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    Facas com imagem de Bolsonaro à venda em Santa Rita do Araguaia, em Goiás, divisa com Mato Grosso, na margem da BR 364 Foto: Elvira Lobato

questões do brasil profundo

Faca do “Mito”, voto escondido em Lula: a Amazônia à espera da eleição

Ao longo de uma jornada de mais de 3 mil km por duas das principais rodovias da região, os motivos de bolsonaristas e petistas para votar em seus candidatos

Elvira Lobato | 24 out 2022_07h15
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Um outdoor na BR-163 anuncia a adesão do vilarejo Caracol à reeleição de Jair Bolsonaro. A comunidade de ruas empoeiradas e casas de madeira fica no município de Trairão, no Pará, a cerca de 600 km da divisa com Mato Grosso. Grande parte de seus habitantes tem origem no Sul do país e desmatou para criar gado e lavouras. A possibilidade de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva tira o sono de moradores como o catarinense Neudi Perotto, que mora há vinte anos na localidade. “Nóis vai ter que correr daqui se Lula ganhar. Tem mais de cem ONGs (organizações não governamentais) esperando pra nos tirar. Tudo isso aqui vai virar reserva de índio. Se Bolsonaro perder, nóis pode ir pra cidade passar fome e pegar Bolsa Família”, afirma.

A história de Perotto é semelhante à de outros bolsonaristas ouvidos pela piauí entre 12 e 30 de setembro numa viagem de mais de 3 mil km de carro por 17 municípios da região amazônica. A jornada percorreu inclusive as duas rodovias federais que rasgam a maior floresta tropical do mundo: BR-163 e a Transamazônica. A reportagem percorreu 1.767 km de Cuiabá (MT) a Santarém (PA) pela BR-163 e cerca de 400 km de Santarém até Altamira (PA), pela Transamazônica e pela rodovia estadual PA-370, que corta a floresta em áreas ainda intactas. De Altamira a Belém, via Tucuruí, foram mais 850 km. O percurso total da expedição (ida e volta a partir do Rio de Janeiro) somou 8.250 km, dos quais 329 km em rodovias não asfaltadas no Pará.

Os eleitores de Bolsonaro entrevistados são migrantes com pouca escolaridade, espírito aventureiro e disposição para o trabalho pesado. Contam histórias de superação da pobreza às custas de danos ao meio ambiente. Na maioria dos municípios visitados, Bolsonaro venceu com larga vantagem sobre Lula no primeiro turno – teve 49,7% dos votos válidos nesses lugares, contra 38,9% do petista. Somados, esses municípios são apenas 1,44% do eleitorado brasileiro. Lula ganhou a eleição no Pará com 52,22% dos votos. Em Mato Grosso, Bolsonaro venceu com 59,84%.

O trajeto de mais de 3 mil km feito pela piauí em municípios da região amazônica

 

“A derrubada da Amazônia não vai acabar”

Neudi Perotto teve uma infância pobre no interior de Santa Catarina. O pai produzia carrocerias de caminhões e os filhos mantiveram o ofício. Tinha 22 anos quando a família migrou para Sinop, no Mato Grosso, situada no km 868 da BR-163. Ele lembra que Sinop era uma “currutela de ruas alagadas e muito mato” e hoje é uma potência econômica. O catarinense acompanhou o avanço do agronegócio pela Amazônia e foi se mudando em busca de terras mais baratas, acompanhando a abertura de novas fronteiras agrícolas. Antes de se instalar em Caracol, viveu em Guarantã do Norte, último município na margem da BR antes da divisa com o Pará.

Perotto defende a diminuição das reservas florestais com o argumento de que o percentual de reserva obrigatória deveria ser uniforme em todo o país. “Cada estado tem de criar a reserva dele e deixar nóis trabalhar”, afirmou. Ele contou que teve equipamentos agrícolas confiscados por fiscais do Ibama e que foi detido dentro da propriedade rural durante o governo Lula. Daí o medo da vitória petista. “Se Bolsonaro perder, estamos com os dias contados. Vai ser um choque bravo. Ave Maria!”

