17jan2013 | 20h14 | Hieroglifos

RESULTADO DO COCUDUC II

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TERESINA – É com grande júbilo que anunciamos haver recebido mais de quatro dúzias de argutas interpretações acerca dos sentidos latente, virtual, flutuante e manifesto da crítica cinematográfica em análise. A plêiade de exegeses foi, de fato, notável. Um leitor de Boipeba (BA) acreditou ter visualizado a cor índigo nas entrelinhas do texto. Outro, de Ivolândia (GO), decerto escrevendo sob o efeito de substâncias não autorizadas pelo Código Penal, asseverou que, ao reler pela centésima vez a passagem, viu-se atravessando um monólito que pousara em sua sala de estar, à moda do enigmático filme de Kubrick. E no preciso momento em que pomos no ar o anúncio do vencedor, a polícia de Rondonópolis (MT) procura duas senhoras que saíram às ruas desorientadas depois de se atirarem, com notável desassombro, à dura tarefa aqui proposta. Que sejam logo encontradas, são os nossos sinceros votos.

O vencedor Victor José de Souza Teodoro, de São Paulo, ganhou o cobiçado Pinguim Hermeneuta ao conjugar eloquência, clareza e respeito à obra intelectual alheia. "Sangrentos, já que vulcânicos, são os campos de antanho mostrados", rapsodiou, para depois sublinhar: "Penso que só um crítico versado na arte dos cinzeis e medições sísmicas seria capaz de tamanho abalo nas sólidas camadas construídas pelo diretor para intrujar os incautos e leigos espectadores, portanto quero deixar registrado todo meu respeito".

Eis o texto completo.

A análise mais detida do argumento arqueológico – e por que não dizer, antropológico? – nos leva, penso que claro está, a uma odisseia pelas origens primevas das massas tectônicas. Tarantino emerge vulcanicamente das profundezas da América e traz em seu bojo toda uma dialética distribuída em camadas minerais e seminais que se sedimentam derradeiramente numa poética que, portanto, se faz arqueológica. Os ardis da política e da sociologia moderna nos escondem o fato de que só uma força da natureza com origens tão profundas poderia criar a malha fenomenológica necessária à razoável apreensão da formação histórica de tamanho pandemônio. Sangrentos, já que vulcânicos, são os campos de antanho mostrados, como elucida o crítico, no Tarantino do milênio, que como uma artéria pulsante e recentemente aberta flui sem nenhuma conexão temática rumo à morte certa da compreensão.

Como único ente capaz de trazer de volta alguma luz hermenêutica ao caos geológico de Tarantino, Waltz surge como um quase Proust, trazendo de volta memórias caudalosas de um tempo já ido, mas que, sub-repticiamente, ainda pulsa. Penso que só um crítico versado na arte dos cinzéis e medições sísmicas seria capaz de tamanho abalo nas sólidas camadas construídas pelo diretor para intrujar os incautos e leigos espectadores, portanto quero deixar registrado aqui todo meu respeito.