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    Imagem: Divulgação/El Faro

anais do autoritarismo

Jornalistas têm celulares invadidos centenas de vezes por software espião

Repórteres do periódico El Faro, parceiro do ICIJ, estão entre os 35 jornalistas e ativistas hackeados

Brenda Medina | 14 jan 2022_21h23
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Jornalistas que investigam o governo salvadorenho e que trabalharam na denúncia do caso Pandora Papers foram vigiados ilegalmente por um software de espionagem (um spyware) durante mais de um ano, revelou uma análise de cibersegurança. Mais da metade da redação do canal de notícias El Faro, de El Salvador, teve seus celulares invadidos entre julho de 2020 e novembro de 2021 por um spyware que é vendido para governos.

O laboratório de cibersegurança The Citizen Lab, da Universidade de Toronto (Canadá), e o grupo de defesa dos direitos digitais Access Now descobriram que 22 profissionais do El Faro foram espionados 226 vezes pelo spyware Pegasus, vendido pela companhia israelense NSO Group. Entre os hackeados estavam editores, repórteres, membros do conselho de diretores e pessoal administrativo.

El Faro, veículo que se associou ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) no caso Pandora Papers e em outras investigações, relatou que os celulares dos jornalistas foram invadidos nas épocas em que estavam publicando importantes investigações sobre atos do governo. A análise foi conduzida entre setembro e dezembro de 2021. Os investigadores de cibersegurança descobriram que o celular de ao menos um repórter, Carlos Martínez, foi atacado até mesmo enquanto eles realizavam a análise.

Em um editorial, El Faro responsabilizou o governo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pela espionagem. “Entendemos que nosso jornalismo nos colocou em rota de colisão com um presidente que conseguiu adquirir o controle – em alguns casos, ilegalmente – de todas as instituições do Estado, que destruiu todas as vias para os cidadãos exigirem informação pública e que rejeita qualquer verdade que não seja a sua própria e qualquer realidade diferente daquela que o proclama o único intérprete da história nacional”, afirmou o texto.

A repórter Julia Gavarrete, do El Faro, disse ao Comitê de Proteção dos Jornalistas: “Minha primeira impressão foi de choque; suspeitar que você foi espionado não é a mesma coisa que saber de fato. Isso me atingiu não só no nível profissional, mas também no emocional”.

A assessoria de comunicação de Bukele disse à agência Reuters que El Salvador não é cliente do NSO Group e que seu governo está investigando o ciberataque porque algumas autoridades também podem ter sido alvo do software.

Além de El Faro, outros 13 jornalistas e ativistas de El Salvador foram espionados, segundo a análise. Os investigadores explicaram que a operação “sem precedentes” provavelmente custou milhões de dólares. O Citizen Lab e a Access Now disseram em uma reportagem que suas descobertas foram verificadas de forma independente pelo Laboratório de Segurança da Anistia Internacional.

O NSO Group disse que só vende o spyware Pegasus para governos e com a autorização do Ministério da Defesa de Israel, relatou o jornal El País. A companhia disse ao Forbidden Stories que o uso de ferramentas cibernéticas para monitorar dissidentes e jornalistas é uma aplicação errada de “qualquer tecnologia” e não deve ser tolerado pela comunidade internacional.

O NSO Group insistiu que o Pegasus foi desenvolvido para combater o terrorismo e o crime organizado. Mas investigações jornalísticas no ano passado revelaram que o software foi usado por governos para espionar repórteres e críticos.

Em novembro, jornalistas de seis veículos de mídia de El Salvador, incluindo 12 membros da redação de El Faro, receberam um e-mail da Apple advertindo que “atacantes patrocinados pelo Estado” poderiam estar a espioná-los por meio de seus telefones celulares. A Apple enviou a notificação no mesmo dia em que processou o NSO Group.

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Esta reportagem foi publicada originalmente no site do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). A piauí, assim como El Faro, participou do projeto Pandora Papers, liderado pelo ICIJ, que reuniu mais de 600 jornalistas do mundo todo para investigar documentos sobre offshores em paraísos fiscais.

Versão anterior da reportagem dizia que entre os alvos do software estavam jornalistas que investigavam o governo israelense. Eles investigavam o governo salvadorenho. A correção foi feita às 14h de 15/01/2022.

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