Neudi Perotto, eleitor de Bolsonaro da comunidade de Caracol (PA)

 

O paranaense Ênio Jose Milcharek, de 63 anos, pensa mais ou menos como ele, embora defenda que haja limites para propriedades rurais na Amazônia para evitar a concentração nas mãos de poucos. Mora na região da Serra do Cachimbo, no estado do Pará, a 100 km da divisa do Mato Grosso, e declarou abertamente ser grileiro. Milcharek relatou que na década de 1990 comprou 4.114 hectares de um posseiro, queimou “milhares” de árvores para plantar capim com o propósito de arrendar pastos aos criadores de gado. Sua estratégia naufragou em 2005, com a criação da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, para proteção das nascentes dos rios Xingu e Tapajós. Disse que foi expulso da terra pela Polícia Federal e pelo Ibama, no governo do então presidente Lula, mas que ainda alimenta a esperança de reavê-la. Por isso, apoia Bolsonaro.

Morador da região da Serra do Cachimbo (PA), Ênio José Milcharek é eleitor de Bolsonaro

 

Milcharek tinha 33 anos quando deixou o emprego de vendedor de equipamentos para postos de combustíveis no Paraná e candidatou-se a um lote de terra em Guarantã do Norte oferecido pelo programa de reforma agrária. A mulher, a mãe e um irmão que era mecânico de automóvel o acompanharam na aventura. Segundo ele, a viagem foi feita de fusca. Em Guarantã do Norte, encontrou um projeto de assentamento dividido em setores. “O meu se chamava Gleba Nhandu. Era pura mata, malária e sofrimento.” Milcharek perdeu até a conta de quantas malárias contraiu. Achou ouro o suficiente “para viver muito bem” e vendeu as terras de Guarantã por meio quilo de ouro. “Com o dinheiro, comprei uma área maior no Pará, onde as terras são mais baratas.”

– Eram terras da União?

– Comprei de um posseiro que já estava lá.

– O senhor não temia perder as terras, já que não tinham documento?

– Não, porque havia um projeto dos governos anteriores de ampliar a ocupação da Amazônia. E eles [as autoridades] foram deixando a gente fazer.

Pergunto sobre a fumaça ao longo da BR-163, em Mato Grosso e no Pará. É mata sendo queimada?

– Claro que é. E não vai parar. Não adianta o presidente ou quem quer que seja querer [proibir]. A derrubada da Amazônia não vai parar.

– A floresta vai queimar até acabar?

– A floresta não vai acabar. Saem as árvores centenárias, mas nascem árvores mais fracas. A Amazônia tem poder de regeneração. As sementes ficam dormindo na terra e brotam.

– Quantas árvores o senhor derrubou?

– Milhares.

– O que fez com elas?

– Pus fogo. Era assim naquela época, e continua assim.

Milcharek é eleitor de Bolsonaro. Pergunto se acha que o presidente será reeleito.

– Segundo a internet, sim. Segundo a TV Globo, não.

– Se ele perder?

– Volta tudo a ser como antes. Vai ser ruim para a Amazônia.

Ele vive sozinho desde que a mulher morreu de embolia pulmonar e seus dois filhos voltaram para o Paraná. Sua diversão, segundo disse, é contar caminhões na rodovia.

 

A uma semana do primeiro turno das eleições, o bolsonarista Firmino Augusto de Oliveira, natural de Picos, no Piauí, e o lulista Robson Mercês, de Salvador (BA), divergiam educadamente sobre as chances de seus candidatos, sentados na churrascaria Dona Odete, na Rodovia Transamazônica. O restaurante de comida a quilo fica na comunidade Maracajá, município de Novo Repartimento, a 510 km de Belém, e é ponto de parada de caminhoneiros que transportam madeira, cacau e outros produtos da região.

Cordialidade entre bolsonaristas e lulistas é rara de se ver na Amazônia na atual campanha eleitoral. O ambiente na região está duplamente contaminado: pela fumaça das queimadas e pelo acirramento dos ânimos de apoiadores mais radicais do presidente Bolsonaro. 

