Em maio, a escritora brasileira Natalia Timerman embarcou para a Noruega com o objetivo de visitar os locais descritos por Karl Ove Knausgård em seu Minha Luta, um romance autobiográfico. Publicada em seis volumes, a saga pessoal é “quase sem enredo, praticamente a escrita de uma vida comum que passa”, descreve Timerman em seu diário de viagem, na edição deste mês da piauí.
“Eu esperava a edição do próximo volume da série como uma adolescente espera uma carta de amor”, observa a escritora. “Aqueles personagens – que existiam na realidade, pois Knausgård escreve sobre o que viveu – pareciam parte não da vida dele, mas da minha. Eu sentia que os reconheceria se os encontrasse na rua, e sentia que as próprias ruas do livro eram minhas velhas conhecidas.”
Durante a viagem, Timerman se depara com paisagens, locais e pessoas que fizeram parte do passado de Knausgård. Na cidade de Tromøya, para onde vai com um amigo, encontra Martha e Ola-Jan Prestbakmo, pais do melhor colega do escritor na infância. “Sentimos, ambos, o privilégio de um encontro verdadeiro, muito mais que com dois personagens de livro, e fica claro de repente que eu estou buscando uma infância que não é minha, mas que faz sentido como se fosse”, ela escreve.
Seu trajeto é também uma reflexão sobre a literatura de Knausgård. “Talvez o projeto dele seja a tentativa de junção desses dois mundos, a ficção e a realidade, o que minha viagem constatou que não acontece”, escreve Timerman. “Pois não importa com quanta minúcia ele descreva um parque, uma floresta, um céu, as palavras não conseguem diminuir a distância entre a realidade e o que se prova cada vez mais ficção, talvez só a atestem. A comunhão que a literatura oferece é a incomunicabilidade, a solidão.”
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