Havana e a euforia da vitória
A vitória da Revolução Cubana em 1º de janeiro 1959 trouxe uma imensa euforia, não só, naturalmente, para os revolucionários como também para a maior parte da população de Cuba, cansada de uma sucessão de governos incompetentes e da ditadura do coronel Fulgencio Batista, que chegara ao poder com um golpe militar em 1952 e que Fidel Castro e seus companheiros acabavam de derrubar.
A vitória da Revolução Cubana em 1º de janeiro 1959 trouxe uma imensa euforia, não só, naturalmente, para os revolucionários como também para a maior parte da população de Cuba, cansada de uma sucessão de governos incompetentes e da ditadura do coronel Fulgencio Batista, que chegara ao poder com um golpe militar em 1952 e que Fidel Castro e seus companheiros acabavam de derrubar.
Fora de Cuba, era também ampla a simpatia internacional em favor de um movimento liderado por jovens idealistas, que haviam pegado em armas contra uma ditadura liderada por um militar corrupto. Somente setores mais conservadores – que temiam o alinhamento com a União Soviética, que de fato ocorreu – assim como o governo dos Estados Unidos, reagiram com mais cautela. Qualquer que fosse o espectro ideológico, ninguém imaginava que o governo Castro durasse mais de cinquenta anos e se transformasse também ele em uma sangrenta ditadura.
O documento aqui reproduzido cristaliza o momento de profunda alegria e entusiasmo que seguiu-se à queda de Havana em 1º de janeiro. A carta original é assinada por José (“Pepe”) Figueres Ferrer ex e futuro Presidente da Costa Rica, então um dos líderes de esquerda mais respeitados do Continente. No dia seguinte à vitória dos insurgentes cubanos, Figueres entregava esta carta de recomendação a um jornalista seu amigo para apresentá-lo aos protagonistas da Revolução, dos quais vários eram também amigos e admiradores do político costarricense.
Em vez de simplesmente deixar a carta com Fidel, o jornalista Lucio Ranucci decide coletar nela várias mensagens dirigidas à Figueres e redigidas às pressas pelas principais figuras da Revolução em meio ao frenesi das comemorações pela vitória. Ranucci pretendia retribuir assim à gentileza da apresentação de seu amigo, trazendo de volta uma “resposta” à sua carta, ? que Figueres não esperava e que certamente terá recebido com grande prazer.
Assim, em 4 de janeiro, Che Guevara, que acabara de chegar a Havana escreve:
“Para o democrata que transformou sua palavra em ação no apoio à liberdade da América.”
No dia seguinte, 5 de janeiro, é a vez de Fidel escrever desde Santa Clara, onde o jornalista Ranucci fora encontrá-lo enquanto este dirigia-se à Havana, onde só chegou em 8 de janeiro:
“Uma saudação em meio ao triunfo para nosso amigo Jose Figueras, que desejo ver em breve para agradecer-lhe por sua ajuda e estreitar ainda mais a união dos democratas da América.”
Outros líderes de menor expressão, ? alguns dos quais tornaram-se mais tarde inimigos ferrenhos de Fidel, como José Pardo Llada ou Pedro Luiz Dias Lanz, comandante da Força Aérea, ? também assinam suas mensagens. No verso, figura o texto daquele que foi sem dúvida o maior herói “romântico” da Revolução Cubana, Camilo Cienfuegos, ? de nome predestinado ? cuja morte prematura aos 27 anos, num acidente aéreo, só fez aumentar-lhe a aura:
“Senhor José Figueras, nesta hora da vitória, abraçamos a todos os homens democráticos da América, e entre estes grandes homens que tem defendido as liberdades dos povos hispano-americanos encontra-se você, a quem dedicamos nosso respeito, nosso afeto e nossa gratidão. Liberdade ou Morte.”
De volta à Costa Rica, o jornalista Ranucci presenteou a carta acrescida das oito mensagens a “Pepe” Figueres. Cinqüenta anos mais tarde, algum de seus descendentes a ofereceu em leilão nos Estados Unidos, ? justamente o país que mais combateu o regime cubano e no qual vive o maior número de refugiados da Ilha ? onde foi comprada pelo atual detentor.
Este documento único, que contém as assinaturas dos três mais famosos líderes da Revolução que mais entusiasmou (e mais tarde decepcionou) o Continente, captura como poucos o espírito do movimento, na pressa e na alegria quase infantil de seus primeiros dias.
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