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Hipótese Escorel

Após ler o post de Eduardo Escorel motivado por um debate sobre cinema brasileiro em Porto Alegre, o crítico Jean-Claude Bernardet escreveu-lhe: “Aceito tudo o que você escreve, não me sinto em contradição com você. No entanto, seu texto me deixa insatisfeito, porque eu sinto no teu texto como nos meus que estamos girando em torno de algo que não sabemos o que é, ou preferimos não saber.” 

| 17 jun 2013_12h25
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From: Jean Claude Bernardet
Date: Wed, 12 Jun 2013 17:01:19 – 0300
To: ‘Eduardo Escorel’
Subject: Hipótese Escorel

Acabo de ler o q vc postou no seu blog após POA. E me deu vontade de te escrever. Aceito tudo o q vc escreve, não me sinto em contradição com vc. No entanto, seu texto me deixa insatisfeito (embora o ache útil por revelar um esforço para pensar), porque eu sinto no teu texto como nos meus q estamos girando em torno de algo q não sabemos o q é, ou preferimos não saber.

O q eu sinto, Escorel, é q nossa forma de pensar é velha, não está em sintonia com a realidade, não nos ajuda a pensar a situação nem a agir. A começar pelo fato q a forma desse pensamento é um binômio. Por mais q seja uma forma essencial à nossa atual cultura (0-1), não acredito ser uma forma enriquecedora e produtiva de pensar a sociedade. Além do mais, esse binômio se resume essencialmente a cultura/comércio, arte/indústria. Deveríamos perceber q essa forma de pensamento é uma ruína, há mais de meio século Malraux a usava e talvez naquele momento do cinema, do pensamento tenha sido – acredito que sim – um pensamento estimulante, produtivo. Hoje deixou de ser. É falso q um filme autoral, da redoma, seja mais cultural q um filme de 5 milhões de espectadores. É falso q a redoma seja detentora da melhor cultura, da cultura mais cultural, q a redoma saiba melhor q os de fora o q é a cultura. 

Postei um pequeno texto q me disseram Marisa Leão leu em público. Estou preparando com Roberto Moreira artigo em que há uma frase de apoio à Riofilme. Filmo com Kiko Goifman, 2 atores num apartamento e não há dinheiro para mais. Filmo atualmente com Taciano Valério na minha casa, com equipe de 3 pessoas. Produzo um filme com um cara q está absolutamente contra a Riofilme e vê com horror a possibilidade de Haddad criar uma SPfilm no mesmo modelo, até participei de uma reunião em q esse horror foi expresso.

E no entanto, Escorel, não me sinto em contradição comigo mesmo, não sou anarquista, não me sinto confuso, não me sinto desconexo. Eu diria q me sinto complexo numa sociedade complexa num cinema complexo. Eu sei q essa palavra – complexidade – é uma facilidade, é por enquanto uma facilidade – até conseguirmos torná-la produtiva no pensamento e na ação. E isso é outro binômio a ultrapassar: eu penso trabalhando com uma equipe de 3 pessoas e ajo postando um texto sobre . [referência ao post publicado por Jean-Claude no blog dele em 9/4/2013. Ver transcrição abaixo]

Não penso q seja útil pensar q O som ao redor e O Dia q durou 21 anos sejam 2 filmes da redoma, ou dois filmes autorais, ou seja, botá-los numa mesma categoria, porque isso nos impede de perceber as suas especificidades como obras, como linguagem, como funcionamento social.

Haveria tanta coisa ainda a se dizer, de forma assim hipotética, errática.

O q poderia ser a irrelevância num dos seus aspectos? Acho q Tata e eu pensamos q pelo menos uma das facetas da irrelevância é uma produção desgarrada de um momento social e político imediato, e falar diretamente, sem circunvoluções (o q seria o pós-Hoje), agarrado ao presente quente. Com certeza não é A resposta, mas é uma possibilidade de resposta. Com o q estamos produzindo agora, corremos o risco de quebrar a cara, de não conseguirmos realizar os projetos que estamos deslanchando. Gostaria de pensar q o risco de quebrar a cara (e a várias maneiras de quebrar a cara) é uma forma de pensar-e-de-agir.

Enfim, Escorel, foi o q seu texto me inspirou, primeiro jato, nem releio

Abração
jcb

*

DE PERNAS PRO AR 2, Jean-Claude Bernardet

Após acalorada discussão em torno de DE PERNAS PRO AR 2, venho a público manifestar minha esperança de que as gentes bem pensantes, os intelectuais, os artistas, os autores, os poetas e outros de gosto requintado, não caiam na mesma burrice dos anos 50. Foi preciso esperar a morte da chanchada para que a elite percebesse que Oscarito e Grande Otelo eram grandes atores, e que CARNAVAL ATLANTIDA era um filme político.

De pernas pro ar 2 é um filme atual que trata de problemas que angustiam boa parte da classe média como: o trabalho da mulher, a relação da mulher que trabalha com o marido, os filhos e a casa, o stress da mulher executiva que estressa os homens, o péssimo estado da telefonia celular no Brasil e também o celular como adição, a exportação de produtos manufaturados brasileiros etc.

Se o filme não abordasse comicamente questões do seu interesse, o público não teria sido tão numeroso.

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PS. Comentarei amanhã o e-mail do Jean-Claude. EE 

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