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João Cabral contabiliza seus versos

João Cabral de Melo Neto, certamente o maior poeta brasileiro de sua geração, notabilizou-se pela concisão e a busca da palavra precisa. Odiava a verborragia da poesia parnasiana que, segundo ele, lhe “dava nojo” e o havia afastado do fazer poético na juventude. Até descobrir, com Manuel Bandeira e Mário de Andrade, que a poesia não precisava ser como a de Olavo Bilac.

Manuel Bandeira era seu primo e o ajudou no início da carreira, mas seus estilos eram diversos. Cabral praticava um “lirismo de subtração” na feliz expressão do crítico Antonio Carlos Secchin, que criou também a idéia da “poesia do menos” para definir a obra de Cabral. Ainda que admirado por seu perfeccionismo e economia de palavras, um documento privado do poeta, reproduzido nesta página, surpreende ao mostrar que também a quantidade e não somente a excelência importava para João Cabral.

| 17 abr 2012_15h49
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João Cabral de Melo Neto, certamente o maior poeta brasileiro de sua geração, notabilizou-se pela concisão e a busca da palavra precisa. Odiava a verborragia da poesia parnasiana que, segundo ele, lhe “dava nojo” e o havia afastado do fazer poético na juventude. Até descobrir, com Manuel Bandeira e Mário de Andrade, que a poesia não precisava ser como a de Olavo Bilac.

Manuel Bandeira era seu primo e o ajudou no início da carreira, mas seus estilos eram diversos. Cabral praticava um “lirismo de subtração” na feliz expressão do crítico Antonio Carlos Secchin, que criou também a idéia da “poesia do menos” para definir a obra de Cabral. Ainda que admirado por seu perfeccionismo e economia de palavras, um documento privado do poeta, reproduzido nesta página, surpreende ao mostrar que também a quantidade e não somente a excelência importava para João Cabral.

Nesta página comovente, Cabral faz uma curiosíssima estatística intitulada . Na pequena folha de papel, o grande poeta contabiliza os versos presentes em cada um de seus livros desde os modestos 295 da Pedra do Sono até os generosos 1.548 de Quaderna, passando pelos 1.233 do famoso Morte e Vida Severina. No total, em 16 livros, João Cabral conta 13.298 versos. (Outro documento anterior também sobreviveu em que Cabral adiciona o número de versos, e atualiza a sua contagem com correções a lápis).

Esses papéis foram guardados por sua família e fizeram parte de um leilão de seus livros e de alguns manuscritos organizado no Rio de Janeiro pouco depois de sua morte, ocorrida em 1999. Seus herdeiros somente autorizaram o leilão, pois esperavam que uma instituição cultural exercesse uma prerrogativa prevista no regulamento, que permitia sobrepor-se aos arrematantes individuais exercendo o direito de reunião de todos os lotes leiloados. Isso não ocorreu, e acabaram, portanto, dispersadas entre colecionadores apaixonados e admiradores de João Cabral várias peças curiosas ou importantes que pertenceram ao grande poeta.

Naquela noite, seu atual detentor adquiriu este documento, uma das mais inesperadas e fascinantes entre as páginas produzidas pelo grande escritor.

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