Fábio Ricardo Paiva Luciano sempre apreciou boas doses de adrenalina. Após alguns anos na advocacia, decidiu tornar-se agente da Polícia Federal em Bauru, interior paulista. Era a chance de o jovem esguio pôr em prática seu espírito aventureiro. Luciano vibrou com um leve soco no ar ao saber da missão naquela tarde de 25 de setembro de 2013, às vésperas de completar 39 anos. Ele e um colega fariam o reconhecimento de uma pista de pouso clandestina, no meio de um denso canavial da zona rural de Bocaina, município próximo. Naquele exato local, à noite, desceria um avião carregado com 450 quilos de pasta-base de cocaína, conforme investigação do setor de inteligência da PF. A superintendência da corporação havia determinado que a equipe da base, especializada no tráfico aéreo de cocaína, abordasse a aeronave. Mas, como o risco de uma abordagem à noite era imenso, principalmente diante da carência de equipamentos básicos, como binóculos de visão noturna, os agentes, em protesto, negaram-se a participar da operação.
Diante do impasse, policiais de São Paulo, Araraquara e Bauru, chefiados pelo delegado Alexandre Custódio Neto, assumiram a missão. Entre eles estavam Luciano e um colega.
Em poucos minutos, a dupla havia localizado a pista, às margens da rodovia SP-255, próxima a um posto de combustível. Certificaram-se de que não havia ninguém por perto. Fotografaram de vários ângulos a pista larga, com quase 800 metros de comprimento, analisaram os acessos por estradas de terra batida, copiaram as coordenadas geográficas. Em pouco mais de uma hora, todo o trabalho estava encerrado.
A dupla deveria voltar à base em Bauru, mas Luciano decidiu ficar. Queria acompanhar o trabalho das equipes seguintes, vindas de Araraquara e São Paulo, que entrariam na
plantação de cana-de-açúcar e ficariam na espreita da quadrilha, que receberia a droga do avião no início da noite. No total, eram dezesseis policiais federais, cada um com uma função definida previamente. Havia a equipe da contenção, com quatro agentes, que deveria render o piloto e os traficantes de solo, chamados “pisteiros”. Dois desses policiais portavam fuzis para atirar no motor do avião e impedir que houvesse nova decolagem.
Eles ficariam a alguns metros da pista, escondidos no canavial, e só se aproximariam às 20h30, perto do horário em que a aeronave pousaria. Outra equipe ficaria na retaguarda, próximo ao posto de combustível, e os demais bloqueariam os quatro acessos à pista pela rodovia. Mesmo sem colete à prova de bala e com apenas uma pistola Glock, Luciano insistiu em participar da ação. A ele coube vigiar um desses acessos entre a pista de pouso e a rodovia, na companhia de outro agente, Vladimir Rodrigues, vindo da capital.
Eram pouco mais de 20 horas quando os “pisteiros” chegaram em três veículos, dois automóveis e uma caminhonete, vindos por acessos do lado oposto da rodovia. Os dois carros foram estacionados nas extremidades da pista, com os faróis acesos. A caminhonete ficou no meio, para receber o carregamento de droga. Nos três veículos havia armamento pesado, uma estratégia de contenção que a quadrilha costumava empregar nas explosões de caixas eletrônicos, especialidade do grupo — em um dos carros, a PF encontraria um fuzil calibre 50, capaz de derrubar um helicóptero, duas pistolas e um binóculo com visão noturna. Latas com querosene dispostas nas laterais completavam a tarefa de orientar o piloto no breu do canavial. A escuridão era total, o que impedia os agentes camuflados de identificar quem e quantos aguardavam a aeronave.
Perto das 21 horas, o céu roncou. O Cessna 210 se aproximava, conduzido por Evandro dos Santos, que, com pouco mais de 30 anos, era piloto experiente — mesmo sem brevê, aprendera a conduzir aeronaves pequenas nas piores condições possíveis, incluindo o pouso no breu. Tudo indicava que o Cessna viesse abarrotado de droga — só havia o banco do piloto e, ao lado, um tanque de querosene para abastecer o avião ainda no ar e, assim, permitir que voltasse ao Paraguai. Os agentes só viram o avião quando o trem de pouso levantou poeira na pista improvisada. Com o Cessna ainda taxiando, um dos ocupantes da caminhonete pulou no avião, já com a porta aberta, e começou a transferir os sacos com os tabletes de cocaína.
