Hearsay of the Soul
Herzog e a janela no Getty Center
Além da luz do sol refletida no Pacífico, até o início do inverno, indo ao Getty Museum, em Los Angeles, entre outras atrações há para ser vista uma nova faceta do prolífico Werner Herzog e uma exposição dedicada à janela na fotografia.
Andarilho, diretor, ator e palestrante itinerante, o polivalente Herzog expõe sua primeira instalação em vídeo – Hearsay of the Soul, feita em 2012 por encomenda da Bienal do Whitney e adquirida pelo Getty.
Além da luz do sol refletida no Pacífico, até o início do inverno, indo ao Getty Museum, em Los Angeles, entre outras atrações há para ser vista uma nova faceta do prolífico Werner Herzog e uma exposição dedicada à janela na fotografia.
Andarilho, diretor, ator e palestrante itinerante, o polivalente Herzog expõe sua primeira instalação em vídeo – , feita em 2012 por encomenda da Bienal do Whitney e adquirida pelo Getty.
Depois de vencer sua relutância inicial em aceitar a encomenda dizendo ser “um soldado, não um artista”, ao apresentar a instalação em texto afixado na entrada da sala do Getty onde está sendo projetada, o despudorado Herzog não hesita em exprimir o fugaz desejo de que as imagens dos seus próprios filmes possam “dançar” com as de Hercules Segers – pintor e gravador holandês que teria vivido aproximadamente de 1589 a 1638. Segundo Herzog “um eco distante [das paisagens de Segers] ressoa em alguns momentos do seu próprio trabalho”, o que ocorre, de fato.
As gravuras de Segers acima, que nas palavras de Herzog são “rumores da alma”, alternam-se por 18 minutos em cinco telas, lado a lado, sendo três frontais e duas laterais em ângulo reto. A sucessão de imagens funde-se com a música de Ernst Reijseger, também holandês, nascido em 1954, que compôs a trilha de Caverna dos sonhos perdidos (2010), de Herzog. Em , porém, a música não acompanha apenas as imagens em off. Vemos Reijseger tocando cello em cena, assim como o organista por breves momentos, a imagem do violoncelista tendo presença visual equivalente à das gravuras. Para Herzog, “os êxtases de Segers e Reijseger se metamorfoseam uns nos outros”, fazendo da instalação um réquiem para um planeta moribundo.
Entre as altas pretensões de Herzog e a instalação em si, porém, a distância é cósmica. O que há de mais interessante em Hearsay of the Soul acaba sendo a tentativa do seu autor de dar aparência profunda ao que não passa de uma banalidade. Isso, sem mencionar a impropriedade de reproduzir em vídeo, e projetar ampliadas, gravuras do século dezessete, prejudicadas pela falta de definição decorrente.
•
Boulevard de Strasbourg, 1912, Eugène Atget, cópia em prata gelatin. The J.Paul Getty Museum, 90.XM.64.20
Reunindo 52 fotografias registradas entre 1844 e 2009, a maioria pertencente à coleção do Getty Museum, a exposição At the Window: The Photographer’s View é completada e enriquecida pelo livro The Window in Photography, da curadora assistente do museu, Karen Hellman, que traz 27 fotografias adicionais, além das que ilustram o texto, entre elas a placa de estanho na qual Niépce registrou em uma camera obscura, em 1826, a famosa heliografia Vista da janela em La Gras, mais conhecida apenas a partir de 1952 quando a tênue imagem original, quase invisível, pode ser reproduzida fotograficamente.
William Henry Fox Talbot, conforme citação no texto dedicado à exposição publicado no site do Getty Museum, afirmou, em 1829, que “o objeto para começar é uma janela”. Virando sua camera obscura para o interior de uma janela, Talbot registrou os primeiros negativos em papel, em 1835, inaugurando o processo que passou a permitir a feitura de cópias múltiplas a partir de um mesmo negativo original
Ao marco inaugural de Niépce, captado através da janela, soma-se dessa maneira, na exposição, a janela como objeto de observação e também como fonte de luminosidade. André Kertéz, como outros depois dele, reúne na mesma foto – Rue Vavin, de 1925 – a janela como ponto de vista e como objeto.
Além das fotografias estritamente documentais, entre as que são encenadas a série de Shizuka Yokomizo, feita em Londres entre 1998 e 2000, assume como dispositivo a barreira (intransponível?) entre fotógrafo/observador e modelo/observado. O pressuposto de Yokomizo, através de um voyeurismo consentido, é de reduzir ao mínimo a interação entre ela e quem é fotografado. Através de uma carta anônima enfiada debaixo da porta de apartamentos, dirigida ao “caro desconhecido”, ela se apresentava dizendo que gostaria de tirar uma foto do destinatário na janela, de frente para a rua, à noite. Caso aceitasse, pedia para que a pessoa ficasse durante 10 minutos olhando para fora em um dia e hora marcados. O único contato, essencial para o projeto, era feito pelo olhar entre pessoas desconhecidas no momento da foto ser feita. A quem não quisesse participar, Yokomizo pedia apenas que fechasse a cortina.
•
As fotografias expostas no Getty, reproduzidas no livro que acompanha e completa a exposição, prenunciam o ponto de vista privilegiado que a janela ocupa no cinema, em filmes de Hitchcock (Janela indiscreta), Michael Powell (A tortura do medo), Perlov (Diário), Kieslowski (Não amarás), Cao Guimarães (Da janela do meu quarto), Kossakovski (Tishe!) etc.
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí