Nos últimos catorze anos, o volume de buscas no Google por “como anular o voto?” no período que antecede as votações nunca foi tão alto quanto em 2018. A ferramenta Google Trends permite analisar as pesquisas feitas no site desde 2004. Entre 1º de janeiro e 25 de setembro deste ano, a busca por “como anular o voto?” bateu recorde, com volume 75% superior aos mesmos períodos de 2010 e 2014, anos eleitorais em que a pergunta havia despertado maior interesse até agora. Se levada em consideração a tendência das últimas campanhas, a incidência de pesquisas sobre o assunto deve aumentar em outubro, mês que costuma concentrar essas buscas.
Das cinco principais dúvidas relacionadas ao ato de votar levadas ao Google pelos brasileiros, quatro mostram a mesma preocupação. “Como anular o voto?”, “Como justificar o voto?”, “O que acontece se não votar?” e “O que acontece com o voto nulo?” só ficam atrás de “O que é voto útil?” num ranking feito pelo Google na página que criou para mostrar tendências de buscas relacionadas às eleições.
A piauí comparou o volume das quatro buscas no Google no período entre 1º de janeiro e 25 de setembro dos cinco últimos anos eleitorais, incluindo 2018. “Como anular o voto?” cresceu ainda mais se comparado a anos de eleições municipais – subiu 133% em relação ao mesmo período em 2016 e em 2012. Os anos de 2010 e 2014 apresentaram a mesma média de interesse pela questão. E 2018 já é o que registra o maior número de consultas com essa pergunta no buscador dentro desse período de um ano eleitoral.
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A tendência é que o interesse por essas perguntas aumente nas próximas semanas. Nas eleições anteriores, elas atingiram o pico em outubro, perto do primeiro turno, e sumiram na primeira semana de novembro, no fim do segundo turno. De janeiro de 2010 para cá, as eleições que tiveram a maior concentração de buscas por “como anular o voto?” durante o mês de outubro foi 2014. A votação naquele ano somou um total de 9,6% de votos brancos e nulos, cerca de 11 milhões dos 143 milhões de eleitores do Brasil. Também foi a eleição com o maior número de abstenções desde 1998 – não é possível saber o número de eleitores que deixaram de votar por vontade própria e quantas dessas abstenções são falhas no sistema de cadastramento eleitoral.
O último pleito municipal nas duas cidades com maior número de eleitores no país, em 2016, indica uma dificuldade de escolha de lado por parte do eleitorado. Em São Paulo, votos brancos e nulos somaram 16,6% do total. Somados às abstenções, esses votos representaram um número maior de eleitores do que o que elegeu João Doria, do PSDB, prefeito da cidade no primeiro turno. Foram 3.096.304 votos em branco, nulos e abstenções. E Doria obteve um total de 3.085.187 votos. No Rio de Janeiro foi parecido. Marcelo Freixo, do PSOL, e Marcelo Crivella, do PRB, receberam juntos 1,4 milhão de votos. Por sua vez, na capital carioca, 1,8 milhão de pessoas não votaram em nenhum candidato. Em Belo Horizonte, também entre os cinco maiores colégios eleitorais do país, a situação foi parecida. Na capital mineira, João Leite, do PSDB, e Alexandre Kalil, do PHS, os candidatos que disputaram o segundo turno, tiveram menos votos juntos – cerca de 711 mil – do que o total de abstenções, nulos e brancos, que foram 742 mil.
De janeiro de 2010 a 25 de setembro de 2018, as regiões Sul e Sudeste lideraram na busca por “Como anular o voto?” São Paulo foi o estado em que a dúvida mais apareceu, seguido de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Já as cidades com maior registro de buscas foram Rio de Janeiro, Diadema, Belo Horizonte e São Paulo, todas na região Sudeste.