Oliveira, de 53 anos, é o proprietário do restaurante, e sua mulher, Odete, é a cozinheira cujo tempero atrai a clientela fiel. Robson Mercês, de 37 anos, é caminhoneiro. Os dois são amigos de longa data e só por isso conseguiram preservar o relacionamento. Oliveira explicita sua opção política com uma bandeira do Brasil sobre uma das mesas. Ao explicar as razões de sua escolha, repetiu o discurso de extrema direita do atual presidente. “Apoio Bolsonaro porque ele é homem e não aceita deboche. Ele é contra homossexual, contra sapatão, não aceita roubo. Eu sou um cara puro. Nunca bebi cachaça, nunca fumei um cigarro. Sou católico, pago o dízimo, e defendo meu país. Sou patriota.”

– O que faria se tivesse um filho homossexual?

– Pediria a Deus pra levar ele.

– E se tivesse uma filha lésbica?

– Também pediria a Deus pra levar ela.

– O que vai fazer, se Lula ganhar a eleição?

– Se eu tiver condição, vou embora para Portugal.

– Acha que os bolsonaristas podem se revoltar e pegar em armas?

– (…) Se me chamarem pra brigar, estou junto.

Os eleitores radicais de Bolsonaro entrevistados em localidades remotas da Amazônia têm em comum a baixa escolaridade. Oliveira só estudou até a quarta série. Filho de trabalhadores rurais, deixou o Piauí aos 15 anos para ser empregado em uma fazenda de gado em Goiás. Lá conheceu a futura mulher, Odete, três anos mais jovem. Casaram-se quando ele completou 18 anos. Anos mais tarde, comprou 22 alqueires de terra no Pará (uma pequena propriedade para os padrões da Amazônia), onde plantou roça e teve 95 cabeças de gado. Vendeu a fazenda para comprar o restaurante. Pergunto sobre como seu deu a ocupação da terra que adquiriu.

– As árvores foram queimadas ou derrubadas?

– Derrubamos com motosserra.

– E venderam a madeira?

– Quando a gente vai preparar a terra para fazer a roça, não pensa em vender a madeira. A gente derruba pra plantar milho, arroz, capim para o gado.

– Não acha errado desperdiçar a madeira?

–Tudo o que se faz para sobreviver não é errado. O que eu acho mais errado é uma pessoa prejudicar a vida de outro.

– Você acha que derrubar a floresta para plantar soja ou gado é correto?

– Acho correto.

– Não teme que a Amazônia vire um deserto?

– O Nordeste não tem mata. Pros lados de São Paulo e do Rio Grande do Sul tinha mata e não tem mais. Mas lá chove e é frio, certo? Lá tem calor, igualmente aqui. […] Não vai fazer diferença nenhuma.

O amigo caminhoneiro ouve em silêncio o discurso de Firmino e não polemiza. Mas reafirma sua preferência por Lula. “Meu pensamento é de que Lula vai ser reeleito. Na minha visão, o governo de Lula foi melhor do que o de Bolsonaro.”

Apesar de discordarem, os dois se abraçam para uma foto.

O caminhoneiro Robson Mercês, lulista (à esquerda), e o dono de restaurante Firmino Augusto de Oliveira (à direita), bolsonarista

 

“Estou em cima do muro”

A impressão de quem percorre parte da BR-163 e da Transamazônica é de que Bolsonaro não tem adversário na região do agronegócio, porque não se vê material de campanha petista. No Norte de Mato Grosso, a bandeira nacional, símbolo sequestrado pelo atual presidente, tremula nas entradas das fazendas, no topo dos silos de grãos que se sucedem às centenas, nos postos de combustíveis, nas vitrines das lojas, nas fachadas das casas ricas, nas carretas de grãos, em bonés e camisetas.

Na região da Serra do Cachimbo (Pará), a bandeira do Brasil se mistura com as queimadas

 

Na chegada a Nova Mutum, 240 km ao Norte de Cuiabá, uma loja de conveniência vende facas com a imagem de Bolsonaro e cabos feitos com cápsula de bala, e com incrustação de miniaturas de caveira e revólver. A cidade, de cerca de 50 mil habitantes, está entre as mais ricas do agronegócio. Todas as construções parecem novas. As árvores são podadas no mesmo formato. Não há buracos nem lixo nas calçadas. Silos gigantescos se destacam no horizonte plano. Segundo o IBGE, o município tem 398 mil hectares de área com plantio de soja e 286 mil hectares com milho. É também um grande polo produtor de aves, suínos e de gado de corte.