Quando Evandro fez a meia-volta com o avião, os policiais invadiram a pista, giroflex das quatro viaturas ligados — estratégia pré-combinada para evitar fogo amigo no escuro. Começou o tiroteio. Evandro acelerou o avião ao máximo. No sentido contrário, uma caminhonete da PF, com o agente Dagoberto Fracassi Pereira na direção. Queria obrigar o piloto a abortar o voo, por isso acelerou em rota de colisão com a aeronave. Evandro continuou, o motor em potência máxima. A poucos segundos de bater na aeronave, Dagoberto desviou a caminhonete. O Cessna ganhou o ar, mas, trôpego, caiu 200 metros depois e pegou fogo.
Enquanto isso, os “pisteiros” tentavam fugir. Dois dos seus carros sumiram pelas saídas opostas à rodovia. O carro que iluminava a pista, um Jetta, caiu em uma valeta poucos metros adiante e foi abandonado. A caminhonete com a droga seguiu para o acesso onde estavam Luciano e Vladimir. Fora do carro atravessado na pista, a dupla de agentes viu apenas o vulto de um veículo que se aproximava. Abrigados atrás do automóvel, Vladimir e Luciano pensaram ser uma viatura da PF. Veio uma rajada de tiros de fuzil. Um deles entrou no lado esquerdo do peito de Luciano, pouco abaixo do coração, atravessou o pulmão e as costas — mesmo se estivesse de colete, o equipamento não suportaria o impacto da bala. Ao lado, Vladimir revidou, saiu do carro e escondeu-se no canavial, enquanto os traficantes passavam a toda velocidade. Quando voltou ao automóvel, viu o colega caído de bruços sobre uma poça de sangue.
— O Luciano tá baleado, o Luciano tá baleado! — gritou.
Dagoberto aproximou-se. Ele e Vladimir colocaram Luciano no banco traseiro do carro.
— Corre pra Santa Casa de Jaú — ordenou Dagoberto, esbaforido.
No caminho, Luciano estava consciente, as mãos no peito ensanguentado. Sentou-se, abaixou o vidro da porta, reclamando de falta de ar. Chegou morto ao hospital.
Faltava capturar os fugitivos. O primeiro a ser encontrado foi o piloto Evandro. Um agente viu o homem todo ensanguentado caminhando por uma rodovia da região. Enquanto era socorrido e levado a um hospital de Bauru, o piloto teria confirmado aos agentes que toda a cocaína fora embarcada na caminhonete antes de os policiais invadirem a cena.
Minutos depois de capturar Evandro, outra equipe de agentes se deparava com um carro a baixa velocidade em uma estrada vicinal das redondezas. Um deles notou quando o automóvel parou para apanhar um rapaz que saíra do matagal. A equipe acelerou e cercou o veículo. Dele saíram dois homens e uma mulher. Já no início da manhã, um quinto foi localizado por uma equipe da Polícia Rodoviária. Com eles, a PF apreendeu seis pistolas Glock. Os cinco foram condenados, cada um, a mais de 36 anos de prisão pelo homicídio. Nunca se soube quem estava na caminhonete em fuga.
— É a lei do silêncio. Quem disser, morre — diz o delegado Ênio Bianospino.
Coube a ele prosseguir com a investigação. Era preciso saber quem estava por trás da quadrilha tão bem organizada. Uma pista surgiu quando ele descobriu que um dos presos naquela noite tinha condenação por tentativa de homicídio e era um dos líderes do PCC na região de Campinas. O grupo, segundo a PF, ganhava de 60 mil a 70 mil reais cada vez que recebia aviões abarrotados de cocaína no interior paulista.
A delegacia da Polícia Federal em Santos também investigava o esquema na Operação Oversea. Do litoral, os agentes captaram, naquela noite, diálogos via BlackBerry de um dos alvos da operação, Gilmar Flores, o Peres, sobre o incidente no interior paulista. Quem deu a notícia a ele foi um fornecedor de Gilmar em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul. A droga não era a que Flores havia encomendado.
Flores, paranaense de cabelos grisalhos e pescoço largo, fora preso pela primeira vez em 1999 por tráfico e condenado a quase cinco anos de prisão pela Justiça em Diadema. Onze anos mais tarde, foi flagrado pela Polícia Civil paulista com 600 quilos de cocaína na região de Sorocaba. Solto meses depois graças a um habeas corpus, mudou-se para o litoral catarinense e passou a comandar a distância seus carregamentos de cocaína do Paraguai para São Paulo e Santos. Ganhava muito dinheiro com isso. Dono de ao menos um avião e uma lancha, no dia 11 de outubro de 2013 ele pagou 800 mil reais por um iate, que levou naquela mesma noite de Ubatuba, no litoral paulista, para Santa Catarina:
“Tô em alto mar”, escreveu para um comparsa. “Levando. Esta belezura. Pra nós”. E enviou pelo celular uma foto dele no iate ao lado de uma lata de cerveja. Dois dias depois, recebeu de outro traficante a foto de um fuzil todo banhado em ouro. Seria, disse o homem, um singelo presente para o capo.
Para exportar droga à Europa, Gilmar Flores contava com um importante aliado em Santos: André do Rap, apelido pelo qual André Oliveira Macedo era conhecido em toda a periferia da Baixada Santista. Alto e gordo, André do Rap se valia de diferentes facetas para expandir seus lucros no crime. Figurava na mídia em eventos sociais, organizava shows de funk, exibia-se como empresário ligado ao surfe profissional, preocupado com o social — financiava uma ONG voltada ao atendimento de crianças e adolescentes pobres da periferia de Santos.
Mas sua principal atividade era liderar o PCC na Baixada e, em nome da facção, exportar grandes quantidades de cocaína via Porto de Santos. Em pouco mais de um ano de investigação na Operação Oversea, a polícia iria apreender 3,7 toneladas do mais puro cloridrato de cocaína, voltado ao exigente público europeu e norte-americano. Com a ajuda de uma rede de subordinados, André do Rap conseguia com antecedência informações sobre navios, cargas e destinos de dezenas de navios que todos os dias atracam no porto. Para isso, corrompia funcionários das empresas, mostram diálogos de aliados dele no Blackberry interceptados pelas investigações: “Ele consegue informação antecipada”, escreveu um aliado, ao aliciar mais um trabalhador do porto. “Se liga, esse cara sabe até o dia que vai chegar lá [a droga], quando chega a mensagem, chega no aparelho dele”, elogiou outro.
Os tabletes de cocaína, cada um com 1 quilo da droga, em média, eram colocados dentro de mochilas, e estas, por sua vez, inseridas no meio de cargas lícitas dentro dos contêineres. Para garantir que a cocaína chegasse ao destino, André usava práticas de suborno, como consta no inquérito da Operação Oversea, com propina de até 150 mil dólares para liberar a droga.
Trezentos quilos era a média de cocaína que o PCC exportava por vez. Entre um e outro carregamento, a facção fazia testes de rotas marítimas. Um deles foi para o Porto de Veracruz, o maior do México, local de forte atuação de poderosos cartéis do tráfico, como o Los Zetas, do Golfo e Nueva Generación, que disputam o controle do vaivém de drogas no local. Em agosto de 2013, o PCC enviou 22 tabletes com cocaína em meio a uma carga de papel no navio Cap Domingo, com destino a Veracruz. Na manhã de 3 de setembro, dois subordinados de André do Rap discutiram o carregamento pelo celular. Uma semana depois, outro integrante do grupo procurou saber com o chefe André do Rap se o carregamento havia chegado ao México:
“Vera Cruz, você sabe se chegou tudo ok lá?”, perguntou. “Aquele teste.”
“Pô, ainda não sei”, respondeu o chefe.
Com o nome do navio onde estava a cocaína, a PF acionou a DEA (Drug Enforcement Administration), agência dos Estados Unidos para combate ao narcotráfico. Agentes norte-americanos vasculharam os contêineres do Cap Domingo em Veracruz, mas não encontraram a droga. Os tabletes dentro de uma bolsa preta só seriam localizados dois dias depois, no Porto de Havana, Cuba, para onde a carga fora levada em outra embarcação. A Polícia Federal não constatou ao longo da investigação outras tentativas do PCC de enviar droga para seus “hermanos” no México.
Os contatos das quadrilhas do tráfico enraizadas no Porto de Santos com o crime organizado mundo afora não se limitavam aos mexicanos. Além do grupo de André, a PF descobriria outras três quadrilhas no porto, todas ligadas entre si e a serviço da facção paulista. Uma delas era comandada por Anderson Lacerda Pereira, o Dido, que anos depois fincaria raízes em Arujá e criaria uma rede de clínicas médicas a serviço do PCC na Grande São Paulo. Outra, por Ricardo dos Santos Santana, o MC. Ambas, segundo a PF, recebiam droga diretamente de dois fornecedores colombianos — no início de 2014, um deles remeteu 330 quilos da droga para a dupla.
Em conversa com Dido, Ricardo revelou como inseria a cocaína nos contêineres. Antes de chegar ao porto, os caminhões eram desviados para galpões do esquema. Lá, em vez de romper o lacre do contêiner, eles abriam as dobradiças das portas e colocavam as bolsas sob a carga com um lacre clonado. Na Europa, os compradores rompiam o lacre do contêiner, pegavam a droga e fechavam a carga com outro lacre clonado. Foi assim com um carregamento de açúcar, em janeiro de 2014. Ricardo e Dido usaram essa estratégia para enviar uma carga de cocaína para a máfia ’Ndrangheta, baseada no Sul da Itália, considerada a mais globalizada das máfias italianas e a que mais investe no narcotráfico. Ricardo encarregou-se de embarcar 29 tabletes, cada um com cerca de 1 quilo de cocaína.
Também passou ao sócio o número do contêiner onde estava a droga, além de fotos do lacre.
A PF tinha todos os dados para apreender a droga ainda no porto de Santos. Mas optou pela ação controlada, em que propositadamente se retarda a apreensão da droga para descobrir e prender o maior número possível de pessoas. Tudo com autorização judicial. A Polícia Federal brasileira e a Direzione Centrale Per I Servizi Antidroga, polícia antinarcóticos da Itália, queriam saber quem resgataria a cocaína em Gioia Tauro. Com o aval da Justiça de Santos, três agentes da PF disfarçados de fiscais alfandegários foram até o porto, abriram o contêiner e acoplaram um rastreador a um dos tabletes. Assim, acompanhariam passo a passo todo o itinerário, facilitando o flagrante no Sul da Itália. Cinco dias depois, o contêiner partiu no navio MSC Abidjan. Dido enviou um representante até a Itália para acompanhar a chegada da droga. Em espanhol, via mensagem de celular, um representante da ’Ndrangheta, apelidado de Pablo, revelou sua satisfação com os negócios ilícitos no Brasil: “Amigo, yo estoy muy contento con ustedes.” A droga, 32 quilos no total, foi apreendida na tarde do dia 13 de março em Gioia Tauro. Ninguém foi preso.
João dos Santos Rosa era um jovem preocupado com a aparência. Gostava de malhar, fazia limpeza de pele com frequência e sempre exibia suíças impecáveis nas “selfies” postadas nas redes sociais. Chamado de Gold, trazia uma média mensal de 2 toneladas de cloridrato de cocaína puro, tipo exportação, do Triângulo Mineiro e interior paulista até São Paulo, e de lá para o Porto de Santos, onde mantinha contato regular com quadrilhas da baixada Santista, inclusive com a de André do Rap, para exportar a droga. Os embarques eram semanais, sempre com mais de 100 quilos de cocaína por vez. No fim de 2013, Gold disse a um subordinado ter 750 quilos de cloridrato puro estocados em Santos, à espera de embarque.
Os altos lucros da narcoexportação eram aplicados em contas bancárias no Brasil e na Europa e depois investidos em imóveis e carros de luxo. Mantinha contato direto com quatro fornecedores de cocaína na Bolívia.
