Éamanhã. Luciano Huck recebeu ultimato para definir até esta sexta-feira se é candidato ou não. Foi dado pela Rede Globo, que evocou a cláusula padrão dos contratos da emissora segundo a qual todo contratado tem que avisar com um ano de antecedência se disputará cargo eletivo. Encontros de Huck com políticos como Fernando Henrique Cardoso dariam base, em tese, para a emissora cobrar a multa rescisória, equivalente a vários “salários” do apresentador. Pagar dezenas de milhões de reais de indenização – ou levar a disputa à Justiça – é o preço para Huck viabilizar sua candidatura à Presidência. Talvez não seja tão caro assim.
Simulado ou real, o conflito público com o empregador permitiria ao apresentador tentar se livrar da pecha de “candidato da Globo”. Seria também uma maneira de a emissora dizer que não tem candidato naquela que promete ser a eleição presidencial mais acirrada desde o fim da ditadura. A disputa contratual pode ser a base de um acordo tácito entre Huck e a Globo. Ou não.
A pressão da mulher, dos pais e do irmão para que Huck não seja candidato não arrefeceu. Apresentadora como o marido, Angélica também perderia seu contrato com a emissora. De horário próprio na programação da tevê passaria a ser candidata a primeira-dama. A tempestade nas mídias sociais durante o Carnaval – motivada pela notícia de que Huck teve seu jatinho financiado pelo BNDES a juros negativos (menores do que a inflação) – deu uma amostra do que ele tende a enfrentar se vier a confirmar sua candidatura.
Há também questões judiciais envolvidas na decisão. Nesta quinta-feira, o ministro Napoleão Nunes, do Tribunal Superior Eleitoral, arquivou denúncia de dois senadores do PT contra Huck e seu colega Fausto Silva por abuso de poder econômico. O motivo foi uma aparição do apresentador no Domingão do Faustão, em 7 de janeiro, que os petistas consideraram campanha antecipada. Na sua defesa, Huck disse que não é candidato. Essa afirmação foi repetida na sentença do ministro. Se o apresentador se candidatar, o caso pode ressuscitar.
Falando no outro ouvido do apresentador estão políticos como FHC e Roberto Freire – presidente do PPS, partido pelo qual Huck se candidataria. Mas não só. Entres os apoiadores da candidatura presidencial estão alguns dos maiores empresários do país, como Jorge Paulo Lemann, e financistas como Armínio Fraga e Eduardo Mufarrej. Este último criou um mecanismo para apoiar candidatos – a maioria a deputado federal – chamado RenovaBr. Esboço de uma base parlamentar huckiana? O vídeo com uma fala do apresentador foi uma das atrações do evento de lançamento do movimento.
Mas nenhum empresário ou político levantou argumentos mais fortes para reanimar o Huck candidato do que a condenação de Lula em segunda instância e a perspectiva de o ex-presidente vir a ser preso. Pesquisas encomendadas pelo apresentador mostram que ele tem potencial para conquistar uma fatia dos eventuais órfãos da candidatura do petista, especialmente os mais pobres.
Nesse segmento do eleitorado a história de Huck tem mais apelo. É entre quem cola melhor o que os estrategistas do apresentador gostam de chamar de narrativa “aspiracional”. Segundo ela, o Huck candidato seria um novo capítulo do Huck apresentador. Como na tevê, ele representaria o facilitador que ajuda outros a realizarem seus sonhos. A diferença seria de escala: em vez de um telespectador por programa, milhões de eleitores por eleição.
Da idealização do roteiro ao sucesso nas urnas vai um longo caminho, cheio de armadilhas e contradições. Resolver a primeira delas é condição indispensável para a jornada do candidato poder mesmo começar: ser um nome global sem ser o candidato da Globo.
P.S.: O anúncio oficial só sai nesta sexta, mas o colunista Lauro Jardim, de O Globo, publicou nota em sua coluna on-line afirmando que Huck decidiu não se candidatar. Sinal de que não conseguiu resolver o conflito com a Rede Globo.