Paulo da Costa e Silva
Paulo da Costa e Silva é professor de estética no Departamento de História e Teoria da Arte da Universidade Federal do Rio de Janeiro
histórias publicadas
Proust e a música
As melhores páginas que li sobre música foram escritas por Proust. Nada supera a vitalidade das descrições musicais e da compreensão dos processos da escuta que encontramos no romance Em busca do tempo perdido.
Dos canibais de Montaigne à Waly e Caetano
Fui ler o famoso ensaio de Michel de Montaigne sobre os canibais. É admirável a forma como o escritor francês refletiu sobre os hábitos dos índios brasileiros no calor da hora, em pleno século das grandes navegações.
Vinícius e Bandeira
A influência de Bandeira de certo modo preparou terreno para o “surgimento” do Vinicius letrista. Na passagem dos anos 1930-40 a obra do Mané já guardava os elementos que tornariam possível um trânsito mais fluido e natural entre palavra escrita e palavra cantada. Ao aproximar Vinicius da poesia do mundo cotidiano, Bandeira o aproximou também do universo da música popular – da trivialidade das canções. E Vinicius pode, talvez, ser visto como aquele que finalmente realizou o que em Bandeira existia apenas como sugestão: a passagem da poesia do livro para a poesia cantada.
E agora, MPB?
A esquisita habilidade de George Harrison
Às vezes tendo a achar que vivemos numa época triste. Excitada, mas triste. Ao mesmo tempo, parece que se recusa em olhar dentro da própria tristeza. No desespero de mantê-la afastada, recorre a toda sorte de estimulantes. Fazer o mundo girar cada vez mais freneticamente não deixa de ser um modo de tentar fugir de nossa tristeza constitutiva, criando a ilusão de que estamos indo para algum lugar – e de fato estamos, mas não exatamente para esse que as pessoas querem pensar.
O pop e o dinheiro
O que espanta no clipe musical de Rihanna é o seu altíssimo grau de redundância. Ele forma um sistema fechado, dominado por uma única entidade que remete o tempo todo a si mesma. O dinheiro não é mais o meio, que equilibra-se com outros objetos do mundo, mas é a um só tempo o sujeito e o objeto do discurso. Não há nada além disso.
A elegância musical da Pantera
Uma canção de Bob Dylan
É curioso como às vezes grandes obras de arte passam por nós sem obter uma resposta à altura. Demorou para que eu compreendesse a grandeza de Tangled up in blue, uma canção de Bob Dylan. A letra conta a história de um relacionamento amoroso, suas idas e vindas através do tempo.
Lullaby
No princípio de tudo está a voz materna. Antes mesmo de nascermos já reconhecemos a voz do ser que nos carrega. Através das paredes do útero começamos a filtrar os sons externos, do mundo lá fora, e a partir da voz da mãe começamos a imprimir em nosso ser os contornos melódicos da fala.
A despedida de Caymmi
Pérola tardia na obra de Dorival Caymmi, Sargaço Mar foi composta quando ele tinha por volta de 62 anos. Parece um hino de despedida, como se fosse o ponto final da esplêndida carreira do compositor, a canção que encerra o seu legado.