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Sob a curadoria de Daniela Pinheiro, repórter da piauí, renomados repórteres de seis diferentes países vão contar como seus trabalhos trouxeram à tona casos de corrupção, tirania, pedofilia

26ago2016_15h52

Sob a curadoria de Daniela Pinheiro, repórter da piauí, renomados repórteres de seis diferentes países vão contar como seus trabalhos trouxeram à tona casos de corrupção, tirania, pedofilia. Os americanos Walter Robinson, vencedor do Pulitzer como chefe da equipe de repórteres Spotlight, do Boston Globe, com as denúncias de casos de pedofilia na Igreja, e Jon Lee Anderson, escritor, correspondente de guerra e colaborador da New Yorker; Ginna Morelo, que trabalha no jornal El Tiempo, em Bogotá, escreveu sobre crimes cometidos por um esquadrão da morte no interior da Colômbia; o alemão Thomas Kirsten, autor do livro Fifa Máfia – O Livro Negro dos Negócios do Futebol; o italiano Gianni Barbacetto, que contou a história da grande operação contra a máfia em seu país no livro Mani Pulite – La Vera Storia 20 Anni Dopo; o venezuelano César Batiz, autor de reportagens sobre a censura nos governos Chávez e Maduro; o russo Mikhail Zygar, autor de All the Kremlin’s Men, sobre os bastidores da era Putin; e Michael Hudson, editor do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos – que, entre outros trabalhos, coordenou a série de reportagens sobre os Panama Papers.

Thomas Kistner

Thomas Kistner é jornalista do diário alemão Süddeutsche Zeitung. Há cerca de vinte anos apura e revela histórias sobre os interesses econômicos e políticos que financiam e alimentam o mundo do futebol. No repertório das suas reportagens, corrupção, tráfico de influência e doping.

A visão e a abordagem da imprensa sobre o esporte apenas como entretenimento transformou muitos profissionais em fãs e veículos em agências de marketing. Thomas Kistner é conhecido por ser o avesso disso.

No livro Schuss – Die Geheime Dopinggeschichte des Fußballs, algo como O chute – O doping secreto do futebol, Kistner fala como a prática, geralmente associada a atletas olímpicos, seria também responsável pelo desempenho de integrantes de seleções campeãs.

Mas certamente o trabalho mais conhecido do alemão envolve não o esporte em si, mas a instituição por trás dele. Em Fifa Máfia – O Livro Negro dos Negócios do Futebol, Kistner conta em detalhes como e por que a maior entidade de futebol do planeta passou a ser investigada pelo FBI e pela Interpol. O livro ainda revela documentos até então inéditos que comprovariam casos de corrupção na federação.

Em 2006, Thomas Kistner recebeu o prêmio Theodor Wolff, um dos mais importantes da imprensa alemã, como profissional do ano na categoria esporte.

Michael Hudson

Michael Hudson é, há quatro anos, editor-sênior do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o ICIJ. Como integrante do consórcio, foi um dos jornalistas designados para investigar as centenas de documentos conhecidos como Panama Papers. A operação, que contou com profissionais de diferentes países, mostrou como empresas off shore eram usadas para pagamento de propina e transações financeiras não declaradas oficialmente. Nesse trabalho, Michael Hudson revelou que cerca de vinte jogadores de futebol mundialmente famosos, ainda em atividade e aposentados, teriam empresas off shore até então desconhecidas.

Ao longo da carreira, o jornalista americano já teve reportagens publicadas nos jornais The Wall Street Journal, The New York Times, The Washington Post, Le Monde, El País e na revista Forbes. Boa parte desse trabalho foi dedicado à investigação de instituições financeiras que mais tarde estariam comprovadamente envolvidas com a crise das hipotecas americanas, em 2008. Colegas de profissão chamam Hudson de “O homem que sacudiu o mundo de abusos do subprime” e de “Guru dos empréstimos predatórios”.

A Columbia Journalism Review declarou que “é um espanto que um repórter tenha conseguido reunir aquilo que não conseguiram nem o departamento de Justiça americano, a federação de comércio e o órgão regulador do mercado de capitais do país”.

Ginna Morelo

Ginna Morelo, que trabalha no jornal El Tiempo, em Bogotá, escreveu sobre crimes cometidos por um esquadrão da morte no interior da Colômbia – o que lhe valeu prêmios, mas também uma terrível lembrança: uma de suas fontes foi assassinada depois da publicação da matéria. É de sua lavra a série de reportagens sobre desaparecidos no México e na Colômbia, um trabalho investigativo reconhecido internacionalmente.

Ela é  autora dos livros Tierra de Sangre: Memorias de las Víctimas e Córdoba: Una Tierra que Suena, sem tradução para o português. É coautora de outros títulos sobre jornalismo ambiental, violência e liberdade de imprensa no México.

Jon Lee Anderson

Jon Lee Anderson é colaborador da revista The New Yorker desde 1998. Mas mais significativos que o veículo para o qual trabalha e para os quais já trabalhou foram as reportagens e os perfis que assinou em quase quarenta anos de carreira.

O jornalista foi correspondente em praticamente todas as zonas de conflito e guerra dos anos 80 e 90: Afeganistão, Iraque, Uganda, Israel, El Salvador, Irlanda, Líbano e Oriente Médio estiveram na rota de trabalho de Jon Lee Anderson. Quanto aos perfis de personalidades, ele assinou os de homens como Hugo Chávez, Fidel Castro, Augusto Pinochet e Gabriel García Márquez.

