Conversão na fé ou na marra

A fila de bicicletas na frente da igreja Assembleia de Deus, às quatro horas da tarde de segunda-feira, 25 de novembro, chamava a atenção dos moradores da cidade de Tarauacá, município distante a cerca de 450 km da capital do Acre, Rio Branco. Nem mesmo em dias de culto a entrada do templo ficava tão agitada assim. As bicicletas se espalhavam pelos dois lados da Avenida João de Paiva, Centro da cidade. Dentro da igreja, de joelhos, dezenas de jovens aceitavam Jesus Cristo “como o único Senhor e salvador de suas vidas”. Era uma espécie de mutirão da conversão. Cada conversão era registrada em vídeo e divulgada nas redes sociais do convertido. A decisão de buscar uma nova vida nos caminhos de Jesus, porém, não era espontânea – mas uma imposição de uma facção criminosa para que continuassem vivos. 

Tarauacá tem 42 mil habitantes. É conhecida no Acre por produzir os maiores abacaxis (fruto) do estado, e por isso é chamada de cidade do abacaxi gigante. Naquela segunda-feira, o abacaxi gigante ali era outro. Tarauacá foi a melhor (ou talvez a pior) representação da crise de violência que o Acre enfrenta nos últimos anos, por conta da guerra entre facções criminosas formadas no Sudeste do país, principalmente o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital. O objetivo delas é controlar a rota da droga produzida na Bolívia e no Peru. Vizinho desses dois países, o Acre tem posição geográfica estratégica para os grupos criminosos que têm no tráfico sua principal fonte de financiamento. E o município de Tarauacá está justamente na rota de passagem da droga. Por isso, controlar Tarauacá é essencial para o sucesso do negócio.