Em maio e junho de 2020, o jornalista e produtor Fernando Henrique de Oliveira cobriu as repercussões do caso George Floyd Jr. para a CNN Brasil. O assassinato do segurança negro por um policial branco nos Estados Unidos desencadeou uma onda de protestos antirracistas, que atingiu diversos países. No decorrer da cobertura, Oliveira – também negro – deu alguns testemunhos sobre os preconceitos raciais que ele próprio sofreu ao longo da vida. Meses depois, a emissora o demitiu por divergências salariais, e o jornalista decidiu processá-la. À primeira vista, parecia uma briga trabalhista convencional. No entanto, quando examinado de perto, o processo se revelava também uma batalha contra o “racismo estrutural” – conceito típico dos nossos tempos e cada vez mais invocado por trabalhadores negros nas relações com as empresas.
A ação judicial, que corre em São Paulo, não acusa nenhuma pessoa física. O único alvo é a CNN. Entre as discriminações raciais que Oliveira atribui à antiga empregadora, está justamente a de lhe pedir os testemunhos pessoais durante a cobertura do caso Floyd Jr. De acordo com o jornalista, ao lhe endereçar uma tarefa como aquela, a emissora se mostrou tão desrespeitosa quanto se tivesse escalado um repórter judeu para acompanhar uma manifestação neonazista e, no meio do protesto, lhe desse a incumbência de evocar as perseguições antissemitas que já enfrentou.
Embora haja relatos frequentes de racismo nas redações brasileiras, processos trabalhistas como o de Oliveira são raríssimos. A Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira), fundada em 2010, desconhece ações similares. “De modo geral, os pretos e os pardos evitam acionar a Justiça quando sofrem preconceito no ambiente de trabalho. Algumas vítimas até processam colegas, mas poucas se rebelam contra as empresas”, diz Valdice Gomes, integrante da comissão. “Os negros enfrentam vários obstáculos para atingir um mínimo de segurança na carreira. Se conseguem furar a bolha, acabam priorizando a empregabilidade. Temem queimar o filme no mercado caso briguem judicialmente com os patrões.”
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