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Faróis e faroletes

A pedido de Carlos Alberto Mattos, indiquei há algumas semanas dez filmes que, nas palavras dele, “considero mais importantes na formação do meu olhar de cineasta”. Seriam meus faróis do cinema, nome da série que ele começou a publicar em 2007.

Por coincidência, dias depois de ter mandado minha lista, estive com o Carlos Alberto Mattos e ele me perguntou por que não há nenhum filme brasileiro nos meus faróis.

| 08 jul 2013_16h04
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A pedido de Carlos Alberto Mattos, indiquei há algumas semanas dez filmes que, nas palavras dele, “considero mais importantes na formação do meu olhar de cineasta”. Seriam meus , nome da série que ele começou a publicar em 2007.

Por coincidência, dias depois de ter mandado minha lista, estive com o Carlos Alberto Mattos e ele me perguntou por que não há nenhum filme brasileiro nos meus faróis.

Confesso que a exclusão não foi deliberada e tive dificuldade, na hora, para responder. Desde então tenho tentado entender essa ausência.

Meu critério foi escolher filmes que vi pela primeira vez há poucos anos e que me indicaram caminhos interessantes. É claro que nos meus longínquos anos de formação há títulos que me atrairam de forma irresistível para o cinema, como Deus e o diabo na terra do sol, por exemplo. Mas nos últimos 20 anos, devo admitir que não tive nenhuma experiência sequer remotamente parecida à da primeira visão do filme de Glauber Rocha, em abril de 1964, nem à propiciada, a menos tempo, pelos filmes estrangeiros que indiquei como meus faróis.

Em meio às tempestades e à escuridão, faróis sinalizam a aproximação de terra firme ou de penínsulas, ilhas, formações rochosas etc. que podem pôr navios em risco e provocar naufrágios.

Mas, no cinema, faróis não protegem os navegadores dos riscos inerentes à atividade. Para quem está a bordo, o naufrágio parece sempre iminente. O espectador até pode ser atraído pela catástrofe, e se sentir solidário, desde que esteja em lugar seguro – em terra firme ou na plateia.

Entre afundar ou se agarrar a uma prancha, não há alternativa. “É preciso estar pronto para ser levado indefinidamente pelo mar, sem pensar em aterrisagens e portos" seguros, nos ensina Hans Blumenberg (Shipwreck with MetaphorParadigm of a Metaphor for existence. Cambridge & London, The MIT Press, 1997. p.73 [primeira edição alemã de 1979]).

É claro que há filmes brasileiros que animam a persistir. Incluiria entre eles alguns títulos do Cao Guimarães, além de O prisioneiro da grade de ferro (2003), de Paulo Sacramento; Cinema, aspirinas e urubus (2005), de Marcelo Gomes; Pan-cinema permanente (2008), de Carlos Nader; Praça Saens Peña (2008), de Vinícius Reis; Entre a luz e a sombra (2009), de Luciana Burlamaqui; Corumbiara (2009), de Vincent Carelli; Diário de uma busca (2010), de Flavia Castro; Terra deu, terra come (2010), de Rodrigo Siqueira, e Elena (2012), de Petra Costa, entre outros – todos, a meu ver, belíssimos faroletes.

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