O segundo turno das eleições municipais veio para sacramentar o revés da esquerda brasileira e a força do Centrão. Os grandes partidos da centro-direita tiveram a maior taxa de sucesso na segunda fase do pleito, enquanto o PT, expoente histórico da esquerda, perdeu força. No primeiro turno, o partido havia conquistado 179 cidades – a maior delas tinha apenas 230 mil habitantes. Esse resultado foi pior que o de 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff. A esperança de levar uma capital ou um município de grande porte ficou para o segundo turno. Mas das quinze disputas que protagonizou, o PT só levou quatro – foi derrotado em 73% das cidades.
Em 2021, o maior município governado pelo partido será Contagem (MG), que tem pouco mais de 660 mil habitantes. O péssimo resultado nas capitais, anunciado no primeiro turno, também se confirmou no segundo turno: o partido perdeu em Vitória e Recife, as únicas onde ainda tinha chance, e ficou sem nenhuma capital, fenômeno que nunca aconteceu desde a redemocratização. O PT ainda perdeu cidades importantes, como Feira de Santana (BA), Vitória da Conquista (BA) e São Gonçalo (RJ), que tem o segundo maior eleitorado do estado. Neste ano, a lógica do mata-mata, onde um candidato enfrenta diretamente o outro, ecoou os resultados do primeiro turno e favoreceu a onda do Centrão.
O DEM venceu em cinco das oito disputas e chegará a 2021 no comando de 464 cidades, com o segundo maior eleitorado deste pleito. No ano que vem, o partido passará a comandar 198 municípios a mais do que tem hoje. “O DEM acabou trazendo para si muito da expectativa da direita”, avalia a cientista política Soraia Vieira. “E eles fazem isso com discurso de política tradicional, diferente do que foi o PSL.”
A eleição de Eduardo Paes no Rio de Janeiro consagrou o partido como uma das principais forças políticas desta eleição, já que a capital carioca era a segunda maior cidade em jogo neste segundo turno. Na entrevista coletiva que deu após a notícia da vitória, Paes discursou ao lado de Rodrigo Maia, líder da Câmara e integrante do mesmo partido. “[Esta] foi uma vitória da política”, disse. De fato, estas eleições marcaram a força da política profissional – e a volta do DEM ao centro do jogo político. Somando todas as cidades onde o partido ganhou, mais de 32,4 milhões de brasileiros viverão sob o comando da legenda a partir do ano que vem.
Mas o grande vitorioso deste domingo é o MDB, que levou dez das doze cidades onde disputava. O partido perdeu apenas em Maceió e João Pessoa. Apesar de ter diminuído sua penetração nos municípios brasileiros, a legenda conquistou quatro capitais neste segundo turno. Entre elas, Porto Alegre e Goiânia, que somam mais de 3 milhões de habitantes. Na capital gaúcha, o representante do MDB conseguiu desbancar Manuela D’Ávila (PCdoB), que despontou como outra alternativa forte à esquerda e chegou a aparecer na liderança das intenções de voto em algumas pesquisas. Ao todo, os medebistas venceram em cinco capitais, mais que qualquer outro partido. Com isso, a legenda continua sendo a que mais tem prefeitos no Brasil e irá governar, na esfera municipal, quase 15% da população brasileira a partir de 2021.
No balanço da eleição, o PSDB perdeu 283 prefeituras. Mas o segundo turno trouxe um alívio para os tucanos – o partido garantiu sua hegemonia em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, e teve sucesso na maioria das cidades disputadas. Isso dá ao PSDB a maior população governada nas cidades brasileiras – mais de 48 milhões de pessoas. O prefeito Bruno Covas conseguiu se reeleger com folga, mas seu oponente, Guilherme Boulos (PSOL), conseguiu mais de 2 milhões de votos. Mesmo não levando a prefeitura, Boulos e PSOL saem desta eleição com um capital político importante para 2022. O partido conseguiu ainda uma vitória significativa em Belém, capital do Pará.
No campo da esquerda, o PDT foi a única legenda que conseguiu um resultado mais satisfatório neste segundo turno – venceu em três das quatro cidades. Mesmo assim, a centro-direita foi o destaque desta eleição. Republicanos, Progressista e Podemos, representantes do Centrão fisiológico, venceram em pelo menos 60% das cidades disputadas neste domingo. “O Centrão já vinha com essa tendência de aumento desde a eleição de 2016”, analisa Soraia Vieira. Para ela, a fragmentação política ajuda a explicar o aumento da penetração de alguns desses partidos. “Nestas eleições, os partidos que concentravam muitas prefeituras, como o MDB, tiveram que dividir espaço com outras legendas. O Republicanos, por exemplo, é um partido que consegue um enraizamento subnacional muito grande.”
Apesar da derrota acachapante de Marcelo Crivella (Republicanos), candidato do presidente Jair Bolsonaro no Rio, o partido conseguiu se expandir em cidades pequenas e médias e vai comandar 211 cidades a partir do ano que vem. O Republicanos ficou à frente, inclusive, de partidos tradicionais, como o PT. A consolidação de legendas que compõem o Centrão mostra que eles serão a principal base eleitoral de 2022 – e que a partir de agora, mais do que nunca, eles não são uma força a ser ignorada.