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    Lula, seu candidato a vice Geraldo Alckmin e o candidato a governador Fernando Haddad no comício no Vale do Anhangabaú em São Paulo Foto: Ricardo Stuckert/Facebook

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Nos bastidores do palanque de Lula

Seguranças com fuzis, influencers e área vip: o comício no Anhangabaú visto da coxia

Ana Clara Costa | 23 ago 2022_17h05
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De boné do Movimento Sem Terra (MST), um funcionário da organização do comício de Lula no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, no último sábado, tinha uma função inglória: dizer não a todos os convidados que tentavam, na maioria das vezes sem sucesso, ingressar na área vip do evento – a faixa mais próxima do palco. Lá só podiam ficar candidatos da coligação de apoio ao petista, membros do partido, alguns líderes de movimentos sociais e influenciadores. A imprensa não era permitida. Ali estavam representantes de diretórios de quase todos os partidos da coligação (PT, PCdoB, Psol, PSB, Rede, Avante), líderes de movimentos sociais, civis, estudantis e amigos dos candidatos, além das estrelas daquela tarde gelada: Lula, seu candidato a vice Geraldo Alckmin, o candidato a governador Fernando Haddad, sua candidata a vice Lúcia França e o candidato ao Senado Márcio França. 

Quem portava uma pulseira específica podia deixar a área vip e subir ao palco, como foi o caso do jornalista Juca Kfouri, que chegou ao evento com uma credencial menor, mas, depois de ser barrado pelo rapaz de boné do MST, teve sua entrada no palco permitida. Um grupo de cerca de dez influenciadores, entre os quais estavam o ex-BBB João Luiz e a apresentadora e youtuber Foquinha, foram ciceroneados pela produção do evento até a área vip e dividiam o mesmo espaço que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso por quatro anos, até 2019, pela Lava Jato. Vaccari foi até o espaço vip, recebeu elogios de apoiadores por não ter firmado um acordo de delação premiada e não subiu ao palco. Já Paulo Okamoto, que presidiu o Instituto Lula, passou algum tempo ao lado de Vaccari e depois subiu.

Atrás do palco, e tão vip quanto o camarote, ficava a coxia – de onde a piauí acompanhou o comício. Por lá entravam os convidados mais ilustres, incluindo os próprios candidatos. Para ingressar no local, era preciso uma pulseira ainda mais singular. Apenas as equipes de apoio dos candidatos estavam autorizadas a ficar ali. A área era permeada de agentes da Polícia Federal, incluindo duas viaturas do Comando de Operações Táticas (COT), o grupo de elite da instituição, cujos policiais vestiam uniformes camuflados e portavam fuzis. Naquele local chegariam os carros trazendo Lula e Alckmin, com suas respectivas esposas, e Dilma. Minutos antes da chegada, por volta de 11h30, todos os presentes foram orientados a se reunir no canto esquerdo do local e proibidos de fazer imagens. Como ex-presidente da República, Lula tem direito a escolta permanente. Como candidato a presidente, também. Lula foi classificado pela PF como “risco 5”, o maior grau entre todos os níveis de segurança da instituição, em razão das ameaças que sofre. 

 

A primeira a chegar, às 11h40, foi a ex-presidente Dilma Rousseff. A petista apareceu num veículo prata da Nissan que parou a poucos metros da escada que levava ao palco. Desceu do carro e foi logo recepcionada com um abraço por uma assessora. A despeito da baixa popularidade alcançada no período do impeachment (cerca de 8%), Dilma tem sido saudada com fervor nos atos políticos dos quais participa, no sábado não foi diferente. Quando Dilma deixou a área e subiu em direção ao palanque, quatro veículos SUV blindados pretos se posicionaram em duas filas no acesso ao palco, fazendo um corredor que dificultava que se assistisse à chegada de Lula, já que o carro que o traria pararia justamente em meio à parede de veículos que se formara. Era uma medida de segurança formatada justamente para impedir que pessoas que não estivessem a poucos metros dali pudessem ver o ex-presidente.

