piauí
Jornalismo e ação – observadores participantes
Embora tenham começado antes das manifestações de junho, foi no mês passado que as transmissões ao vivo feitas pelo coletivo de mídia NINJA tiveram maior repercussão, e chegaram, inclusive, às páginas da revista piauí de julho (Ronaldo Bressane, “Guerra dos memes”), do Estado de S.Paulo (Camilla Hessel, “No meio do redemunho”, 6 de julho), além, provavelmente, de outras publicações.
Não há dúvida de que essas transmissões, feitas em tempo real na internet, ofereceram pontos de vista alternativos ao ângulo de registro usual das emissoras de televisão. De forma geral, as câmeras das tevês gravam de fora, enquanto as da mídia NINJA o fazem de dentro, a quente, podendo dar a sensação, para quem assiste ao vivo, de estar presente, testemunhando os eventos.
Embora tenham começado antes das manifestações de junho, foi no mês passado que as transmissões ao vivo feitas pelo coletivo de mídia NINJA tiveram maior repercussão, e chegaram, inclusive, às páginas da revista de julho (Ronaldo Bressane, “Guerra dos memes”), do Estado de S.Paulo (Camilla Hessel, “No meio do redemunho”, 6 de julho), além, provavelmente, de outras publicações.
Não há dúvida de que essas transmissões, feitas em tempo real na internet, ofereceram pontos de vista alternativos ao ângulo de registro usual das emissoras de televisão. De forma geral, as câmeras das tevês gravam de fora, enquanto as da mídia NINJA o fazem de dentro, a quente, podendo dar a sensação, para quem assiste ao vivo, de estar presente, testemunhando os eventos.
É verdade que algumas emissoras veicularam gravações enviadas por participantes não-profissionais, na tentativa de suprir suas coberturas frias, feitas à distância – de helicóptero, veículo aéreo não tripulado (VANT) e do alto do terraço de edifícios. Para não expor seus profissionais aos riscos inerentes a situações de conflito, essas televisões tentaram atenuar o anacronismo da sua linguagem jornalística veiculando esses registros amadores, o que não impediu alguns repórteres e fotógrafos de serem vítimas da brutalidade policial. O caso mais dramático é o do fotógrafo Sergio Silva, da agência Futura Press, que perdeu a visão de um olho depois de ter sido atingido por uma bala de borracha.
Com a unidade móvel da mídia NINJA, montada num carrinho de supermercado, surgiu algo diferente que vai além do papel que o observador adquiriu na modernidade – o de ser ele mesmo objeto da sua própria observação. Entre inúmeras representações dessa configuração moderna, bastaria lembrar o Auto-retrato no espelho esférico,litografia de M.C. Escher, impressa em 1935.
Depois de transmitir, durante cerca de quatro horas, a manifestação de 18 de junho, em São Paulo, e de resistir ao gás lacrimogêneo, segundo o relato de Camilla Hessel na matéria do Estado de S.Paulo, o jovem Felipe Peçanha correu atrás de um policial militar que dera ordem para que desligasse a câmera. Xingando-o, tentou conseguir que dissesse seu nome. Felipe teria atribuído “a uma visão ‘antiquada’ as críticas à sua atitude feitas por espectadores para os quais o repórter tem que ser imparcial, sempre”. Felipe redefiniu seu papel: “não estamos cobrindo um ato, estamos nele. As reações do repórter podem ter um efeito importante de denúncia.”
Para o NINJA deste início do século vinte e um, portanto, não se trataria mais de gravar sem interferir, nem de apenas interagir ou de se inserir na observação. O NINJA pretenderia ser, ao mesmo tempo, repórter e participante. Resta saber se será capaz de conciliar os pressupostos dessas duas atividades, uma comprometida em informar, a outra em se manifestar, o que parece romper com o paradigma consagrado da observação jornalística e documental no século passado.
A mídia NINJA quer compartilhar seu testemunho e seu engajamento em tempo real, sem edição. Sendo esse seu objetivo, não parece levar na devida conta que transmissões ao vivo, frias ou quentes, entediantes ou de impacto, tendem a se aproximar umas das outras em pelo menos um aspecto imprevisto – ambas se caracterizam pela dificuldade, para não dizer impossibilidade, do espectador saber o que, de fato, está acontecendo. Num caso, como no outro, falta edição – a seleção, ordenamento e combinação que produzem sentido em toda linguagem. Ao valorizarem a imediatez em nome da urgência, a mídia NINJA ainda tem pela frente o desafio de conseguir fazer “narrativas independentes” que conciliem “jornalismo e ação”.
Nos dias de junho, a mídia NINJA criou um novo canal de informação, graças à coragem, juventude e senso de missão dos seus integrantes. Aguardemos os desdobramentos dessa inovadora experiência.
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