Em Nova Mutum (MT) facas com o rosto de Jair Bolsonaro, expostas em vitrine na margem da BR-163, custam a partir de 545 reais

 

Não se vê propaganda petista em Nova Mutum, onde Bolsonaro teve 70,49% dos votos no primeiro turno. Uma vendedora ambulante de camisetas e de bandeiras verde-amarelas, abordada pela reportagem, disse que se oferecesse material de campanha do PT “levaria uma pisada” dos bolsonaristas. O operário de um abatedouro de aves, que não se identificou, disse que vota em Lula, mas não revela sua predileção nem aos companheiros de trabalho por medo de perder o emprego de carteira assinada. “Fiquei desempregado por muito tempo. É difícil encontrar um emprego assim”, justificou-se.

Publicidade de apoio ao presidente na cidade de Lucas do Rio Verde (MT)

 

Em municípios do Norte do Mato Grosso cortados pela BR-163, como Sorriso, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sinop e Matupá, Lula obteve cerca de um quarto dos votos. O resultado é até positivo para o petista diante da disparidade das máquinas de campanha locais. Ao longo da viagem, a reportagem pôde observar que o eleitor lulista estava na encolha ou se declarava indeciso para escapar da pressão. O vendedor de cestos e vassouras Luiz Alves, de 67 anos, estava nesse time de aparentes indecisos. Ele mora em Itaúba, 600 km ao Norte de Cuiabá. Tem quatro filhos, mas vive sozinho em um barraco de madeira, na margem da estrada, onde vende seus produtos para completar a aposentadoria de um salário mínimo. Disse que mal sabe ler e escrever e que votou em Lula nos dois mandatos dele. Mas escolheu Bolsonaro na eleição passada. “Estou em cima do muro. Tanto faz um como outro. Os dois têm vantagens e desvantagens. Minha vida sempre foi igual. Para mim, não mudou nada. Nunca tive um alqueire de terra e não tenho casa própria.”

Morador de Itaúba (MT), o vendedor de vassouras Luiz Alves faz parte do time dos eleitores indecisos

 

O paraibano André Dantas, de 46 anos, vendedor ambulante de redes, de bonecas de pano, chapéus e outras mercadorias, também afirmou estar indeciso. Ele só frequentou escola por um ano, mas disse saber ler e escrever. A família mora em Catolé do Rocha, no sertão da Paraíba, e ele ganha o pão rodando pelas cidades de Mato Grosso. A cada dia, estaciona o carro em um ponto diferente da estrada e expõe suas mercadorias. Quando deu entrevista, estava no km 940 da BR-163, perto de Itaúba. Está na vida de vendedor nômade desde agosto de 1994, quando fez a primeira viagem a trabalho ao Piauí. Atualmente, seu campo de atuação se restringe a Mato Grosso. Ele comenta sobre a falta de propaganda eleitoral lulista naquele estado: “Não aparece propaganda do Lula, mas ele tem eleitor. Quando a gente conversa, descobre.” Dantas diz que sua família votará em quem ele mandar, mas ele ainda não decidiu. “Tenho tempo.”

Na beira da BR-163, o vendedor ambulante André Dantas diz que também está indeciso

 

Outro indeciso pelos caminhos da BR-163 é o gaúcho João Alberto Popich, de 56 anos, arrendatário de um pequeno restaurante na beira da rodovia 163, no Pará, no município de Itaituba. Deixou o Rio Grande do Sul aos 21 anos e trabalhou em fazendas em Goiás, Mato Grosso, Bahia e Tocantins. Nunca enriqueceu. ‘’Eu via meus conterrâneos donos de fazenda trocando de caminhonete todo ano e eu continuava com minha moto velha.” Passou por garimpos de ouro, onde foi assaltado e quase perdeu a vida. Depois de viver “perdido no mundo” por vários anos, arrendou o restaurante e mora em uma construção ao fundo, tendo apenas a mata como vizinhança.

