Nenhum cantor brasileiro superava Leny Andrade no shá rá bá rá bá. A carioca de 80 anos, que morreu nesta segunda-feira, se notabilizou não apenas como uma sofisticada intérprete de sambas, boleros, sambas-canções e sucessos da bossa nova, mas também como uma exímia e fiel adepta do scat singing, o improviso vocal.
No jazz, a improvisação costuma partir dos instrumentistas. Enquanto tocam determinada música, eles vão inventando novas melodias e as adequando à harmonia original. Há cantores que fazem o mesmo, só que com a voz. Como se virassem um piano, um trompete ou um contrabaixo, entoam sílabas que, sem constituir palavras, transformam-se em melodia. As americanas Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan encantavam o público sempre que temperavam canções com sons do tipo shu bee doo bee doo. Leny também fascinava toda vez que atacava de shá rá bá rá bá, dui bop du bá, drei u dei e afins. Principalmente por dominar o scat singing, a artista ganhou reconhecimento internacional e a admiração de estrelas como Liza Minelli e Tony Bennett.
Em março de 2019, a piauí 150 publicou um perfil da cantora. Meses antes, Leny havia trocado o prédio de Botafogo onde vivia desde 2002 pelo Retiro dos Artistas, a centenária comunidade para idosos no Rio de Janeiro. Ela, que não tinha filhos, ainda morava lá quando morreu. Nos últimos anos, passou a sofrer de um distúrbio cognitivo, a demência por corpos de Lewy. “Ganhei dinheiro à beça, mas não enriqueci. Houve uma época em que me pagavam 15 mil dólares apenas para aparecer na tevê”, contou à piauí. “A questão é que sou ótima gastadora. Comprei joias, roupas, sapatos, carros… Só não comprei apartamento. Vou deixar para quem?”