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    12 anos de escravidão CO

questões cinematográficas

Erros e acertos

Segundo meu amigo Nilton, 12 anos de escravidão “é um dos filmes mais insidiosos da história recente. E como o diretor é negro, ninguém tem coragem de dizer o que grita aos céus: fita safada, conservadora e obscena”. Em compensação, para o Nilton A grande beleza é um bom augúrio para 2014.

Curiosamente, dias depois de receber por e-mail esses comentários do Nilton, os correspondentes estrangeiros que trabalham em Hollywood premiaram 12 anos de escravidão e A grande beleza com o Globo de Ouro, um eleito melhor filme dramático, o outro melhor filme em língua estrangeira.

| 20 jan 2014_11h08
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Segundo meu amigo Nilton, “é um dos filmes mais insidiosos da história recente. E como o diretor é negro, ninguém tem coragem de dizer o que grita aos céus: fita safada, conservadora e obscena”. Em compensação, para o Nilton A grande beleza é um bom augúrio para 2014.

Curiosamente, dias depois de receber por e-mail esses comentários do Nilton, os correspondentes estrangeiros que trabalham em Hollywood premiaram 12 anos de escravidãoA grande beleza com o Globo de Ouro, um eleito melhor filme dramático, o outro melhor filme em língua estrangeira.

Diante da minha perplexidade com o fato do mesmo júri premiar dois filmes que o Nilton considera tão desiguais, perguntei qual é a explicação, mas ele não soube me responder. De qualquer modo, ao contrário do que o Nilton previu, há quem tenha levantado a voz para denunciar 12 anos de escravidão.

Escrevendo no site cityArts, em outubro passado, o crítico nova iorquino Armond White [foto ao lado] arrasou o filme. Segundo White, em 12 anos de escravidão “brutalidade, violência e miséria se confundem com história”. 

“Para [Steve] McQueen”, White escreve, “crueldade é a parte suculenta; ela dá seguimento ao interesse do realizador em mostrar sado-masoquismo, enfatizado nos seus filmes anteriores Hunger e Shame. Brutalidade é o forte de McQueen. Assim como sua experiência nas artes visuais, os filmes de McQueen parecem instalações: as histórias são sempre abstraídas para formar uma série de eventos perturbadores e chocantes.”

White foi acusado de ter sido impertinente no recente jantar em que McQueen foi premiado pela Associação de Críticos de Cinema de Nova Iorque. Apesar de negar a acusação e de não ter sido ouvido, na segunda-feira passada (13.1.2014), White foi expulso da Associação da qual foi presidente três vezes.

A sorte do Nilton é não ser crítico de cinema.

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A Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, a julgar por seus representantes que sobem ao palco todo ano na cerimônia de premiação, reúne tipos bizarros, o que não afeta seu prestígio com a comunidade cinematográfica e com a imprensa de países, como o Brasil, que dão mais atenção do que deveriam ao Globo de Ouro, transformando-se em verdadeiros propagandistas do cinema americano (e cá estamos nós, falando dele).

Apesar da bizarrice dos membros da Associação e da vulgaridade da festa de premiação, repetida mais uma vez na semana passada, entre erros e acertos gritantes, talvez as decisões menos controvertidas tenham sido as premiações de Breaking Bad e Bryan Cranston, como melhor série dramática e melhor ator em série dramática.

Breaking Bad, criada por Vince Gilligan, é, de fato, excepcional. E Bryan Cranston, à frente de um admirável conjunto de atores, cria um grande personagem. Não é à toa que, num gesto raro, Anthony Hopkins mandou uma carta de fã para Cranston que vale a pena ler

Depois de uma maratona na qual assistiu às seis temporadas da série em duas semanas, Hopkins escreveu: “Sua performance como Walter White foi a melhor atuação que já vi – desde sempre. […] Esse seu trabalho é espetacular – absolutamente deslumbrante. […] Você e todo o elenco são os melhores atores que jamais vi.”

Diante de tais encômios, o que haveria a acrescentar?

Quanto ao festejado A grande beleza, vencedor do Globo de Ouro, e indicado ao Oscar de melhor filme não falado em inglês, além do Nilton outras pessoas respeitáveis, para meu espanto, também gostaram muito.

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Da primeira vez que assisti, A grande beleza me pareceu complacente e forçado ao insistir na busca do inusitado. Da segunda vez, ficou mais clara a principal razão do meu incômodo – é um filme sem senso de medida, o que mina pela base o ambicioso projeto de Paolo Sorrentino. Se a Itália a partir de Berlusconi também se tornou excessiva, isso não serve para justificar a redundância de A grande beleza, filme repetitivo, sobrecarregado de bons personagens, além de situações e conflitos interessantes.

O eclético Nilton gostou muito também de Frozen – uma aventura congelante, programa ideal para o verão carioca. 

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