O auge desse trabalho de pesquisa, observação e apuração na produção de um perfil está no livro Che Guevara – Uma Biografia, de 1997. Nele, Jon Lee Anderson revela histórias contadas por pessoas do círculo íntimo e companheiros de luta do líder revolucionário. Segundo críticos, a obra é justa ao tratar da complexidade da personalidade do biografado. E ainda tem como mérito um dos maiores furos jornalísticos do fim do século XX: revela onde foram enterrados os restos mortais de Che Guevara.

César Batiz

César Batiz integra a equipe de dois veículos de mídia independente da Venezuela: a plataforma de dados Poderopedia e o canal online El Pitazo.

No Poderopedia, que também existe no Chile e na Colômbia, César coordena a equipe venezuelana que faz um mapeamento das relações de poder entre pessoas, empresas e organizações. No site, é possível encontrar perfis detalhados de empresários, políticos e militares que tiveram influência sobre decisões da esfera pública.

Já no El Pitazo, César Batiz e outros quinze jornalistas buscam revelar informações e histórias que não ganham espaço nos grandes veículos do país.

Mas pouco antes de integrar essas equipes de jornalismo independente, César Batiz coordenava a equipe do diário Últimas Noticias. Em 2015, os jornalistas do diário foram premiados por revelar que homens da polícia do presidente Nicolás Maduro mataram um manifestante durante uma marcha estudantil em fevereiro de 2014.

Mikhail Zygar

Mikhail Zygar passou os últimos dezesseis anos – desde que Vladimir Putin assumiu o poder na Rússia – entrevistando pessoas ligadas direta e indiretamente ao presidente e ao Kremlin. O resultado desse trabalho está no livro All the Kremlin´s Men, publicado em 2015, que revela os meandros de importantes decisões políticas no país e a falta de transparência delas. Fatos narrados no livro têm ganhado espaço e repercutido na imprensa de diferentes países.

A queda de braço do jornalista com o poder também está no DNA da Dozdh TV (ou RainTV ), considerado o principal veículo de mídia independente russa. Em 2010, tendo Mikhail Zygar como editor-chefe, o canal era exibido na tevê a cabo, mas depois de propor ao telespectador uma enquete que desagradou o Kremlin teve contratos encerrados e migrou quase que exclusivamente para a internet. Em seu livro, Zygar afirma que muitas enquetes e debates propostos pelos meios de comunicação oficiais servem na verdade para legitimar as decisões do governo russo. Daí a iniciativa da Dozdh TV ter desagradado tanto.

Durante a gestão do jornalista na emissora, de 2010 a 2015, as coberturas da prisão das integrantes da banda Pussy Riot, dos protestos de rua de 2011 e 2012 e dos conflitos com a Ucrânia chamaram a atenção pela quantidade de informações e denúncias que traziam. Muito diferente da cobertura realizada pelos veículos oficiais.

Mikhail Zygar também trabalhou na Newsweek russa e no jornal Kommersant, cobrindo conflitos na Palestina, Líbano, Iraque, Sérvia e Kosovo.

Walter Robinson

Walter Robinson esteve à frente da equipe que colocou a Igreja católica nas manchetes de jornais em todo o mundo como uma instituição envolvida em casos de pedofilia.

Em 2002, ele era o editor-chefe da equipe de jornalismo investigativo do jornal americano The Boston Globe, que revelou com detalhes como padres abusavam sistematicamente de crianças das paróquias e como bispos e advogados se organizavam para dar cabo das denúncias e manter esses padres atuando.

O trabalho de investigação resultou em mais de seiscentas reportagens que em 2003 renderam a Walter Robinson o Pulitzer, maior prêmio da imprensa americana. Em 2016, o filme vencedor do Oscar contou a história desde a apuração até a publicação da primeira matéria, trazendo no título o nome da seção do jornal chefiada por Robinson: Spotlight.

Walter Robinson esteve à frente da seção Spotlight até 2006. Mas antes disso, ainda no Boston Globe, também atuou como repórter de política, cobrindo pelo menos duas gestões presidenciais, além de ter sido correspondente internacional.

Robinson lecionou jornalismo em diversas universidades americanas e atualmente integra o quadro de professores parceiros da Universidade Stanford.

Gianni Barbacetto

Gianni Barbacetto é jornalista e colunista do diário Il Fatto Quotidiano e diretor do Omicron, sigla em italiano para Observatório Milanês sobre o Crime Organizado no Norte.

Seu trabalho mais conhecido dentro e fora da Itália foi publicado em 2012. O livro Mani Pulite, de autoria dele e mais dois colegas, conta em detalhes a operação de mesmo nome que na década de 90 prendeu políticos e empresários acusados de corrupção e mudou definitivamente a configuração partidária do país. O livro também é assinado por Peter Gomez e Marco Travaglio. No Brasil, essa ação é conhecida como Mãos Limpas. E com os mesmos colegas – Gomez e Travaglio –, Barbacetto publicou, em 2007, cinco anos antes, outro livro: Mani Sporche, tradução livre para “mãos sujas”. A obra deu conta dos desdobramentos da mesma operação entre 2001 e 2007.

Isso porque uma das principais consequências da operação Mãos Limpas foi o surgimento de Silvio Berlusconi no cenário político italiano, até então um magnata da comunicação do país. Só depois do sucesso desse livro, Mani Sporche, que os jornalistas lançaram o best seller Mani Pulite, considerada a obra definitiva sobre o caso.

Gianni Barbacetto ainda tem no currículo outra obra polêmica e diretamente ligada a Berlusconi: a história em quadrinhos Ruby: Sexo e Poder em Arcore. Com ilustrações e diálogos irônicos, a publicação fala do processo que acusa o ex-primeiro-ministro de ter se envolvido com prostituição infantil. Durante a carreira, o jornalista nascido em Milão trabalhou em jornais e rádios italianos, foi diretor de uma revista mensal por dez anos e apresentou um programa de economia e finanças na tevê.

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