O braço direito de Gold no esquema era Angelo Marcos Canuto da Silva, moreno de estatura média que usava o apelido de Juliana. Policial militar, Angelo chegou a trabalhar no 2º Batalhão de Choque em São Paulo até ser expulso da corporação em 1997, acusado de roubo. Tornou-se empresário de jogadores de futebol de grandes clubes e dono de firmas de locação de veículos e peças para automóveis. Meios, segundo a PF, de lavar o dinheiro oriundo das drogas. Atento ao rigoroso mercado europeu, era sempre dele o aval sobre comprar ou não algum lote da droga, conforme a qualidade.
Quem primeiro captou os passos de Gold e Angelo no tráfico foi o setor de inteligência da PF em Ribeirão Preto. Por lá passavam todo mês pelo menos 200 quilos de cocaína vindos do Triângulo Mineiro e Sul de Goiás com destino a São Paulo.
No início da noite do dia 6 de janeiro de 2014, dois funcionários de Gold levavam no automóvel outros 49 tabletes de cocaína pela estrada Mogi–Bertioga — alguns metros à frente, o chefe dirigia outro carro, na função de batedor, responsável por avisar a presença de policiais para o motorista do carro onde estava a droga. Próximo da cidade litorânea, os veículos foram parados por policiais militares e agentes da PF. Pressionado, o acólito de Gold acabou revelando o esconderijo da droga: ao acionar a marcha a ré, ligar o carro e apertar um botão debaixo do banco do motorista, o banco traseiro tombou, revelando o fundo falso do porta-malas com os tabletes. Os três foram presos. Na casa que servia de depósito para o grupo em Bertioga, litoral, os policiais encontraram, debaixo do colchão do quarto do traficante, 393 quilos de cocaína, parte com o logo da Apple. Com Gold atrás das grades, o ex-PM Angelo assumiu a frente da quadrilha. Mas não por muito tempo.
Na manhã do dia 31 de março de 2014, policiais federais prenderam 69 pessoas envolvidas no esquema, tanto no núcleo de Gold/Angelo quanto no de André do Rap. Angelo estava em sua casa, em São Paulo. Nela, os policiais encontraram 1,2 milhão de reais em folhas de cheque, 90 mil dólares, joias e dois automóveis de luxo. Também foram presos outros cinco participantes do esquema, entre eles Anderson Lacerda Pereira.
Gilmar Flores, cliente vip de André do Rap, não foi localizado naquele dia 31. Horas depois, vazariam para a imprensa fotos dos foragidos, inclusive de Gilmar. Ao ver a imagem do paranaense na internet, o delegado Bianospino se desesperou, já que ele era um dos principais alvos da Operação Paiva Luz, que seria deflagrada dali a dois dias. Bianospino correu ao telefone e acionou a delegacia da PF em Itajaí, litoral catarinense, vizinha a Itapema, onde Gilmar morava. Foram mobilizadas duas equipes: uma para o apartamento dele e outra para o aeroporto, onde os agentes sabiam que ele tinha um avião. O traficante chegou logo depois da PF ao aeroporto. Notou os policiais e decidiu voltar para casa. Avisado pelos agentes, o porteiro nada disse ao traficante quando ele surgiu no prédio. Ao abrir a porta do apartamento, deu de cara com os indefectíveis coletes da Polícia Federal. No imóvel, coleção de relógios e joias. Gilmar seria condenado a seis anos e oito meses de prisão por participação em organização criminosa.
André do Rap ficaria foragido por cinco anos, até ser preso em setembro de 2019 pela Polícia Civil paulista em uma casa avaliada em 4 milhões de reais em Angra dos Reis, litoral Sul fluminense. Condenado a quinze anos de prisão por tráfico internacional, deixaria a penitenciária de Presidente Venceslau, Oeste paulista, pela porta da frente no último dia 10, após ordem de soltura do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. Gold e os demais integrantes do esquema do PCC foram condenados, cada um, a sete anos e meio de prisão por participação em organização criminosa.
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Trecho do livro Cocaína: a Rota Caipira, de 2017, publicado pela editora Record
Correção: ao contrário que informava versão anterior desta reportagem, a investigação não constatou envolvimento de auditores da Receita Federal com as atividades criminosas de André do Rap no Porto de Santos.