minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    O escritor Bruce Chatwin com sua mochila, em 1982 CRÉDITO: LORD SNOWDON_TRUNK ARCHIVE_1982

autobiografia

Como Werner Herzog herdou a mochila de Bruce Chatwin

Memórias do diretor alemão serão lançadas no próximo mês no Brasil

| 21 maio 2024_09h37
A+ A- A

“Talvez eu fosse o único com quem Bruce [Chatwin] podia se entender facilmente sobre a sacralidade do caminhar”, escreve o cineasta alemão Werner Herzog no seu livro Cada um por si e Deus contra todos: memórias. “Não éramos mochileiros que, com barraca, saco de dormir e utensílios para cozinhar, carregavam uma casa nas costas, mas duas pessoas que percorriam longas distâncias quase sem bagagem. O mundo se revela a quem viaja a pé.”

As memórias de Herzog serão lançadas em junho no Brasil (pela Editora Todavia), e o encontro do cineasta com o escritor inglês Bruce Chatwin é tema do capítulo do livro que a piauí antecipa neste mês. O primeiro contato deles foi motivado pelo interesse de Herzog em adaptar para o cinema o romance O vice-rei de Uidá, de Chatwin. Em 1987, ele iniciou as filmagens do livro, tendo no papel principal Klaus Kinski, com quem já trabalhara em quatro longas, entre eles Nosferatu – O vampiro da noite e Aguirre, a Cólera dos Deuses.

As confusões causadas pelo ator durante a realização de Cobra verde, quase ameaçaram o filme. O próprio diretor rememora:

A colaboração entre Kinski e eu muitas vezes chegou a extremos, a zonas onde nos tornávamos perigosos um para o outro. Planejamos matar um ao outro, o que não passou de uma pantomima, de uma cena grotesca. Uma noite, subi a encosta íngreme que levava até seu chalé em San Francisco, situado no meio das sequoias ao Norte da cidade (o caminho normal, transitável, ficava do outro lado) para atacá-lo. Mas eu não tinha muita certeza do que queria fazer e, quando o cão pastor dele começou a latir, foi uma boa deixa para escapar dali.

Em 1989, nos últimos dias de vida de Chatwin, o cineasta encontrou-se com o escritor para mostrar-lhe o seu filme mais recente, Wodaabe, pastores do sol. Herzog conta:

De Bruce, restava somente um esqueleto, apenas os grandes olhos ainda ardiam em seu crânio, e ele quase não conseguia mais falar. […] Quando eu por fim estava indo embora, a pedido dele, Bruce disse num instante de perfeita lucidez: “Werner, você tem que ficar com minha mochila, você vai carregá-la em meu lugar.”

Alguns dias depois, Chatwin morreu, aos 48 anos, em decorrência da Aids. Passado algum tempo, a mulher do escritor enviou para Herzog a mochila. “De todas as coisas materiais que possuo, é ela, feita de couro resistente por um seleiro de Cirencester, na Inglaterra, a mais preciosa para mim”, escreve o diretor em suas memórias.

Assinantes da revista podem ler a íntegra do trecho neste link

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí