro social, cujos resultados foram sem dúvida brilhantes. Cabe agora, ao ser inaugurada a terceira Bienal, iniciar outra campanha tão importante quanto a primeira, a da recuperação dos sócios que por algum motivo se afastaram”.
Ciccillo exalta “as vantagens que oferece o museu: cinema, desconto no Teatro Brasileiro de Comédia, no Teatro de Arena, preços especiais no seu bar, exposições de artistas nacionais e estrangeiros, cursos, conferências e publicações”, assim como “ingressos gratuitos na terceira Bienal durante todo o tempo que permanecer aberta”. Solicitando então que o antigo sócio volte a pagar suas mensalidades, Ciccillo encerra a carta que ele e o diretor tesoureiro assinam de próprio punho.
Este documento lembra os tempos heroicos da criação e solidificação de duas instituições fundamentais para a vida cultural de São Paulo e simboliza os incansáveis esforços de seu criador e principal financiador ao longo de várias décadas.
Este tipo de documento, de natureza claramente efêmera, era geralmente jogado fora por quem o recebia. São, portanto, muito raras as cartas deste tipo. A sobrevivência desta nos permite um olhar sobre as primeiras práticas no levantamento de recursos para museus em São Paulo, há quase sessenta anos.
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