Lula e Dilma no comício no Vale do Anhangabaú
Lula e Dilma se abraçam no palco do comício no Vale do Anhangabaú – Foto: Ana Clara Costa

No palco, o líder do MST João Paulo Rodrigues e o petista Paulo Frateschi, amigo de Lula, foram chamados para recepcioná-lo na saída do carro. Mas isso só aconteceria depois que o fotógrafo Ricardo Stuckert, que há mais de vinte anos fotografa Lula, estivesse posicionado para disparar seus flashes. Stuckert acompanha Lula e o fotografa o tempo todo, em suas agendas públicas e privadas. Durante os eventos políticos, somente Stuckert pode fotografar Lula de frente, no palanque. Os demais fotógrafos e cinegrafistas das equipes dos demais candidatos só podem registrar imagens do presidente de costas. Quem filmava o evento naquele dia, de um lugar privilegiado no palco, era a cineasta Petra Costa, diretora do documentário Democracia em Vertigem, sobre o impeachment de Dilma, e que concorreu ao Oscar de Melhor Documentário em 2020.

Ao chegar, Lula também recebeu os cumprimentos do advogado Marco Aurélio de Carvalho, um dos líderes do grupo Prerrogativas, e que ajudou a organizar o ato do dia 11 de agosto no Largo de São Francisco. Ao chegar no palco, um dos primeiros a receber um abraço do petista foi o ex-senador tucano Aloysio Nunes, ministro de Michel Temer e apoiador do impeachment, que hoje declara apoio a Lula a despeito da decisão de seu partido de integrar a candidatura de Simone Tebet, do MDB. O partido de Tebet também tinha um representante no palanque: o advogado e professor Gabriel Chalita, um dos responsáveis pelo acordo que selou a aliança entre Lula e Alckmin. Entre os familiares de Lula, estavam presentes apenas a esposa Janja, que tem papel de destaque puxando o coro de uma das músicas da campanha, e uma de suas noras. Nenhum filho comparecera. 

Depois da chegada do ex-presidente ao palanque, todo o esquema de segurança mudou. Os auxiliares que antes podiam ficar na coxia, atrás do palco, ainda que concentrados de um lado só, tiveram de ser removidos – e ali permaneceriam apenas os agentes da PF responsáveis pelo plano de evacuação, caso ocorresse qualquer incidente. Não poderia haver obstáculos caso a retirada do petista se fizesse necessária num ambiente de tumulto.

Enquanto Lula discursava, já na parte final do ato, um dos seguranças à esquerda do palanque avistou um homem suspeito que parecia portar uma arma e estava localizado na escada de acesso às cadeiras reservadas para convidados na área vip. O segurança imediatamente informou uma das agentes da PF sobre o indivíduo, que ele descreveu como tendo “cabelo batido”, e que tinha o campo de visão livre para onde estava Lula. Os agentes imediatamente foram averiguar, num ambiente que rapidamente se tensionou. Mas bastaram alguns minutos para se perceber que era alarme falso. O “suspeito”, na verdade, era segurança da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol), que tem recebido ameaças. Embora um dos agentes tenha afirmado à piauí que o homem estaria armado, a assessoria do ex-presidente negou a informação, dizendo que era proibido entrar armado no local, onde só se ingressava depois de passar por detectores de metais.

Ao final do evento, Lula se dirigiu à sua casa, no bairro de Alto de Pinheiros, com Janja, enquanto Fernando Haddad foi celebrar o comício com amigos no restaurante Lellis, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Outros correligionários, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede) e o apresentador Chico Pinheiro, hoje integrante da campanha, foram até o Boteco Belmonte, na Vila Madalena. Já o fotógrafo Ricardo Stuckert aceitou o convite do MST para comer uma feijoada ali por perto. Estava cansado de área vip.