Ao expandir o período de análise, consultando os volumes de busca pela mesma dúvida desde 2004, ano de início do registro de buscas da plataforma Google Trends, é possível perceber que os eleitores daquele ano não recorreram tantas vezes ao Google para se informar sobre voto nulo. O mesmo ocorre em 2006 e 2008. Era uma época antes da popularização do smartphone. Ao todo, os pontos mais altos de buscas pela frase “Como anular o voto?” naqueles anos, somados, não alcançam o volume de buscas por essa frase registrado só em outubro de 2014.
A busca simplesmente por “voto nulo” no período de 1º de janeiro a 25 de setembro de 2018 também cresceu 23% em relação a 2014. E dobrou em relação a 2016. Nos últimos oito anos, as pesquisas por “voto nulo” foram frequentes em todos os estados, exceto Roraima, que não apresenta dados suficientes sobre essa pesquisa no Google. As consultas feitas em 2018 lideram na maioria dos estados. Apenas o Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe, Distrito Federal e Alagoas tiveram mais procura por essa combinação em 2014. No Amapá a curiosidade pelo voto nulo foi maior em 2012, já no Piauí e na Paraíba, em 2010.
“Como justificar o voto?” é uma pergunta que eleitores fizeram ao Google mais vezes em 2014 e mais ainda em 2010. Este ano, os estados que mais fazem a pesquisa são Tocantins, Amazonas, Paraíba, Piauí e Mato Grosso. Nas eleições municipais de 2016, mais de 8,5 milhões de pessoas justificaram seus votos nos dois turnos em todo o país. No primeiro turno, os paulistas foram os que mais apresentaram justificativas para não votar (1,8 milhão), seguidos dos mineiros (997 mil) e baianos (711 mil). Já no segundo turno, os cariocas lideraram o ranking (225 mil), sucedidos pelos paulistas (95 mil) e mineiros (81 mil).
A dúvida “O que acontece se não votar?” tem inquietado os eleitores ano após ano. Embora 2010 tenha tido picos altos e isolados de busca entre janeiro e setembro, 2018 ainda é o ano em que essa pesquisa foi mais realizada. Quem não vota, precisa pagar uma multa para não perder alguns direitos, como não poder solicitar ou renovar passaporte e carteira de identidade. Em relação a 2014, a subida neste ano foi de 71%. Em relação a 2016, mais do que dobrou: 140%. A subida, comparada com os anos de 2012 e 2010 é mais desequilibrada ainda: 266% e 450%, respectivamente. Seguindo a mesma linha, as buscas por “multa por não votar” também aumentaram: subiram 50% em relação a 2014 e 80% em relação a 2016. Naquela eleição, cerca de 29 milhões de eleitores foram multados no primeiro e no segundo turno por não comparecerem ao local de votação sem justificativa. A multa por não votar nem justificar varia entre 3 reais e 51 centavos até 35 reais e 10 centavos, a depender do julgamento de cada juiz eleitoral.
Pesquisas como “O que acontece com o voto nulo?” tendem a aparecer em meados de agosto e continuam até o fim do segundo turno. O ano de 2018 também se destaca em relação a outras eleições, com volume de buscas 35% maior do que em 2014, o segundo ano do período analisado com maior volume de perguntas sobre o tema. O intuito com a pergunta, na maior parte das vezes, é descobrir se é possível anular a eleição com certo percentual de votos nulos e brancos, ideia que passou a ser compartilhada na internet nos últimos anos como alternativa aos “políticos corruptos”. Essa afirmativa é falsa, pois a contagem de votos só leva em consideração os votos válidos, excluindo os nulos e em branco. Mesmo que a maioria da população tenha anulado ou votado em branco, ganha quem receber o maior número de votos válidos.
As perguntas sobre como votar em branco e suas variações estão em crescimento, entre subidas e quedas pontuais, desde a semana do começo oficial da campanha, em 15 de agosto. A busca por “votar em branco” teve picos maiores em fevereiro, março, junho, agosto e setembro de 2010, antes do pleito em que José Serra e Dilma Rousseff disputaram a presidência. Em geral, as pesquisas por esses termos naquele ano foram menos recorrentes do que em 2014, e menores ainda do que em 2018 – também o ano campeão no volume de consultas por esses termos no período analisado.