– Em que vai votar nesta eleição?

– Estou indeciso. São todos mentirosos: Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes. São amigos só na hora de pedir voto.

 

“Os mais humildes vão votar no Lula”

O maranhense Verônico Nicolau Martins, de 35 anos, não teve o sucesso financeiro de outros migrantes que foram para Mato Grosso em busca de terras. Ele mora em uma casa de madeira, praticamente sem móveis, na beira da BR-163, em Itaúba, e sobrevive da venda de castanha do Pará e de sementes de cumaru que colhe na floresta. Os caminhões passam a poucos metros do cômodo em que dorme, mas ele não se queixa do tráfego pesado, pois depende dos passantes para sobreviver. Diz que votou nos candidatos do PT nas eleições presidenciais anteriores e que manteria o voto nesta eleição. Verônico disse que frequentou pouco a escola e apenas sabe ler e escrever.

Em Itaúba (MT), o vendedor de castanha de cumaru Verônico Nicolau Martins é eleitor de Lula

 

– Como o senhor está vendo esta eleição?

– As coisas estão muito difíceis para o pobre. Não tem emprego e está tudo caro demais.

– O senhor vai votar em quem?

– No Lula. A gente vai ao mercado e com 100 reais e não consegue comprar quase nada. Os mais humildes daqui vão votar no Lula.

– O senhor tem receio de dizer publicamente que vai votar no Lula?

– Não, mas a maioria das pessoas daqui vão votar em Bolsonaro.

O baiano Laelson José dos Reis, de 73 anos, é outro eleitor determinado de Lula. Ganha a vida como vendedor das chamadas “garrafadas”, medicações caseiras que ele próprio produz a partir de raízes e folhas da Floresta Amazônica. É um dos vendedores mais populares do mercado municipal de Altamira e entre os produtos que comercializa está um “elixir” para tratamento de Covid, cuja fórmula ele não divulga. (Na verdade, não há tratamento comprovado contra a Covid.)

O baiano e lulista Laelson José dos Reis ganha a vida vendendo “garrafadas”, remédios caseiros para várias doenças

 

“Baiano e pardal tem em todo lugar”, diz Laelson para explicar o motivo de ter buscado um destino tão longe de sua cidade natal: Ibicaraí, no Sul da Bahia. Ele era casado e tinha seis filhos quando sofreu um acidente, aos 33 anos, enquanto trabalhava na construção de uma igreja e caiu de uma altura de 10 metros. Até hoje usa muletas. Disse que se mudou para uma área de floresta próximo de Altamira porque teria sonhado que aquele seria seu destino. Anos mais tarde, a área foi desapropriada em razão da construção da Hidrelétrica de Belo Monte. Com a indenização, comprou uma casa na cidade e montou o ponto de vendas no mercado. Ele declarou ser eleitor de Lula e temer que Bolsonaro não transmita o cargo ao petista, caso seja eleito. Criticou o radicalismo de direita do atual presidente e sua discriminação contra as mulheres. “Se temos a Barragem de Belo Monte, devemos a Lula. Gente do país todo veio trabalhar na construção da usina e até hoje agradece a ele. Bolsonaro quer implantar a ditadura no país, não gosta das mulheres e mentiu que tinha asfaltado a Transamazônica depois de Novo Repartimento. O trecho continua na poeira.”

Entre os bolsonaristas, os lulistas e os indecisos, o mergulho pelas estradas amazônicas mostra um pedaço pouco conhecido do país. No percurso de queimadas, bandeiras do Brasil e outdoors verde-amarelos, as facas com a imagem de Bolsonaro podem ser encontradas em vários lugares. As mais simples custavam 370 reais em um posto de combustíveis na entrada de Santa Rita do Araguaia, cidade goiana na divisa com Mato Grosso. A vendedora disse que as facas se esgotam assim que os estoques são repostos. Pergunto em quem ela vota. Ela confidencia que tanto ela como os demais funcionários da loja votam em Lula – mas não falam publicamente sobre o voto. Têm medo de perder o emprego.